Ari Miranda
Única News
Quase oito meses após ser demitido da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, o ex-deputado federal Neri Geller (PP-MT) ‘rasgou o verbo’ sobre a polêmica do “leilão do arroz”, que resultou em sua demissão pelo presidente Lula da Silva (PT) em junho de 2024 e a crise provocada dentro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), após a tentativa de importação bilionária de 263 mil toneladas de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Em entrevista recente ao Programa Conexão Rural, no Youtube, Geller criticou o ministro da Agricultura e senador licenciado, Carlos Fávaro (PSD-MT), afirmando que discordou desde o início das discussões da compra de arroz importado, ante a crise vivida no Rio Grande do Sul, maior produtor do grão no país, que meses antes havia sido assolado pelas enchentes de 2024.
“Quando começou a se discutir essa questão [da compra de arroz] ainda antes da enchente, da possibilidade da importação de arroz, eu não fui chamado pelo ministro Fávaro, que tinha um 'quêzinho' de 'ciumeira' [sic.], completamente desnecessário. Mas eu participei de uma reunião com o presidente Lula, onde estava eu, o ministro [Fernando] Haddad (Economia), o ministro Carlos Fávaro, o Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e também os técnicos do Ministério da Fazenda, e eu coloquei bem claro a minha posição com relação à importação”, disse Neri.
Além disso, o ex-secretário disse que a medida tomada por Fávaro, de importar arroz no momento em que o maior produtor do país estava em crise foi feita com uma intenção claramente política.
“Na hora da enchente [do Rio Grande do Sul], eu fui radicalmente contra! Gastar cinco, 6 bilhões de reais, quando nós não tínhamos dinheiro pra seguro [rural]. A preocupação do governo com relação ao fornecimento é válida? É válida sim. Mas vamos também ser coerentes com a questão”, afrimou.
“A política implementada [pelo ministro Fávaro] foi um equívoco, e cabia a nós como técnicos, que conhecemos o setor, pautar o presidente. E a partir daquele momento saiu da pauta. Ele [Fávaro] voltou pra pauta somente na enchente, na ânsia de querer 'fazer média' política com o Presidente da República, e o presidente Lula foi completamente mal informado”, disparou Geller.
O ex-secretário também acusou Carlos Fávaro de ser o mentor de sua demissão da Secretaria de Política Agrícola, alegando que o ministro “pediu sua cabeça” por “ciúme político”.
“Eu não tenho nenhuma vírgula pra esconder. O meu defeito político é que eu sou 'pra frente', e isso acaba criando 'ciumeira' [sic.], porque eu sempre tive posições muito firmes, (...) e eu sempre tive a solidariedade da maioria dos produtores, das lideranças do setor arrozeiro, porque me conhecem desde 2007, quando nós renegociamos todo o endividamento, o código florestal. Eu faço as coisas por convicção mesmo, e isso gerou insegurança [no Fávaro]. Depois que eu saí do Ministério, quando viram o que fizeram, aí me chamaram de volta, mas não me senti à vontade pra voltar”, assegurou.
Por fim, Neri Geller, que também já foi Ministro da Agricultura no último ano de governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), criticou a forma como Fávaro vem conduzindo a pasta, classificando como vergonhoso o desempenho do ministro, reiterando sua isenção de culpa pelo leilão e que a ideia do certame por Carlos Fávaro demonstrou precipitação de seu ex-superior.
“O ministério [da Agricultura] está acéfalo. Não participa de políticas de crédito, não participa de políticas do setor agrícola, não exerce a política de garantia de preço mínimo. É uma vergonha, um absurdo, querer fazer contrato de opção, quando o mercado está muito acima do preço mínimo. Isso é desestimular, não é ajudar o governo”, enfatizou.
“A posição minha e do Ministério da Fazenda foi contra a importação. (...) A partir desse momento, o ministro Fávaro pegou e pôs isso 'debaixo do braço' e, obviamente, eu tenho respeito e sigo hierarquia (...). E como secretário, eu sigo o governo e respeito, mas a minha posição foi contrária e quem carregou essa pauta [do arroz] foi o ministro Fávaro (...). A ânsia de querer fazer política, no ponto de vista de ajudar a ser responsável no derrubar da inflação, de fazer cesta básica, fazer assistencialismo, foi isso que aconteceu”, pontuou Geller.
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