Daffiny Delgado
Daffiny Delgado

Familiares e amigos da família de Rodrigo Claro se reuniram na tarde desta quarta-feira (18), na Praça Ipiranga, em Cuiabá, em uma homenagem ao aniversário do ex-bombeiro, que morreu após uma sessão de afogamento e tortura em novembro do ano passado.
Rodrigo completaria hoje 22 anos e a mobilização teve o objetivo de não deixar cair no esquecimento, o caso que causou que causou comoção na sociedade mato-grossense.
Principalmente, a omissão por parte da corporação do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso.
Daffiny Delgado

Em meio a tantas lágrimas, o avô de Rodrigo, Patrício Lima, disse que hoje deveria ser um dia de alegria, mas após esse treinamento, que segundo ele foi “maldito”, hoje completam 325 dias que ele perdeu seu neto.
“Hoje era para ser um dia de muita alegria sim, mas está sendo o contrário, está sendo um dia de muita tristeza para minha família. Hoje fazem 325 dias que eu perdi meu neto, filho, em um treinamento maldito. Onde foram designados uma equipe de oficias com perfis perversos, irresponsáveis e despreparadas. Uma equipe que deveria ensinar as pessoas a salvar vidas, fizeram o contrário, torturaram e massacraram Rodrigo até ele perder a vida”, lamentou.
Para a mãe de Rodrigo, Jane Claro, passar a data de nascimento do filho sem a presença dele é uma situação muito difícil. Muito emocionada ela contou que hoje nem uma mensagem ela pode enviar para seu filho.
“Eu não consigo nem expressar para você meu sentimento. Ano passado eu pude fazer um bolo para o meu filho, fazer uma festinha, pude acordar e dar um abraço nele, mas hoje eu não posso nem mandar uma mensagem para ele", lamentou.
Na semana passada a Justiça atendeu pedido da defesa da tenente Izadora Ledur e determinou a retirada de sua tornozeleira eletrônica. A mãe do bombeiro questionou a decisão.
“Que leis são essas, me pergunto. Estão dando aval para tudo que ela fez. A sociedade fica revoltada. Sei que qualquer punição que for aplicada contra ela não trará meu filho de volta, mas é um primeiro passo rumo à punição dos responsáveis. Quem sabe outras mães não irão passar pelo que eu passei e não teremos outros Rodrigos”, comentou.
Entre os cartazes levantados pela família, destacou-se a que trouxe os seguintes dizeres; “Pai, destruíram nossos sonhos, acabaram com nossa carreira, marcaram para sempre o 16º Curso de Formação de Soldado Bombeiro do Estado de Mato Grosso, 2º pelotão”.
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Audiência Marcada
O juiz Marcos Faleiros da Silva, da Sétima Vara Criminal, marcou para o dia 26 de janeiro a audiência de instrução e julgamento contra a tenente bombeiro militar, Izadora Ledur de Souza Dechamps.
O Ministério Público do Estado (MPE) acusou a tenente Izadora Ledur e os militares Marcelo Augusto Revéles Carvalho, Thales Emmanuel da Silva Pereira, Diones Nunes Sirqueira, Francisco Alves de Barros e Eneas de Oliveira Xavier, pela prática do crime de tortura seguida de morte. Na denúncia, o MPE também requer a perda do cargo público de todos os envolvidos e a interdição para seu exercício, pelo dobro do prazo da pena a ser aplicada para os denunciados.
O Caso
Rodrigo Claro morreu após passar mal durante o treinamento de atividades aquáticas em ambiente natural, do 16º Curso de Formação de Soldado Bombeiro do Estado de Mato Grosso, realizado na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, em novembro do ano passado.
Ele chegou a ser hospitalizado com um quadro de hemorragia cerebral que evoluiu para morte, após cirurgia e permanência em UTI.
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Tortura
Para o MPE, além de apresentar excelente condicionamento físico, o aluno demonstrou dificuldades para desenvolver atividades como flutuação, nado livre, entre outros exercícios.
Consta da denúncia que embora o problema tenha chamado a atenção de todos, os responsáveis pelo treinamento não só ignoraram a situação como utilizaram-se de métodos totalmente reprováveis, tanto pela corporação militar, quanto pela sociedade civil, para “castigar” os alunos do curso que estavam sob sua guarda.
Conforme o MPE, depoimentos colhidos durante a investigação demonstram que a vítima foi submetida a intenso sofrimento físico e mental com uso de violência. A atitude teria sido a forma utilizada pela tenente Ledur para punir Rodrigo por ele ter apresentado mau desempenho nas atividades dentro da água.
Em um dos depoimentos, por exemplo, foi relatado que em um determinado momento do treinamento a vítima estava com a cabeça baixa, reclamando de muita dor de cabeça, olhos vermelhos e vomitando água e que, mesmo assim, as atividades não foram interrompidas. O aluno chegou a se jogar no chão na posição fetal e com as pernas encolhidas por não conseguir ficar em pé. Nesse momento, a tenente teria humilhando-o perante todos.
“Os métodos abusivos praticados pela instrutora consistiram tanto de natureza física, por meio de caldos com afogamento, como de natureza mental utilizando ameaças de desligamento do curso com diversas ofensas e xingamentos humilhantes à vítima menoscabando sua condição de aluno”, diz um trecho da denúncia.
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