O GLOBO
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fizeram juntos uma declaração à imprensa nesta segunda-feira, após duas reuniões oficiais pela manhã. Lula fez fortes críticas ao bloqueio econômico promovido pelos Estados Unidos ao país vizinho. Além de dizer que essa era a causa pela falta de dólares na Venezuela, afirmou que o embargo era "pior do que uma guerra".
- O Maduro não tem dólar para pagar as suas exportações. É culpa dele? Não. É culpa dos Estados Unidose que fez um bloqueio extremamente exagerado. Eu sempre acho que o bloqueio é pior do que uma guerra. A guerra, normalmente, morre soldado que está em batalha. Mas o bloqueio mata criança. Mata mulhereres, mata pessoas que não tem nada a ver com a disputa ideológica que está em jogo - afirmou.
Segundo Lula a visita é um "momento histórico", e o Brasil recuperou o direito de fazer "política com seriedade" ao abrir um canal de diálogo com a Venezuela.
— Queria dizer aos meus amigos do Brasil, à imprensa brasileira, a alegria deste momento histórico que estamos vivendo agora. Depois de oito anos, o presidente Maduro volta a visitar o Brasil e nós recuperamos o direito de fazer política com a seriedade que sempre fizemos, sobretudo com os países que fazem fronteira. A Venezuela sempre foi parceira, e, por conta dos equívocos, o presidente Maduro ficou oito anos sem vir ao Brasil, e o Brasil sem ir à Venezuela — afirmou.
Na visão do presidente brasileiro, é preciso recuperar a corrente de comércio entre os dois países. Lula disse que houve uma queda a menos de um terço na relação comercial Brasil e Venezuela.
— E nós temos um pequeno problema de ordem política, de ordem cultural, de ordem econômica e de ordem comercial. A gente tinha uma relação comercial que teve um fluxo de praticamente US$ 6,6 bi e hoje tem pouco menos que US$ 2 bi. Isso é ruim para a Venezuela e para o Brasil. Porque o comércio extraordinário é aquele que tem mais ou menos funcionado como se fosse uma via de duas mãos. A gente vende e a gente compra — afirmou Lula.
Maduro agradeceu o convite do presidente brasileiro e também exaltou o encontro, que classificou como o início de uma "nova época" para o país na região.
— Hoje se abre uma nova época, e temos frente a nós a construção de um novo mapa de colaboração conjunta que possa abranger a todas as áreas da economia, comércio, educação, saúde, cultura, agro, e que possa abranger as áreas de relacionamento horizontal entre os povos, permitindo um diálogo franco, direto e permanente entre os governos do Brasil e da Venezuela — afirmou o venezuelano, reforçando que o país está de portas abertas para os empresários brasileiros. — A Venezuela hoje está preparada para que retomemos as nossas relações, isso junto aos investidores e empresários brasileiros. A Venezuela está de portas abertas e com plenas garantias aos empresariados.
Primeira visita desde 2015
Maduro não vinha ao país desde 2015, quando participou da posse da ex-presidente Dilma Rousseff. Sua presença no país não era permitida desde agosto de 2019, quando uma portaria editada pelo então presidente Jair Bolsonaro proibia o ingresso no país do líder venezuelano e de outras autoridades do vizinho latino-americano.
Até o último dia do governo Bolsonaro, a diplomacia brasileira reconhecia o dirigente opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Guaidó chegou a ser reconhecido pelos Estados Unidos e mais 50 países, do início de 2019 até janeiro de 2023. Mas, após uma tentativa fracassada de tirar Maduro do poder a qualquer custo, o opositor acabou perdendo legitimidade interna e externamente. O Brasil era um dos poucos países que ainda o reconheciam.
No início de março, por iniciativa de Lula, uma pequena delegação liderada por Celso Amorim, assessor especial da Presidência, foi a Caracas para o primeiro encontro de alto nível do governo com Maduro. Na época, segundo O GLOBO informou, Amorim foi até Caracas ter uma primeira conversa com o governo venezuelano sobre a situação política no país, a importância das eleições presidenciais de 2024, além de temas da relação bilateral, entre eles a dívida que o país tem com o Brasil, de cerca de US$ 1 bilhão (dos quais 80% são com o BNDES).
Nesta segunda, Lula recebeu o chefe de estado venezuelano seguindo o protocolo de visitas oficiais. Maduro subiu a rampa do Palácio do Planalto ao lado da sua esposa, Cilia Flores, e foi recebido por Lula e pela primeira-dama Janja da Silva.
De lá, os dois seguiram para uma reunião privada no gabinete de Lula. Na sequência, participaram de uma reunião com membros do governo brasileiro, incluindo ministros de estado, e da comitiva de Maduro.
Estavam presentes na reunião, além do presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin; o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim; além dos ministros Paulo Pimenta (Secom), Carlos Fávaro (Agricultura), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Silveira (Minas e Energia), e o secretário- executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli.
As primeiras-damas Janja da Silva e Cilia Flores também estavam na reunião. Na parte da tarde, os dois estarão no Itamaraty, onde o governo brasileiro oferecerá um almoço ao presidente venezuelano.
Lula e Maduro ainda devem assinar um Memorando de Entendimento em matéria agro alimentar e um segundo sobre mecanismo de supervisão da cooperação bilateral.
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