Sebastião Carlos
(Foto: Reprodução)

Se há um fato que aqueles que atuam na área cultural e educacional não podem deixar de reconhecer é a enorme competência do governo estadual para gerar atos controversos. Polêmica? Não, polêmica não, porque para isso se exige um grau superior de competência. Melhor dizer, temos factoides, isto é, fatos menores que chamam a atenção, uma espécie de marketing de ocasião. Ainda que doloridos. Saímos (?) do questionável financiamento da publicação da estória de Rondon na fagueira companhia da Mônica, do Cebolinha, da Magali ... pulando para a controversa medida da retirada de nomes de escolas públicas.
Na ocasião em que foi anunciado o convênio para a publicação da saga rondonina fiquei com o mesmo olhar espantado que seguramente esses heróis infantis teriam ficado se tivessem a liberdade de carne e osso, diante da inesperada missão que receberam do patrão para “explicarem” Rondon. Na ocasião, escrevi rápidas palavras e, consultado pelo Diário de Cuiabá [16/05/16], manifestei-me, não contra o reconhecido talento e experiência de Mauricio de Souza e dos profissionais de seu instituto, mas estupefato [nem tanto] fiquei diante do descaso ofensivo do governo para com historiadores e cartunistas conterrâneos.
Claro que não podia deixar de apontar que Chico Bento, Cascão e Bidu ao “aceitarem” aquela incumbência, ainda que involuntariamente, faziam troça de nomes de conhecidos historiadores e de cartunistas mato-grossenses. Destes últimos, será que os pequenos gênios do governo já tinham ouvido falar em Wander Antunes, premiado conterrâneo, em Gabriel de Matos ou desse mestre do traço chamado Moacyr Freitas? Não, certamente que não. Eis que, geniais que são, decidiram. Curioso é que para contar a estória do grande bandeirante do século XX os redatores da revistinha tiveram que se basear em fatos, afinal não se trata de ficção, que tantos escribas da terra já relataram. Não bastasse, os mais de 250 mil reais do investimento oficial se aqui empregados, poderiam não só valorizar artistas e escritores locais, como igualmente contribuiriam para a cadeia industrial. Mais de dois anos depois, foram distribuídos alguns pouquíssimos exemplares, entregues na ancestral Mimoso. Procurei um exemplar para, pelo menos manuseá-lo, não encontrei. Voltarei ao tema.
Agora, o governo joga para o alto uma nova questão. Como gosta de provocar ... . Trata-se da troca de nomes de escolas e logradouros públicos.
Os dois nomes substituídos, pelo menos já divulgados, são o do primeiro presidente do regime militar, o Marechal Humberto de Alencar Castello Branco, em Luciara, e o do Senador Filinto Müller, o primeiro líder do regime militar no Senado. Não irei, agora, discutir o mérito intrínseco da medida e o que essas biografias representam no país e no Estado. Farei oportunamente. Até porque, nesse diapasão, não serão poucos os nomes que irão, em breve, serem trocados. Aqui mesmo na capital, um dos mais importantes colégios leva o nome do presidente do período mais duro, por isso mesmo denominado “os anos de chumbo”, do regime militar. Parece que o governo, como se estivesse sondando terreno, está começando primeiro por pequenos municípios. Depois chegará à Cuiabá.
Nesse meio tempo, não posso deixar de apontar como é curioso observar o “esquecimento” da lei que proíbe denominações de pessoas vivas a logradouros públicos. Aliás, é curiosíssima essa questão de homenagens com nome de personalidades a bens públicos. Nem sempre os homenageados merecem, nem sempre quem tem mérito é lembrado. [Continua]
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho é advogado e professor
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