Cuiabá, 25 de Abril de 2024

COMPORTAMENTO Domingo, 18 de Agosto de 2019, 19:45 - A | A

18 de Agosto de 2019, 19h:45 - A | A

COMPORTAMENTO / AUTISMO

Preconceito, falta de acesso aos direitos e inexistência de políticas públicas são marcantes

Aline Almeida / Revista Única



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Estima-se que no Brasil hajam mais de 2 milhões de autistas. A síndrome neuropsiquiátrica afeta uma a cada 160 crianças no mundo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 70 milhões de pessoas tenham autismo. Apesar de todos os avanços em relação ao tema, ainda carecemos de políticas públicas sobre o autismo.   O transtorno do espectro autista (TEA) ainda continua uma incógnita para a ciência. “Pesquisas mostram que, até o ano de 2025, a cada 45 pessoas nascidas, uma nascerá com autismo, e isso é muito preocupante”, alerta a coordenadora da Ação Azul em Mato Grosso, Juliana Maria Silva Fortes. O desconhecimento sobre o autismo, conhecido cientificamente como

Transtorno do Espectro Autista – TEA, é o principal motivo pelo qual a condição ainda sofre preconceitos e faz com que pais de crianças diagnosticadas com autismo tenham receio pelos filhos. Receber o diagnóstico de autismo de um filho é como embarcar rumo a um universo desconhecido. É preciso encontrar a maneira de aterrissar nesse pequeno mundo em que a criança parece estar isolada. O transtorno, uma espécie de pane do desenvolvimento neurológico, costuma ser identificado pelos médicos entre 1 ano e meio e 3 anos de idade.  

A doença atinge mais meninos – quatro para cada menina - e metade dessas crianças tem ainda algum retardo mental. Muitas vezes são diagnosticadas enfermidades associadas, como convulsões e até epilepsia. Problemas gastrointestinais são igualmente comuns. Como não mostram o que sentem, principalmente a dor, os pais devem ficar de olhos abertos.   Aprender a conviver com o paciente diagnosticado com autismo é uma etapa fundamental para que ele e a família tenham qualidade de vida. Um aspecto determinante dessa possibilidade é conhecer as características do autismo e saber que os sintomas do TEA e o convívio com cada pessoa autista podem ser bastante diferentes. Dificuldades para interação social, dificuldade com a linguagem e comportamento repetitivo e restritivo. Essas são as principais características de quem convive com o autismo. Para identificar o autismo é preciso que os responsáveis pelo cuidado, sejam profissionais, sejam pais e/ou cuidadores, estejam atentos ao desenvolvimento da criança e, quando necessário, busquem atendimento médico especializado que pode ser psiquiatra e/ou neurologista, pediatra.  

Autismo: desafios e diferenciais   Indivíduos com autismo enfrentam problemas no desenvolvimento da linguagem, nos processos de comunicação, na interação e comportamento social. No entanto, quando falamos de um “espectro”, falamos de uma ampla variação. Cada pessoa que recebe um diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista é única. Importante ressaltar que o autismo se manifesta de várias maneiras e nunca é exatamente igual de uma pessoa para outra. Poucas pessoas com autismo não falam, mas compreendem a linguagem plenamente. Apenas são incapazes de comunicar em palavras seus sentimentos em relação ao que estão ouvindo.  

Autistas podem ter dificuldade em interpretar sinais não-verbais transmitidos por outras pessoas, em bater papo ou em compreender a linguagem corporal. Por outro lado, pessoas com autismo muitas vezes superam os outros em tarefas auditivas e visuais e também são melhores em testes de inteligência não-verbais. Pessoas com autismo têm, frequentemente, memórias excepcionais e podem se lembrar de informações que leram semanas atrás.   Os indivíduos com autismo podem possuir a habilidade de concentrar-se fortemente sobre uma só coisa. Isso lhes permite aprofundar-se muito naquilo que desperta seu interesse. Alguns indivíduos se tornam pianistas ou cantores incríveis, graças ao fato de possuírem uma capacidade espantosa de decorar canções e notas musicais.  

 

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“Precisamos avançar em inclusão e capacitação de profissionais para que sejam habilitados a trabalhar com os autistas e supram as necessidades deles”, afirma Geisy Rosa, mãe da autista Duda.

Dificuldades dos autistas   Mãe da pequena Maria Eduarda Rosa, a “Duda”, Geisy Rosa dos Santos diz que, desde os primeiros anos de vida, percebia que a filha não fixava o olhar, que tinha os movimentos estereotipados. Mas o diagnóstico do autismo veio por volta dos três para os quatro anos de vida. “Só que ela tinha multipatologia, então (na época) isso não era tão relevante no momento, quando comparado às crises epiléticas. Eram outras preocupações, pois além do TEA, Duda tem síndrome de West”.  

Geisy conta que a primeira reação foi procurar por orientação médica de como proceder com a Duda. “Todo dia temos um aprendizado diferente, sempre aos poucos, devagar, mas sempre há um progresso diferente todos os dias. E a virtude da paciência em compreendê-la”, frisa.   A mãe de Duda frisa que, sem sombra de dúvidas, as maiores dificuldades que o autismo enfrenta é a barreira do preconceito, da aceitação. Geisy divide dois momentos marcantes da vida na luta contra o autismo. O primeiro foi um evento que reuniu pais, amigos, parentes, médicos e fisioterapeutas para um movimento no cinema de um shopping da Capital, após um ato de racismo. Apaixonada por cinema, Duda, a mãe e a irmã, Fernanda Rodrigues, estavam assistindo a um filme. Nas cenas de ação, a menina se agitava e gritava.   Na ocasião, algumas pessoas começaram a pedir silêncio. Uma delas disse que a menina deveria “voltar para o buraco de onde veio”. A Polícia Militar foi acionada, mas a família da menor não quis registrar ocorrência. Apesar de procurada, a direção do cinema disse apenas que a família deveria acalmar a menina.  

Geisy Rosa ainda ressalta como marcante o fato de ter que ingressar com demanda judicial contra o condomínio em quem vivem, para poder estacionar em uma vaga para PCD.  Em março 2018, Duda também foi vítima de agressão na escola. Até o momento, corre perante a Polícia Judiciária Civil um inquérito para apurar os fatos. A família descobriu, na hora do banho, que Duda estava com o corpo cheio de hematomas. Apesar dos questionamentos, a direção da escola negou que as agressões partiram de lá e que os hematomas foram ocasionados ao remover a criança da cadeira.   Apesar de muitos avanços em relação ao autismo, a família da pequena Duda diz que ela não tem acesso a todos os seus direitos. Sem sombra de dúvidas, a maioria deles são cessados e/ou mitigados. “Ainda não conseguimos tratamento digno com profissionais especializados e suficientemente capacitados que atenda esse tipo de demanda. Atendimento prioritário (seja em fila ou consulta médica) também é relevante mencionar, pois a maioria dos autistas se estressa com barulhos que nos passam despercebidos”.   Uma das barreiras, segundo Geisy a serem rompidas, é a da inclusão. Apesar de ser amplamente visto como algo positivo, não é simples. É delicado, cada criança tem a sua particularidade. Incluir não é apenas inserir essa criança de qualquer modo. “Precisamos avançar em inclusão e capacitação de profissionais para que sejam habilitados a trabalhar com os autistas e supram as necessidades deles”.  

 

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“Ainda hoje, sobressai aquela visão vesga e errada da pessoa autista como sendo uma pessoa sem perspectiva, alheia, dentro de um mundo imaginário e cheio de comportamentos estereotipados. Uma visão errada, que demonstra apenas o preconceito ainda existente”, complementa o juiz Hortêncio Júnior.

Conhecer o autismo   Juiz auxiliar da Presidência do Tribunal Superior do Trabalho, José Hortêncio Ribeiro Junior, é pai de um menino autista. Ele diz que o diagnóstico não é feito por simples exame. É necessário um longo período de observação e uma análise multidisciplinar. “Começamos a perceber os sinais de autismo quando meu filho tinha apenas dois anos de idade. Até então, ele apresentava um desenvolvimento típico. Mas a comunicação e a iteração social sofreram uma sensível redução”.   Hortêncio salienta que também começaram a aparecer interesses restritos e vários outros sinais. “Mas é importante deixar bem claro que não se chega a um diagnóstico de autismo com apenas algumas consultas a neuropediatras ou psicólogos. É necessária uma investigação com critérios e que nos ofereça resultados seguros. No nosso caso, depois de quase um ano de investigação, chegamos ao diagnóstico”.   O primeiro e maior passo é aceitar o diagnóstico, segundo o magistrado. Hortêncio destaca que, com a notícia, todos passaram por um período de luto. “Sonhos mudam o foco. Perspectivas são refeitas. Mas sempre a primeira reação é buscar ajuda. Buscar conhecimento. Saber o que realmente significa o autismo. Inicia-se uma corrida desenfreada por terapias”. Hortêncio diz que ele e a família “pularam” de consultório em consultório. Lotando a agenda dos pequenos com sessões de psicologia, fonoaudiologia, psicomotricidade, psicopedagogia, musicoterapia, ecoterapia e inúmeras outras atividades. “Com o diagnóstico, inicia-se um período de descobertas. É um período de aprendizado. Aprendemos a ter um filho autista e, ao mesmo tempo, aprendemos a ser pais de uma criança autista”.  

O juiz avalia ainda que as principais barreiras estão centradas na falta de conhecimento sobre o autismo, no despreparo social, na ausência de políticas públicas e, sobretudo, no preconceito. O que significa o autismo? Quais as restrições que ele traz para a pessoa autista? Quais suas necessidades? Como promover a inclusão da pessoa autista? Essas são apenas algumas das muitas questões que, conforme Hortêncio, não eram discutidas a até pouco tempo.  

“Mas, ainda hoje, sobressai aquela visão vesga e errada da pessoa autista como sendo uma pessoa sem perspectiva, alheia, dentro de um mundo imaginário e cheio de comportamentos estereotipados. Uma visão errada que demonstra apenas o preconceito ainda existente”, complementa.  

O juiz salienta que, o autista, assim como todos nós, possui sonhos. Amam de uma forma intensa e despretensiosa. Possuem a capacidade de aprender e de ensinar. Possuem direitos reconhecidos no ordenamento jurídico, mas ignorados na prática. “Uma sociedade pressupõe que as diferenças sejam aceitas e respeitadas. E aceitar as diferenças pressupõe conhecimento. Somente a partir do conhecimento é que haverá inclusão efetiva”.   Ter uma família com um autista é, conforme Hortêncio, reconhecer que todos temos nossos atributos pessoais. “Meu filho, hoje diagnosticado com autismo, possui os seus atributos. Possui suas dificuldades, assim como eu possuo as minhas. Meu filho é uma criança feliz. Estuda, brinca, possui uma família que verdadeiramente o ama. Luta todos os dias para vencer as limitações que o autismo lhe impõe.  Hoje, já com 11 anos, quando olhamos para trás e vemos tudo que ele já conquistou, nos enchemos de esperanças no sentido de ver nele uma pessoa completa e realizada no futuro”.  

Sobre a presença do autismo na família, Hortêncio frisa que, sem qualquer dúvida, aprenderam muito com o filho. “Aprendemos que nem tudo nos é oferecido no momento e na forma que pretendemos. Aprendemos a ter perseverança, a não desistir. O autismo nos ensinou que existem várias formas de amar e de demonstrar o amor. Trouxe-nos a certeza de que a vida é um combo, de modo que se perdemos de um lado, ganhamos de outro”.  

O juiz complementa que se solidariza com todas as famílias que possuem um autista em seu seio. Isso porque, pela prática, sabe que não é fácil. “Lidar com o autismo não é uma tarefa simples. Mas a maior dificuldade não está no autista, mas sim na sociedade que o cerca. Não é fácil passar pelo olhar da incompreensão. Da intolerância e, sobretudo, do preconceito”.   Hortêncio afirma ainda que não é fácil ver as crianças nas mãos de profissionais que não possuem o menor preparo para lidar com uma pessoa com necessidades especiais. De ver um hotel, uma festa infantil ou mesmo uma escola que não estejam preparados para receber o autista, de modo que suas necessidades e individualidades sejam respeitadas. Para ele, a verdadeira inclusão ocorre somente quando estamos preparados para efetiva-la.   Passar inerte ao preconceito não foi possível, segundo Hortêncio. Por diversas vezes o filho foi vítima, inclusive por pessoas muito próximas a ele. “Acredito que o preconceito seja um efeito direto da falta de conhecimento. Atualmente, a informação sobre o autismo tem sido mais presente, o que, felizmente, tem reduzido esse triste campo marcado pela ignorância”.  

Hoje o juiz diz que tem uma visão muito clara sobre os direitos do filho. Ele acredita que todos pais de autistas devem buscar efetividade aos direitos dos filhos. “Aliás, temos essa obrigação, até porque o direito não é nosso, mas deles. Cabendo a nós simplesmente buscar efetividade. A busca por uma educação inclusiva, onde efetivamente haja adaptação escolar, adequando-se o conteúdo às necessidades e potencialidades da criança”.  

Hortêncio diz que os pais de crianças autistas têm os mesmos sonhos que todos os outros pais. Sonham que os filhos cresçam, conquistem seus espaços na vida, sejam independentes e felizes. A única diferença é que uma criança autista exterioriza a necessidade maior de acompanhamento. Por isso, segundo ele, cabe a todos nós, dentro de uma sociedade solidária, visualizar isso e respeitar essas diferenças.   O juiz destaca que precisamos, sim, de políticas públicas educacionais, com efetiva adequação curricular. Precisamos de profissionais capacitados. Precisamos de tratamentos especializados que permitam o desenvolvimento de diversas áreas do saber e do desenvolvimento afetadas pelo autismo. Precisamos de uma política pública que se volte não apenas à criança, mas ao adolescente e ao adulto autista.   “Sempre digo: não tenho orgulho do autismo. Tenho um imenso orgulho do meu filho autista. Orgulho-me de sua força de vontade. De sua determinação. De sua ingenuidade. De sua bondade. Orgulho-me de saber que, dentro de seu ritmo, ele irá conquistar seu lugar, ainda que à base de muita luta e dedicação. E hoje sei que o conhecimento é a única forma de tornar essa trajetória mais fácil. Para eles e para todos nós”, finaliza Hortêncio.  

Rompendo barreiras   Ele provou que não se pode colocar barreiras quando se fala em autismo. Em sessão plenária, recebeu moção de congratulação do deputado estadual Delegado Claudinei (PSL).  Trata-se de Enã Rezende Bispo Nascimento, que é autista e um importante exemplo que a síndrome não se tornou um empecilho para concretizar os sonhos idealizados.  

Hoje com 27 anos, Enã conta que na infância foi visto de forma diferente por parte de outras crianças, como uma pessoa com personalidade estranha e esquisita. Ele chegou a receber diagnóstico errôneo de psicose infantil, aos dois anos de idade. A confirmação do autismo veio a partir dos 18 anos de idade.  

Um dos sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é a dificuldade na fala e falhas na expressão da comunicação, interação social, agitação e repetição nos movimentos corporais. A percepção destas características ocorre quando a criança tem de 2 a 3 anos de idade, como foi o caso de Enã. Mesmo que a mãe dele tenha recebido o diagnóstico errado, foram providenciados tratamentos com psicólogo e fonoaudiólogo para melhorar o desenvolvimento do filho.   “O maior problema do autista não é o autismo em si e sim o preconceito. Quando criança, era visto como louco, por causa disso, outras crianças acabavam me segregando. Ao longo da minha vida, o preconceito que eu enfrentei, justamente pelas pessoas dizerem que eu não era capaz de realizar tal coisa, provei o contrário e realizei”, pontua Enã, que hoje é médico.  

A maior prova de que o autismo não seria um empecilho na vida de Enã: ele se formou em medicina na Universidade de Cuiabá (Unic), em 2012. A decisão em realizar este curso foi aos 10 anos, pois despertou a curiosidade de entender a morte do pai, que decorreu de um acidente automobilístico e teve traumatismo crânio-encefálico. O médico conta que enfrentou dificuldades no início do curso, devido ao fato de que alguns colegas não o entendiam e não tinham paciência.   Para o deputado Claudinei, o médico é um exemplo que deve servir para todos aqueles que se deparam com barreiras no caminho e pensam em desistir. “Ver uma história que foi construída com dificuldades e preconceito e, mesmo assim, não deixou de existir, é o caso de ir lá, fazer e realizar. Ele mostrou que não era incapaz, pois a vontade era muita para fazer acontecer. Só tenho que parabenizar o doutor que conseguiu se formar como médico e, hoje, executa um trabalho importante na medicina”, ressalta o parlamentar.   O médico, atualmente, presta serviço na Estratégia Saúde da Família (ESF) na Vila Cardoso, em Rondonópolis (MT). Ele é solteiro e não tem filhos. Após sua formação em medicina, mantém os estudos como uma ocupação nas horas livres e aos finais de semana, tanto que se prepara para fazer residência e considera os estudos a sua companhia para a vida.  

Dados sobre o autismo   O presidente Jair Bolsonaro sancionou, no dia 18 de julho, a Lei nº 13.861/2019, que trata da inclusão de informações específicas sobre pessoas com autismo. A partir deste ano, os censos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trarão dados de pessoas com autismo.   "Atendendo à necessidade da comunidade autista no Brasil e reconhecendo a importância do tema, sancionamos a Lei 13.861/2019, que inclui dados específicos sobre autismo no Censo do IBGE. Uma boa tarde a todos!", escreveu o presidente da República, em sua conta no Twitter.   A lei sancionada pelo presidente altera a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, para incluir as especificidades inerentes ao transtorno do espectro autista nos censos demográficos. Atualmente, não existem dados oficiais sobre as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil.   Autismo   O Transtorno do Espectro Autista resulta de uma desordem no desenvolvimento cerebral e engloba o autismo e a Síndrome de Asperger, além de outros transtornos, que acarretam modificações na capacidade de comunicação, na interação social e no comportamento. A estimativa é que existam 70 milhões de pessoas no mundo com autismo, sendo 2 milhões delas no Brasil.  

Projetos de lei – Em Mato Grosso, a luta pelos direitos dos autistas também segue forte. Vários projetos estão sendo apresentados. O deputado estadual Wilson Santos (PSDB) é o autor de dois projetos de lei (PL 414/2019 e PL 442/2019) que favorecem crianças portadoras de autismo, bem como crianças, adolescentes e adultos portadores de necessidades especiais.   O primeiro foi apresentado no dia 16 de abril e assegura prioridade de pais e cuidadores de pessoas com Transtorno de Espectro Autista (TEA) em atendimento na rede pública, privada e filantrópica de saúde em todo o estado. Determina ainda que a Secretaria de Estado de Saúde ofereça apoio psicológico, psiquiátrico e social, quando necessário, de modo a minimizar o sofrimento a que possam estar sujeitas.  

O segundo projeto, apresentado em 23 de abril, reivindica que todas as escolas da rede pública estadual, independentemente de suas condições físicas e sociais, devem oferecer um banheiro unissex com chuveiro para atender pessoas com necessidades especiais, das quais se incluem autistas, Síndrome de Down e Síndrome de Asperger. Ainda é ressaltada a importância de ser utilizado um cronograma visual para que a pessoa com autismo possa se acostumar com o vaso sanitário e de que seja estabelecida uma maneira de a criança se comunicar e conseguir independência de ir ao banheiro.   Também foi sancionada, em abril deste ano, pelo governador Mauro Mendes, a lei de autoria da deputada estadual Janaína Riva, que dispõe sobre o dever de inserção do símbolo mundial da conscientização do transtorno do espectro autista nas placas de atendimento prioritário no âmbito do Estado de Mato Grosso.  Os locais devem inserir nas placas que sinalizam esse tipo de serviço a "fita quebra-cabeça", símbolo mundial da conscientização do transtorno do espectro autista.

O descumprimento pode resultar em advertência, no caso de primeira autuação, e multa de 20 Unidades Padrão Fiscal do Estado de Mato Grosso - UPF/MT por infração, dobrada no caso de reincidência.   Em 27 de dezembro de 2012 foi promulgada a Lei Federal nº 12.764, que reconhece a necessidade de atenção especial com essa parcela da população e, com isso, estabelece a Política Nacional de Proteção aos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.   A Lei nº 12.764, que trata sobre o autismo, prevê vários benefícios para esses indivíduos, tais como o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo diagnóstico precoce; atendimento multiprofissional; acesso à educação, ao ensino profissionalizante; e ao mercado de trabalho.  

Autismo e educação   A rede estadual de ensino conta com 521 alunos autistas matriculados e 257 escolas atendendo alunos com as mais diversas deficiências. Coordenador de Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Sergio Carlos da Silva, explica que a coordenação de Educação Especial da Seduc é responsável tecnicamente por todas as demandas da educação especial em Mato Grosso, como orientações, encaminhamentos e apresenta por toda a rede as diretrizes.   “Os autistas têm acesso ao ambiente educacional. Alguns são atendidos em escolas especializadas, mas caso qualquer família queira levar o aluno para a escola regular, ele será recebido neste processo de inclusão”, diz.   Sérgio destaca que chegando na escola, o primeiro contato feito é com o pessoal da secretaria, que atua de acordo com que a família manifesta. Na matrícula é feito o registro de que o aluno é deficiente. O coordenador explica que a regulamentação descreve que o aluno vai receber o atendimento em classe comum e poderá, se necessário for, ser atendido também em sala de recurso. Essa sala é um ambiente que funciona no contraturno para buscar avançar com este aluno em saberes que ele ainda não domina e que, em razão da deficiência, não tem acesso a este saber ou tem dificuldade.   Sérgio Carlos frisa que, se necessário for ainda, a secretaria disponibiliza um auxiliar de turmas, que vai dar suporte para alunos com dificuldade de alimentar, higienizar, locomover. Esse profissional não tem formação pedagógica, mas vai dar suporte na vida diária do aluno.   “Em 2014, eram 199 alunos autistas na rede. Em 2019, são 521. As pessoas podem perguntar a que se deve este quantitativo e há uma série de motivos e conjecturas. Antes não se falava sobre o assunto, hoje a família está mais organizada em termos de associações, tem ampliação do processo inclusivo. Certamente tudo isso gera um interesse da sociedade nas formações”, avalia.   O coordenador ressalta ainda que eram 123 unidades recebendo alunos autistas em 2014 e, atualmente, são 257 escolas com alunos com deficiências matriculados, todos em ensino regular, sendo que 57 unidades atendem especificamente autistas. Há ainda escolas especializadas do Estado, que são cinco, sendo três em Cuiabá e duas em Várzea Grande. E ainda 76 escolas conveniadas, vinculadas a instituições filantrópicas. Na rede estadual, a educação especial conta com 10.857 alunos.   A maior dificuldade avaliada por Sérgio é que a criança autista não tem padrão. Algumas estão num grau de dificuldade que não geram quase nenhuma dependência e há aquelas com dificuldade mais severa. O aluno com dificuldade maior, vai depender de um cuidado maior. Com isso, a escola vai ter que se organizar, o auxiliar trabalhar com mais intensidade e a sala de recursos dispor de mais materiais. Mesmo porque o autista pode ter outras deficiências, como baixa visão ou cegueira. “Por parte dos familiares, temos percebido que há um avanço muito grande na superproteção dos pais, que antes existia em demasia. Hoje, muitos têm levado os filhos para o ensino regular”, confirma.   Em termos de política nacional, Sérgio assegura que na área educação especial, o estado de Mato Grosso tem avançado. Intérpretes e auxiliares de turmas são algumas das garantias obedecidas pelo Estado. “É claro que, ao longo do percurso, ainda podemos avançar em alguns pontos, como qualificar mais pessoas para o trabalho, mas temos avançado. Temos o Centro Casies, que trabalha com o levantamento de demanda para oferecer o melhor serviço possível. Está sendo elaborada uma política de Estado, pois hoje tem prática, mas ainda não há documentos”, assevera.   O coordenador da educação especial salienta que a inclusão é um processo que não tem mais volta. Com isso, garantir que a pessoa com deficiência tenha acesso ao espaço comum na vida e possa acessar todos ambientes, ter oportunidade de ter uma vida comum. “Às vezes, as pessoas olham para outras que têm deficiência e estabelecem limites onde não é necessário. Se acolhermos, respeitarmos e oferecermos qualidade de ensino, a pessoa vai muito além do esperado”, confirma.  

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“Nós nos tornamos referência em quantidade e agora queremos ser referência em qualidade. Atualmente já atendemos mais de duas mil crianças com deficiência e o número não para de crescer. A Educação tem que se preparar para receber essas crianças”, destacou o secretário municipal de Educação, Alex Vieira Passos

Cuiabá receberá Centro de Atendimento ao Autista   A Prefeitura de Cuiabá, por meio da Secretaria Municipal de Educação, implantou o Centro de Atendimento ao Autista de Cuiabá (CAA). O objetivo é ampliar e fortalecer a educação especial na capital. A criação foi firmada com a assinatura do contrato de sessão de uso com a Associação de Pais e Amigos do Autista de Mato Grosso (AMA). O prédio, onde funcionava a antiga Escola do Moinho, no bairro Santa Cruz II (Região Sul), desativada há dois anos, irá receber o novo Centro de Atendimento.   O contrato de cessão de uso tem validade de 10 anos e poderá ser prorrogado por um termo aditivo. Kelly Cristina Viegas, presidente da Associação dos Amigos Autistas do Estado de Mato Grosso, disse que este é um momento inesquecível. A AMA, entidade com 500 associados, vinha trabalhando junto ao poder público pela efetivação do plano e do projeto do CAA e para chamar a atenção das pessoas para a questão do autista e sua inserção na sociedade. “É uma grande conquista, que vai melhorar a qualidade de vida dos autistas e a sua inserção na sociedade”, salientou Kelly.   O novo prédio terá consultórios, áreas de recreação, convivência e de lazer, salas de treinamento, entre outros espaços. Com a efetivação da concessão, as obras no prédio terão início em breve e a expectativa é de que estejam concluídas na metade do ano que vem.  O Centro de Atendimento ao Autista terá capacidade para atender, num primeiro momento, em torno de 100 crianças e jovens com aspectos autistas por mês.   O secretário de Educação, Alex Vieira Passos, disse que o espaço vai passar por uma ampla reforma, que será feita pela AMA em parceria com a Prefeitura e outras empresas e que, no local, irá funcionar também uma Clínica Escola Modelo, a primeira de Mato Grosso, para dar suporte ao serviço de saúde do município no atendimento especializado ao autista. O secretário contou que a ideia de apoiar a construção da unidade surgiu quando foi encaminhado para a rede pública municipal de Educação um grande número de crianças com autismo. “Nós nos tornamos referência em quantidade e agora queremos ser referência em qualidade. Atualmente, já atendemos mais de duas mil crianças com deficiência e o número não para de crescer. A Educação tem que se preparar para receber essas crianças”, destacou Alex Vieira Passos.  

Tratamento   Em Cuiabá, o tratamento de um paciente diagnosticado com autismo é realizado no Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi), unidade especializada ligada à Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT). O centro possui uma equipe multidisciplinar constituída por médicos psiquiatras e clínicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educador físico, arte-terapeutas, nutricionistas e técnicos e auxiliares de enfermagem.   Os profissionais do Capsi atuam em prol de ações voltadas às crianças e aos adolescentes de até 17 anos, que possuem transtorno mental severo, por meio das modalidades intensiva, semi-intensiva e não intensiva. Por mês, a unidade atende uma média de 100 pacientes e, em 2018, foram 993 atendimentos. Neste contexto, os servidores da unidade desenvolveram 5 mil ações direcionadas aos pacientes com algum tipo de transtorno mental – incluindo aqueles diagnosticados com autismo.  

Segundo a coordenadora responsável pelo Capsi, Luciane Cassini, a unidade permanece de portas abertas e vai acolher qualquer criança e adolescente que esteja na Capital e que necessite de um atendimento.   Os pacientes recebem atendimento individualizado, sendo que cada caso exige uma necessidade singular e requer tratamentos específicos – são realizadas, por exemplo, atividades terapêuticas. O autismo não tem cura, logo, o paciente passa por tratamentos que visam o estímulo da capacidade intelectual e cognitiva.  

Serviço   O Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi) funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h30. A unidade é localizada na Rua Antônio Dorileo, Bairro Jardim Lucianópolis. Para mais informações, entre em contato pelo telefone: (65) 3661-6677.

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