Folha Press
Analistas de Investimentos entrevistados pela Folha apontam que os atos de vandalismo praticados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (8) dão uma nova dimensão à tensão política em curso no país e tendem a afugentar o capital estrangeiro.
Para representantes do Mercado financeiro, ainda é preciso “cautela e observação” em relação às consequências dos atos de depredação e violência na Praça dos Três Poderes, mas é inegável que a imagem que fica para os Investidores é negativa.
“Os Investidores não estão acostumados com esse tipo de evento, de natureza política – e nós também não”, Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. “Passa uma imagem muito ruim da situação do país e pode afugentar os Investidores estrangeiros, que investem na bolsa.”
Segundo ele, uma versão brasileira da invasão do Capitólio dos Estados Unidos, registrada em 6 de janeiro de 2021, foi considerada uma possibilidade, mas improvável. “É negativo para o patrimônio brasileiro, porque significa que há algo muito errado com a política, que não encontrou alternativas pacíficas e deixou o cenário chegar a esse patamar”, diz Borsoi.
“Isso aumenta a incerteza política, tem que ver qual vai ser a reação do Governo”, diz. “Investidores devem exigir maior prêmio de risco, haverá reação negativa do mercado nesta segunda-feira [9]”, diz Borsoi, apostando que os Investidores devem “correr para o dólar”.
“Na bolsa, todos os setores devem ser afetados. É um risco sistemático, que atinge especialmente ativos mais ligados ao ciclo doméstico, como setor imobiliário, varejo, locadoras e bancos”, diz.
O impacto será negativo – só não se sabe por quanto tempo
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, concorda. “Quando se pensa no Brasil, um dos argumentos para atrair capital é que temos uma relativa estabilidade em relação a outros mercados emergentes”, diz. “Agora a bolsa e o dólar vão nos dizer o quanto eventos como este domingo comprometem essa imagem.”
Arbetman lembra que o preço de uma ação é calculado pelo fluxo de caixa esperado sobre a Taxa de juros. “Temos tendência a ver a bolsa precificando o aumento do nível de risco”, diz, lembrando, porém, que as invasões de domingo não interferem na dinâmica operacional das empresas. “Vamos ter impactos negativos, mas não sabemos quanto tempo vão durar”, diz.
Para o analista da Ativa, a palavra é “cautela” e não “pânico”. “O fato de estarmos em um momento delicado para o mercado de ações em todo o mundo e de sermos uma economia emergente, dependente de capital estrangeiro, pode pesar ainda mais na bolsa”, diz. “A constatação de maior instabilidade política contribui para o embaçamento do quadro.”
Na opinião de Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, o momento é de observação para ver como o Governo vai agir para controlar essas manifestações. “Existe o receio de que se espalhem pelo país, inclusive bloqueando estradas, repetindo as cenas que vimos nas Eleições”, diz.
“Se o movimento ganha força e bloqueia as estradas, desacelera a economia e gera impactos negativos em diversas empresas, que dependem principalmente das rodovias”, diz.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, avalia que haverá uma saída de Investidores do Brasil, que segue muito dividido.
“Se antes o PSDB era uma oposição muito silenciosa [aos governos doPT]agora o partido vai ter uma oposição muito barulhenta”, diz. “Vai ter uma repercussão negativa para os Investimentos”.
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