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Sexta-feira, 05 de Abril de 2019, 15h:55

Dutra, Rondon e Manoel de Barros; conheça as três personalidades ilustres que viveram em Cuiabá

Fernanda Nazário
Única News

Cuiabá celebra, no próximo dia 08 de abril, 300 anos. Ao longo desse período, viveram na terra dos 40° graus diversas personalidades que abrilhantaram a cidade com seus feitos e projetaram a capital mato-grossense no cenário nacional, como é o caso de Eurico Gaspar Dutra, o cuiabano que chegou à presidência da República.

Dutra nasceu em Cuiabá em 18 de maio de 1883 e faleceu no Rio de Janeiro em 11 de junho de 1974. Ele foi um militar que se destacou na carreira do Exército Brasileiro e, apesar de estar na caserna, o historiador João Carlos conta que Eurico Dutra sempre se mostrou hábil político.

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Presidente dutra

 

“Esse gosto e jeito para a política é gene cuiabana herdada ainda dos lusitanos e sorocabanos. Por conta de sua visão geopolítica e jeitão conciliador, foi o homem ideal para ocupar o cargo de Ministro da Defesa no governo de Getúlio Vargas, na ocasião em que se implantou o Estado Novo (1937)”, explica João

O feito de maior destaque de Dutra foi ter sido presidente do Brasil, após ir à reserva, tendo sido eleito pelo Partido Social Democrata (PSD) e tomado posse no dia 31 de dezembro de 1946. Seu mandato como presidente da República terminou em 31 de janeiro de 1951.

Segundo o historiador, Dutra foi um líder que deixou os mato-grossenses orgulhosos devido à sua honestidade e integridade. Ele não juntou dinheiro ao longo de sua vitoriosa carreira militar e política, tendo morrido sem fortuna alguma. A obra mais importante de infraestrutura que o presidente Dutra deixou para Cuiabá, e que leva o seu nome, foi o Estádio Presidente Dutra.

O estádio está localizado na Rua Joaquim Murtinho, a mesma via em que nasceu o presidente. O desejo pela construção do monumento surgiu quando iniciaram as obras do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, que recebeu a Copa do Mundo de 1950. Este fato aguçou a mente dos desportistas de Cuiabá, que criaram uma comissão e pediram a Dutra a construção de um estádio de futebol na capital.

João Carlos recorda que o projeto original previa a construção de um espetacular estádio de futebol que pretendia homenagear o presidente Dutra. “Reza a lenda que com a verba destinada à construção do Estádio Dutrinha poderia construir um “quase” Maracanã, sendo este o principal motivo pelo qual o Presidente, em 1952, depois de visitar as obras do estádio, não ousou vir à sua inauguração, demonstrando insatisfação com o resultado final do projeto”.

Atualmente, o monumento em homenagem a Dutra não abriga mais partidas do Campeonato Mato-grossense e serve apenas para partidas não oficiais, principalmente das categorias de base. A prefeitura de Cuiabá anunciou em janeiro um projeto de reforma do local.

Marechal Cândido Rondon: o defensor dos povos indígenas

Outro cuiabano ilustre é Cândido Mariano da Silva Rondon. Ele não só se destacou no país, como também no mundo, com suas ações marcantes. Os atos do militar, idealista e responsável por políticas de incentivo à convivência pacífica entre os povos indígenas e os brancos, o levaram à indicação ao Prêmio Nobel da Paz, em 1957, e foram consagradas por Marcelo Santiago e Rodrigo Piovezan no filme ‘Rondon: o desbravador”, de 2016.

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Manoel de Barros

 

Rondon apresentava-se como mimoseano, por ter nascido no vilarejo de Mimoso, que no tempo de seu nascimento, 5 de maio de 1865, era um distrito jurisdicionado a Cuiabá. Ele era de descendência indígena por linhagem materna.

Muitos foram as ações de Rondon em prol da causa indígena. As mais relevantes foram a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), no começo do século XX, que se transformou na Fundação Nacional do Índio (Funai); destaca-se a criação do Parque Nacional do Xingu, de sua lavra. Ao criar o SPI – Funai, Rondon conseguiu institucionalizar e legalizar, através de atos e leis que passaram a compor a Constituição brasileira, a proteção devida aos povos indígenas, tanto em terras ocupadas ou a serem ocupadas e na preservação de suas culturas.

Expedição Roosevelt-Rondon

Atrelada a luta pelos povos indígenas, estava também a paixão pela natureza. Prova disto é quando, em 1913, Rondon iniciou a expedição de pesquisa científica conhecida como Roosevelt-Rondon, em atendimento à solicitação do ex-presidente americano Theodore Roosevelt de pesquisar e coletar espécimes da flora e da fauna da região amazônica. Até o ano de 1914, Rondon e Roosevelt percorreram a selva às margens da Bacia Amazônica, coletando materiais posteriormente enviados ao Museu Americano de História Natural.

Ao longo de mais de mil quilômetros do trajeto percorrido, além de inúmeros trabalhos de história natural, cujos estudos foram confiados aos especialistas do Museu Nacional, foram realizados levantamentos de ribeirões e rios da Bacia Amazônica. A experiência da expedição foi descrita por Theodore Roosevelt em seu livro Nas Selvas do Brasil, publicado nos Estados Unidos.

Pai das comunicações

Outra expedição que Rondon integrou foi à serviço da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, em 1907, chefiada pelo então Major Gomes Carneiro, que estava empenhado em construir 583 quilômetros de linhas entre Cuiabá e Registro do Araguaia, na margem esquerda do Araguaia, divisa com o estado de Goiás. Esse ato rendeu a ele o título de “Pai das Comunicações do Brasil” e uma homenagem, comemorada no país, no dia 5 de maio: o Dia das Comunicações.

Manoel de Barros: Um poeta brilhante

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manoel de barros

 

Da pacata Cuiabá, dona de um Pantanal exuberante, também saiu um dos maiores poetas brasileiros, segundo declarou Carlos Drummond de Andrade, em 1986. Manoel Wenceslau Leite de Barros, ou simplesmente Manoel de Barros, tinha uma escrita tão peculiar que teve suas obras comparadas a do escritor Guimarães Rosa.

Cuiabano de chapa e cruz, Manoel fez história no país. Criou um universo próprio, com suas escritas de vocabulário mais coloquial e rural, criando construções que não respeitam as normas da língua padrão e sempre tendo a capital e a beleza do Pantanal como sua inspiração para a criação de suas mais importantes obras, características que o classificaram como poeta do pós-Modernismo brasileiro.

O historiador João Carlos conta que, apesar de Barros ter escrito diversos livros e ainda ter ganhado muitos prêmios literários, seu trabalho só foi valorizado em âmbito nacional na década de 1980. “O autor não frequentava os meios editoriais e literários, e como ele mesmo gostava de dizer, não bajulava ninguém. Somente quando o jornalista, escritor e dramaturgo brasileiro, Millôr Fernandes, o descobriu”. Entre a centenas de obra, ele escreveu Poemas concebidos sem pecado (1937); Face imóvel (1942); Poesias (1956) e Compêndio para uso dos pássaros (1960). Em 2013, foi indicado para o Nobel de Literatura. Não foi contemplado, mas sua indicação foi muito valorizada.

Manoel de Barros já morou no Pantanal de Corumbá, Campo Grande e no Rio de Janeiro, onde se formou em ciências jurídicas, no ano de 1941. Depois do seu casamento com Stella, em 1960, ele passou a viver como fazendeiro e criador de gado em Campo Grande. Ali desenvolveu sua carreira de advogado, pecuarista e de poeta, com idas e vindas ao Pantanal. Manoel de Barros morreu no dia 24 de outubro do ano de 2014, aos 97 anos de idade, em decorrência de falência múltipla dos órgãos.