17 de Fevereiro de 2025
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PARANÁ Quarta-feira, 02 de Outubro de 2024, 18:28 - A | A

02 de Outubro de 2024, 18h:28 - A | A

PARANÁ / VEJA COMO TER ACESSO

Paraná passa a fornecer medicamento à base de canabidiol para esclerose múltipla

Pacientes que se encaixem nos critérios poderão receber o remédio em até dois meses a partir de solicitação feita em farmácias das regionais de saúde.

Da Redação
Guia Medianeira



Um remédio para esclerose múltipla é o primeiro à base de canabidiol (CBD) a ser fornecido pelo Governo do Paraná. Desde o início de setembro pacientes com a doença autoimune, que afeta o sistema nervoso central, podem fazer a solicitação ao estado.

O medicamento de tetraidrocanabinol (THC) associado a canabidiol (CBD) se chama Mevatyl e, conforme a Secretaria de Estado de Saúde do Paraná (Sesa), é usado no tratamento de pacientes com espasticidade moderada a grave causada pela esclerose múltipla.

A espasticidade é um sintoma que provoca rigidez e dificuldade na movimentação dos músculos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registrou o remédio em julho de 2022 no Brasil, o primeiro à base de cannabis sativa, gênero da planta a partir da qual também se produz a maconha.

De acordo com a Secretaria de Saúde, a medicação é fornecida na forma de frasco spray com 10 ml e cada unidade custa R$ 859,92. A distribuição, diz o governo, acontecerá nas farmácias das 22 Regionais de Saúde.

O médico Leonardo Valente de Camargo, diretor do Departamento de Neurologia da Associação Médica de Londrina e membro da Câmara Técnica de Neurologia e da Comissão de Doenças Raras do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), explica que a associação entre THC+CBD minimiza os efeitos da espasticidade, que afeta de 60% a 90% dos pacientes.

"Enquanto o THC alivia a espasticidade e a dor muscular, o CBD ajuda a equilibrar o impacto, reduzindo os efeitos adversos. Estudos demonstraram que essa combinação reduziu a espasticidade e apresentou uma melhora da qualidade de vida dos pacientes, além da redução da dor", explica.

O médico avalia que a medicação parece ser uma opção eficaz e segura para o tratamento desses sintomas, "particularmente em quem não teve alívio suficiente com as terapias convencionais".

A batalha pelo tratamento

A possibilidade de ter acesso gratuito a uma nova forma de controlar os sintomas da esclerose significa uma esperança para quem convive com a esclerose múltipla há anos, como é o caso da bióloga Célia Batista Martins, moradora de Londrina.

Ela recebeu o diagnóstico em 1998, após sentir alguns sintomas como dores e dificuldades na locomoção. Na época, as informações sobre a esclerose múltipla ainda eram poucas e havia outro obstáculo: a região de Londrina não oferecia tratamento.

Célia é fundadora e atual representante da Associação Londrinense dos Portadores de Esclerose Múltipla (Alpem).

"O meu neurologista foi quem proporcionou a aproximação de outras pessoas. Formamos um grupo pequeno, que foi aumentando ao longo do tempo, e isso já fazem 24 anos. Quando eu consegui o tratamento, decidi partilhar essa luta. Um dos nossos objetivos é justamente esse, compartilhar as histórias, ajudar uns aos outros", relata.

Ao longo dos anos ela fez uso de diversos medicamentos e foi informada pelo neurologista que a acompanha sobre a inclusão do canabidiol no controle da esclerose. Porém, a adesão ao medicamento não foi imediata.

"Eu passei por vários tratamentos, fisioterapia, hidroterapia, pilates, sempre buscando melhorar a condição de vida. No começo fiquei bem resistente, porque achei que deveria esperar mais um pouco até que se comprovasse a eficácia. Comecei a aplicar há poucas semanas, porque agora, vendo que realmente é eficiente, achei que deveria tentar", explicou.

Agora, Célia disse que pretende pedir ao Governo do Paraná o medicamento à base de canabidiol.

Regulamentação é recente no Paraná

Em fevereiro, o Paraná começou a regulamentar os medicamentos à base de canabidiol e tetrahidrocanabinol, entre eles o que trata a espasticidade causada pela esclerose múltipla.

Especificamente para estes sintomas, o processo foi finalizado em 2 de setembro, com a publicação no Diário Oficial do Estado de uma resolução com os critérios do tratamento.

O acesso a medicamentos produzidos à base de canabidiol e tetrahidrocanabinol é garantido no Paraná pela Lei Pétala, promulgada em 13 de fevereiro de 2023 pela Assembleia Legislativa.

A legislação tem esse nome em referência a uma menina de cinco anos, que foi diagnosticada com uma doença rara que afeta o desenvolvimento neurológico e simboliza pacientes paranaenses que usam esse tipo de remédio, mas têm dificuldade para conseguir pelos altos custos.

Quem tem direito ao medicamento?

De acordo com a regulamentação, o tratamento é destinado a pacientes acima de 18 anos, com diagnóstico clínico de espasticidade moderada a grave com grau de 2 ou 3 na Escala de Ashworth e ausência de melhora ou presença de contraindicação ou intolerância ao uso de outros tratamentos, como baclofeno, dantroleno, Diazepam, gabapentina, tizandina e toxina botulínica.

O tratamento não é destinado a pacientes que se enquadrarem em qualquer um dos requisitos abaixo:

- Histórico suspeito ou conhecido de esquizofrenia ou outra doença psicótica;
- Histórico familiar de esquizofrenia ou outra doença psicótica;
- Histórico de transtorno de personalidade grave ou outros transtornos psiquiátricos significativos, exceto depressão associada com sua condição subjacente;
- Histórico de epilepsia ou convulsões recorrentes;
- Histórico de dependência química a Cannabis sativa;
- Gravidez e lactação;
- Idoso frágil com risco de quedas;
- Espasticidade graus 0, 1, 1+ e 4 de acordo com a Escala de Ashworth modificada.

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