Cuiabá, 26 de Abril de 2024

CIDADES Terça-feira, 26 de Março de 2019, 08:30 - A | A

26 de Março de 2019, 08h:30 - A | A

CIDADES / ÚNICA NEWS 300 ANOS

Conheça o linguajar cuiabano, patrimônio imaterial de Mato Grosso

Claryssa Amorim
Única News



(Foto: Mayke Toscano)

Ribeirinho

 

“Agora, quando!?”, “ah! Uuum”, “agora o quequeesse!”, “Tchá por Deus”. Qual cuiabano nunca falou ou ouviu uma dessas expressões e outras? A Capital mato-grossense tem seu próprio linguajar, que se distingue dos falares do resto do país e já é considerado patrimônio imaterial do Estado.

O modo de falar peculiar, com seus fonemas, vocabulário e expressões, passou a ser protegido pelo poder público no dia 22 de abril de 2013, com direito a publicação no Diário Oficial do Estado para evitar o risco de desaparecimento.

Ao Única News, o historiador João Carlos explicou que o falar cuiabano é uma mescla de sotaques indígenas, paulistas e escravos africanos, com predominância do idioma lusitano da região norte de Portugal, na fronteira com a Espanha. Assim, o linguajar nessa região influiu de maneira singular a forma de se expressar dos antigos cuiabanos.

Por conta dos bandeirantes paulistas e portugueses, que fundaram Cuiabá em 8 de abril de 1719, ao chegarem na cidade em busca de riquezas minerais, começou a existir o falar cuiabano à moda antiga.

“A partir dessa data se estabeleceu uma maneira única e atípica de falar no então extremo oeste brasileiro. Essa maneira de falar do povo cuiabano, notadamente o Ribeirinho e de bairros mais distantes, visto que as famílias mais abastadas adquiriram hábitos diferentes, por conta de estarem sempre em viagens ao Rio de Janeiro e Europa, estratificaram-se por conta de isolamento secular”, ressaltou João Carlos.

Entre 1864 a 1870, a grande Cuiabá passou a sofrer influências externas, inclusive, na vinda de migrantes e imigrantes italianos, alemães, árabes, quando reabriu a navegação fluvial pelo Rio da Prata, após a Guerra da Tríplice Aliança.

O fonema e diferentes formas de falar, trazido pelos lusitanos, forjou expressões que passaram a ser usadas somente em Cuiabá e nas regiões de “rio acima” e “rio abaixo” da capital mato-grossense. Para alguns estudiosos, essa forma de falar advém do português arcaico, aquele que é inclinado a trocar o “ão” ao fim das palavras por “on” e, em algumas sílabas, substitui a letra “l” pelo “r”.

O historiador João ainda finalizou a entrevista ressaltando o conhecimento e a aprovação do linguajar cuiabano. Segundo os estudos do professor já falecido da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Willian Gomes, a partir da década de 1990, o modo de falar dos cuiabanos sofreu um “choque cultural”.

“Os nativos passaram a perceber que falavam diferente de outros brasileiros e, ao invés de orgulhar-se do traço local, passaram a rejeitá-lo”.

Para tentar reverter a situação de rejeição pelos próprios cuiabanos, grupos de teatro e musicais e instituições passaram a trabalhar sobre esse tema. Já atualmente, é comum usar, e inclusive se orgulhar, do linguajar cuiabano em comerciais da mídia, como: Ah! Uuum, Pára cô isso, Agora quando, Agora o quequeesse, mas que cabelo mais tchum tchum.

Com esses e outros fonemas, uma segunda professora, Ivana Schäfer, cita que as características fonéticas se destacam na troca de consoante lateral e, a partir daí, alguns estudiosos dizem que o falar cuiabano é uma interação fonológica entre o português e o bororó.

(Foro: Mayke Toscano)

ribeirinhos

 

Conheça um pouco do dicionário cuiabano:

Ah! Uuum - Expressão que indica indignação, concordância ou não. É aplicada dependendo da situação E a entonação da voz muda.
Ex: ‘Ah! Uuum. Pára cô isso.”

Agora quãndo!? – Interjeição de duvida.
Ex: ‘Maria teve três namorado… hummm.. agora quando!?”

Agora o quequeesse! – Espanto
Ex: ‘Agora o quequeesse, mas que cabelo mais tchum tchum…”

Aguacêro – Bastante chuva, poças de água.
Ex: ‘Não deu pra ir lá, tava o maior aguacero na estrada.”

Até na orêia – Repleto, cheio, demais.
Ex: ‘Zé Bico comeu tanto peixe, que tá até na orêia.”

Bejô, bejô, quem não bejô, não beja mais – Fim da festa.
Ex: ‘Acabou o baile… bejô, bejô, quem não bejô, não beja mais.”

Cânháem – Latido de cachorro. Expressão usada para discordar.
Ex: ‘Você namora Maria Taquara? Canháem.”

Cordero (a) – Denominação de quem gosta de dar corda nas pessoas.
Ex: ‘Não vai no papo dele, ele é cordero.”

Corre Duro – Andar mais rapido
Ex: ‘Vamos chegar atrasado vamos, corre duro.”

Cotxá – Relação sexual.
Ex: ‘Os dos devem ta cotxando, ta demorano demas.”

Tchá por Deus – Expressão de espanto, admiração, dúvida.
Ex: Chá por Deus, esse ônibus tá muito cheio. 

Ê aaah! – Indagação.
Ex: ‘Oia o tamanho do short? Ê aaah!’

Espia lá – Olha lá, veja.
Ex: ‘Espia lá, uma batida de carro.”

Jururú – Triste, quieto.
Ex: Padre Luiz Ghisoni tá jururú na porta da igreja de Várzea Grande.

Moage – Frescura. Enrolação.
Ex: ‘Você não quer ir com a gente? Larga de moage!”

Na txintxa – Levar uma ação com seriedade. Sob controle.
Ex: ‘Professora leva a turma na txintxa".

Não tá nem aí pá paçoca – Não liga para nada. Não quer saber das conseqüências.
Ex: Tchá Bina, não ta nem aí pá paçoca. 

Nariz furado – Veio na vontade, veio na certeza.
Ex: ‘Chegou de nariz furado, certo que iria ganhar na conversa’.

Negatófi – Negativo. Não, nunca.
Ex: ‘Negatófi, hodje não tem televisão.’

O quá – Duvidar, não acreditar.
Ex: ‘Ele vem aqui? O quá!’

Podre de chique – Bonito, elegante, bem vestido.
Ex: ‘Jejé tá podre de chique.”

Pongó - Bobo, tolo, idiota.
Ex: ‘Gente Pongó não serve.’

Que, que esse? – O que é isso.
Ex: ‘Que, que esse? Como você apareceu aqui?’

Quá! – Expressão de espanto, indignação.
Ex: ‘Quá! Pode esquecer ele não volta mais.”

Rufar – Bater.
Ex: ‘Se aparecer aqui , o povo rufa ele.’

Refestelá – Sorrir, rir.
Ex: ‘Nico Padero é bom pra refestelá.’

Ribuça – Cobrir o corpo com lençol ou cobertor.
Ex:’Tá esfriando, rebuça menino.’

Rebuça e Chuça – Baile.
Ex: ‘Na guarita vai tê hoje uma chuça e rebuça.’

Tá de tchico – Está menstruada.
Ex: ‘Hoje ela não pode tá de tchico.”

Tchá mãe - Expressão características para xingar alguém.
Ex: ‘Tchá mãe, rapaz, vá tomá na tampa.’

Tóma corno(a) – Expressão usada quando alguma coisa não acontece de forma correta.
Ex: ‘Toma, corno. Marimbondo pegô na cara dele.”

Verte água – Urinar (educadamente) .
Ex: ‘Vidona foi verte água.’

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Sérgio Reis Bezerra Da Silva 20/04/2020

Muito interessante Estou aprendendo muito

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