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Domingo, 28 de Junho de 2020, 17h:08

Só pela sororidade vamos assegurar nossa presença nos espaços de poder

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(Foto: Reprodução)

Como mulher, empresária de comunicação, sobretudo, consciente do nosso poder na sociedade e certa da diferença que temos feito no mercado, resolvi voltar a falar sobre sororidade. Um tema que, aliás, vem ganhando força há alguns anos, como forma de descrever o apoio feminino a outras mulheres, no entanto, ainda caminha muito timidamente entre nós, por estas bandas de Mato Grosso, sob um olhar mais ‘tupiniquim’.

Recentemente, deputadas de diferentes partidos defenderam, na Câmara Federal, uma maior presença feminina nos espaços de poder, apostando que neste ano de eleições municipais, aumente o número de mulheres nas câmaras de vereadores e prefeituras brasileiras.

Para muitas destas mulheres, que tiveram a atitude de assegurar seu espaço de poder, as bandeiras – o que é uma pena - não mudaram muito, porque as necessidades da população, infelizmente, também não foram alteradas. Ou seja, muitas coisas que têm sido debatidas ou usadas em discursos, parecem que até hoje permanecem apenas nos discursos. Assim, muitas das pautas são as mesmas, porque as defesas continuam no campo das promessas ou das estratégias de marketing. E, pior, ainda enclausuradas – e empoeiradas – no papel.

Assim, os temas femininos – a exemplo da agenda política masculina – continuam em torno da educação, da saúde e dos processos econômicos, sobretudo, na busca de garantir mais postos de empregos e mais direitos aos trabalhadores que têm. Aliás, com as últimas reformas trabalhistas e previdenciárias, temos observado perdas gigantescas em direitos adquiridos após longas e duras batalhas.

Brigarmos para assegurar nosso espaço, neste mundo ainda comandado pelos homens, fazendo valer regras iguais. Brigar, na prática, pela defesa do artigo 5º da Constituição [que preconiza a igualdade entre homens e mulheres].

Para isto, precisaremos usar, de verdade, o termo sororidade, como um sentimento real de empatia. A empatia visceral, que toca de uma forma muito mais profunda, porque não é só uma empatia de me colocar no lugar da outra. É realmente estar no lugar da outra. Assim, apostar na mulher, criar protocolos e estratégias de lutas que façam valer a entrada de algumas de nós, nossas representantes, neste terreno tão pouco utilizado pelo feminino e que, contudo, seria profundamente alterado por meio de nossos saberes.

Nos grupos de Whatsapp dos quais faço parte, alguns como Mulheres MT, temos, inclusive, várias de prontidão para disputar estas eleições, cadeiras na Câmara de Vereadores de Cuiabá. Eu não duvido que, se tivermos sororidade, elas se tornarão, em breve, parlamentares. Prontas para defender as causas sociais, dentre elas, alternativas eficazes – por meio de projetos de lei –, como forma de reduzir os números cada vez maiores de violência, colocando sempre a mulher como o maior alvo e o mais fácil.

Ainda não sabemos se as eleições municipais poderão ou não ocorrer em outubro, por conta da escalada da pandemia da covid-19, que tem registrado números cada vez mais altos de casos confirmados da infecção e, diariamente, mais mortes. Aliás, já há algum tempo o Congresso vem discutindo saídas, com alternativas que podem se concretizar com a realização do pleito em duas datas: 15 de novembro ou 6 de dezembro [ambas caindo em um domingo].

Independente da data, precisamos assegurar uma reviravolta nas urnas, em se tratando de elevar o quadro, nesta disputa por vagas nas câmaras municipais, com a entrada em cena de um maior número de mulheres. No entanto, isto vai exigir, concretamente, uma mudança de posicionamento para muitas de nós, pois juntas, sem dúvida, formamos um time invencível para lutar contra o tabu, o medo, o preconceito e a opressão que a sociedade machista nos impõe ainda hoje. Por meio, aliás, das dezenas de recados diários, dentre eles, os abusos, os espancamentos, os constrangimentos sociais, por meio dos rótulos e mesmo aqueles profissionais, quando nos fecham as portas, enquanto força de trabalho. Assim, colocando fim às rivalidades e ao desrespeito, quando – mesmo sem intenção -, reforçamos estereótipos, como “loira burra, gostosa ou puta”, numa forma de reduzir outra mulher.

Também precisamos nos atentar, paralelamente, para que não mais ocorram situações eleitorais que colocaram, historicamente, e por muitos anos e em vários pleitos, as mulheres como ‘laranjas’. Pior: com o consentimento de muitas delas. Um fenômeno, infelizmente, ainda bastante conhecido entre nós e, igualmente, do Tribunal Superior Eleitoral, que chegou a realizar um extenso relatório sobre este processo, agravando ainda mais a já escassa representatividade feminina na política.

Situações como esta, obviamente, ainda podem vir a acontecer, mas precisamos denunciá-las. Nomes, nós já temos, ou melhor, começam a despontar, porque a ideia é que cresça o número de mulheres levando a sério a busca desta parcela de poder assegurada, secularmente, pelos homens na política. Por ora, enquanto os nomes não começam a surgir em volume, vamos debater alternativas públicas e políticas com as mulheres que já tiveram coragem de mostrar as suas caras, como Zilda Castanho, que se tornou pré-candidata pelo Democratas, a comunicadora digital cuiabana Maysa Leão, que deverá disputar pelo Cidadania, e Ruth Dutra que, recentemente, nos grupos de mulheres dos quais faço parte, comemorou sua aprovação no processo seletivo exigido pelo Partido Novo, na disputa pela vereança.

Juntas, podemos assegurar nossa representatividade e, finalmente, fazer valer nossos direitos, que hoje ainda estão, em grande parte, apenas no papel.

Lucy Macedo é empresária, Diretora do site Única News e Revista Única.