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A seca prolongada nos rios da Amazônia tem castigado moradores da região e atrapalhado transporte de produtos da Zona Franca de Manaus a outras áreas do país. E essa dificuldade pode impactar os descontos da Black Friday deste ano.
Com a estiagem, os níveis dos rios diminuíram significativamente, o que torna mais difícil — ou até impossível — para embarcações de grande porte, como barcaças, transportar produtos para dentro e fora do polo.
Como resultado, podem ocorrer atrasos no transporte, além da cobrança de custos adicionais.
Rodrigo Bandeira, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), explica que existem alternativas de transporte que garantem o abastecimento das lojas para a Black Friday, como o rodoviário. Porém, o custo é mais elevado — e pode ser repassado ao consumidor final.
“A gente pode esperar uma Black Friday diferente com relação a descontos para esses produtos, mas há outras categorias que estão ganhando relevância e que ajudam a compor esse ‘bolo’, cada um na sua fatia”, analisa.
Bandeira destaca que não há risco de desabastecimento. “Quem está no jogo certamente já tomou as providências para que não faltem produtos”, acrescenta.
O especialista avalia que os problemas não se restringem aos preços dos produtos, mas também ao cenário macroeconômico.
“A partir do momento que você tem uma questão como essa, você vai ter um problema que pode impactar outras empresas, como de transporte e logística, inclusive com demissões […] O varejo precisa de pessoas empregadas que consigam consumir para fazer a roda girar”, afirma.
A Zona Franca de Manaus fabrica eletrodomésticos, veículos, motocicletas, TVs, celulares, bicicletas, aparelhos de ar-condicionado, computadores, entre outros produtos considerados “queridinhos” da Black Friday, que acontece no próximo dia 24 de novembro.
Ulysses Reis, professor de varejo da Strong Business School, afirma que, além do transporte rodoviário, o entrega de produtos em períodos de seca muitas vezes é feito com auxílio de um prático — profissional que auxilia navios a passarem por águas restritas.
“O problema é que o preço do serviço aumentou assustadoramente. Hoje as viagens chegam a custar R$ 800 mil com o uso dessa mão de obra. Esse valor é chamado ‘taxa da seca’, neste caso. Além disso, o tempo de transporte se multiplicou por 5, ou seja, de 5 dias passou para 25”, diz.
Ulysses destaca que a maior parte dos produtos que devem ser vendidos na Black Friday já foram comprados pelos varejistas, e que parte significativa deles já está em posse das transportadoras ou em depósitos.
Ele garante que não deve haver desabastecimento total de produtos. “Isso vai afetar talvez 30% ou 20% da quantidade que vem da Zona Franca. O problema é que vai haver no Natal, porque a segunda leva de produtos vai ficar realmente comprometida”, afirma.
Os produtos chamados “linha branca”, que incluem, principalmente, geladeiras, fogões e máquinas de lavar roupas, devem ser os que terão menor oferta de descontos.
“Os custos altos de logística e transporte, por mais que os produtos já tenham sido comprados, vão ser agregados de alguma forma. Ou seja, não podemos esperar, pelo menos do material que vem da Zona Franca de Manaus, grandes descontos. Deve haver descontos, mas não devem ser os melhores que já aconteceram até hoje”, conclui.
Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, concorda que a seca deve afetar o fluxo para o varejo, mas também não enxerga a possibilidade de desabastecimento.
O especialista explica que o varejo, de forma geral, vem mantendo negociações com os fabricantes para garantir a disponibilidade dos produtos mais procurados, mas conscientes que a disponibilidade não será plenamente atendida.
“Obviamente essas relações são mais tensas porque se coloca a questão de precedência, isto é, relações mais próximas ou mais distantes com os fornecedores. Entretanto, não há uma expectativa exacerbada de vendas nessa próxima Black Friday”, analisa.
Black Friday mudou hábito dos brasileiros
O professor Ulysses Reis explica que a Black Friday tem crescido ano após ano desde sua estreia no Brasil, em 2011, e isso se deve a uma série de fatores.
“O primeiro fator é que o hábito do brasileiro é mudou com relação à Black Friday, que se tornou não apenas uma liquidação, mas uma antecipação de compras dos produtos que são vendidos no Natal”, afirma.
O professor destaca ainda que, em média, a cada 4 produtos comprados no período de Natal, 1 é uma espécie de “presente” que o consumidor compra para ele próprio.
“É um tipo de teoria do ‘eu mereço’, ou seja, ‘passei o ano inteiro trabalhando, então eu mereço’”, conclui.
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