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Segunda-feira, 17 de Junho de 2019, 11h:04

Estilo Bolsonaro de 'fritura explícita' de auxiliares cria insegurança no governo

Por Gerson Camarotti

(Foto: Alan Santos/PR)

O estilo do presidente Jair Bolsonaro de estimular uma "fritura explícita" dos principais auxiliares já causa um ambiente de insegurança no governo e de instabilidade na relação com o Congresso Nacional.

Integrantes do corpo técnico do governo demonstraram forte desconforto de como Bolsonaro deu ultimato ao presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, forçando o auxiliar a pedir demissão do comando do banco em menos de 24 horas.

Foi a primeira baixa na equipe econômica. Mas em seis meses de governo, três ministros e nove presidentes de estatais deixaram o cargo ou foram demitidos.

O caso mais recente foi de Santos Cruz que sofreu um prolongado ataque especulativo do terceiro andar Palácio do Planalto até ser demitido da Secretaria de governo, na semana passada.

"É fato que o ministro da Economia Paulo Guedes estava, sim, com algumas discordâncias da atuação do Levy. Mas, neste caso, o correto seria chamá-lo para uma conversa aberta e, se houvesse discordância, ele poderia sair de forma amigável como é a praxe em vários governos. Essa forma de fritar colaboradores para eles saírem é muito ruim. Nesse aspecto assusta tanto a forma da saída do general Santos Cruz quanto a forma da saída do Joaquim Levy", disse ao blog um interlocutor do governo.

 

Esse ambiente de preocupação tomou conta de Brasília. "Isso cria uma insegurança enorme entre os parlamentares que não tem confiança na relação. Se acontece isso com o ministro, que é próximo, a sinalização para o Congresso é péssima", reforçou um parlamentar com trânsito livre no Palácio do Planalto.

No início do ano, o primeiro atingido com o modo "fritura explícita" foi Gustavo Bebianno, que ocupava a Secretaria Geral da Presidência. Ele foi atacado pelas redes sociais e avisou que só deixaria o governo depois de ser chamado para uma conversa com o presidente Bolsonaro.

O então ministro da Educação Ricardo Vélez também recebeu críticas públicas de Bolsonaro, além dos presidentes do BNDES, Correios, da Apex e outros órgãos e estruturas de segundo escalão.

Em governos passados, era comum a fritura de ministros e auxiliares com um prolongado distanciamento do presidente da República. Mas, agora, o método explícito de fritura constrange quem está dentro e fora.

"Quem está fora, fica com medo de entrar. Quem está dentro, fica receoso de ser carbonizado dessa forma", disse ao blog um auxiliar.

Na sexta-feira (14), num café da manhã com jornalistas, Bolsonaro admitiu o seu estilo de fritura ao ser questionado sobre a influência do filho Carlos Bolsonaro no governo.

"E eu falo o seguinte: a gente tem que dar um tempo para, ao dar o cartão vermelho para essa pessoa, não ter dúvidas. E tem que deixar a pessoa se enrolar um pouco mais, no linguajar popular. E ele [Carlos] é imediatista. Converso com ele, mas não sigo 100% o que ele fala", disse o presidente.