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Sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2020, 10h:14

MEU CORPO GRITA

Única News

(Foto: Reprodução)

Esses dias estava andando pela praça aqui na cidade e passo por um adolescente (14 anos) que estava sentado no banco mexendo no celular. Quando passava ele me olhou e disse:


— oi, tudo bem?!! Já te vi no facebook e meu amigo disse que você já deu palestra na
escola dele.

— Ah que legal e ele gostou da palestra?

— Sim!!! Depois ele veio me contar e ficamos conversando sobre tudo que você falou.

— Que massa!!! se fez vocês refletiram sobre o que falei, então para mim já valeu a pena a palestra. Aproveita que está com o celular na mão, faz uma Selfie nossa e depois me manda.

O adolescente se levantou e ao erguer o celular eis que cai metade de uma Gilete da capa do celular. Ele ficou sem graça, pisou em cima da Gilete e me disse foi bom te ver. Olhei para ele e disse:

— Você não precisa disso para aliviar sua dor.

Ele respondeu de cabeça baixa: — preciso sim, cortar me alivia.

Foi quando percebi que ele não me parou para falar da palestra, foi um grito de socorro, na verdade ele me parou para pedir ajuda, ele não disse, o corpo dele falava ou melhor GRITAVA.


Automutilação (Cutting). Sabe aquele adolescente que passa a gilete no pulso,ou pega a lâmina do apontador e faz um corte no pulso ou até mesmo na barriga, na perna, na virilha em lugares que possam esconder as marcas dos cortes? Isto caracteriza
automutilação, comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo.

Por que os adolescentes se automutilam?

Em 2013 Giusti fez uma pesquisa com adolescentes que se automutilvam para saber o que levaram eles a se cortarem. 75% dos entrevistados por ele, disseram que é uma tentativa de “parar sensações ruins”. Dentre os entrevistados, 70% responderam que o objetivo é “aliviar sensação de vazio” ou “autopunição”. Somente 7,5% disseram querer chamar atenção.

Ou seja pessoal, quando um adolescente se corta, ele não tem como finalidade CHAMAR A ATENÇÃO dos pais, professores, ou adultos em geral. Não constituem uma “birra” de adolescentes revoltados sem causa. A dor física seda a dor emocional, tornando a primeira preferível à segunda. Nesta perspectiva, o se cortar torna-se uma válvula de escape às dores psíquicas que afetam os indivíduos.

E como lidar com os adolescentes que se automutilam? A maneira mais eficiente de auxiliar alguém que se automutila é prestar-lhe uma escuta. Não qualquer escuta, mas uma escuta revestida de empatia qualificada, cuja finalidade seja auxiliar o (a) adolescente que sofre e buscar ajuda profissional o mais rápido possível. Automutilação não é modinha, é SOFRIMENTO.