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VARIEDADES Sexta-feira, 28 de Junho de 2019, 09:09 - A | A

28 de Junho de 2019, 09h:09 - A | A

VARIEDADES / TRAGÉDIA

Camila Pitanga relembra morte de Domingos Montagner: "Lido com a dor até hoje"

Adriana Ferreira da Silva
Marie Claire



Camila Pitanga volta aos holofotes com uma peça, Por Que Não Vivemos?, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio; na TV, com a série Aruanas, da Globoplay – cujo primeiro episódio será exibido dia 3, na TV aberta –, e como apresentadora do programa Superbonita, no GNT, a partir de agosto. O retorno ocorre após um “sabático”, no qual se dedicou a uma “rotina restauradora”, ligada à família e aos amigos, necessária para superar algo que a modificou completamente: a morte do amigo Domingos Montagner, em 2016, que se afogou enquanto os dois nadavam num trecho do rio São Francisco, durante um intervalo das gravações da novela Velho Chico.

Impossível não se emocionar com o relato dela sobre a tragédia. “Lido com essa dor até hoje, mas o tempo é guardião, no sentido de você amadurecer e respeitar essa dimensão do mistério que é a vida”, filosofa. “O que aconteceu não obedece a uma lógica. Me dei esse ano para colocar em prática algumas reflexões que eram até anteriores, de como lidar com o tempo, o trabalho, a vida familiar. Para uma pessoa workaholic, foi interessante ver que, no simples, a gente pode se fortalecer.”

Confira o depoimento da atriz sobre o que aconteceu no dia da tragédia e, a partir desta terça (2/7), leia a íntegra da entrevista, na qual Camila fala sobre os novos trabalhos, família e o relacionamento com sua mãe, Vera Manhães. Nâo perca a edição de julho de Marie Claire!!!!

O dia da tragédia

"O Domingos [Montagner], o Gabriel [Leone] e eu tínhamos combinado de irmos, juntos, tomar um banho no rio. Domingos e eu gravamos de manhã e ficamos no set, esperando o Gabriel, que ia gravar um pouco mais. Estava muito quente e, como ele estava demorando, a gente decidiu se adiantar: fomos pegar as roupas de banho, e ficamos em contato por telefone. No caminho, vimos em frente ao hotel, que ficava meio no alto de uma montanha, uma enseada. Fiquei até na dúvida se era um lugar particular, porque estava tudo novo, tinha barraca. As pessoas podiam estar ali, mas, como era dia de semana, estava vazio. A praia era muito tranquila. Não tinha marola ou nada que ensejasse ter algum perigo. Tanto que a gente mergulhou e estava tudo bem. Quando nadamos em direção ao grande leito do rio, percebi, numas pedras, uma marolinha. Mas minha preocupação era com as pedras e falei: 'Domingos, acho melhor voltar', porque fiquei com medo de a gente se machucar. No que a gente tentou voltar, a gente nadava, mas não conseguia sair do lugar. Tive um momento de medo, mas disse: 'Calma, Camila', porque eu tinha uma noção de que tinha uma lateral toda de pedra. Ao invés de tentar lutar contra a correnteza, nadei para o lado, em direção às pedras, e falei: 'Vem pra cá, é tranquilo'. Mas o Domingos me olhava e não falava nada. Fui até ele, o puxei, porque eu estava despreocupada, e disse: 'Tô te falando. É só vir pra cá', e voltei à pedra. Duas vezes tentei buscá-lo, mostrando que não tinha perigo, mas ele dizia que não conseguia. Na verdade, ele falou muito pouco. Na última vez que eu voltei à pedra, Domingos olhou muito grave, com um misto de… E ali eu entendi o perigo. Ele submergiu uma vez. Voltou. Não foi uma coisa desesperada. Ele fez um gesto assim de como quem diz: 'não vai dar', e não falou mais. Submergiu… E eu não o vi mais.”

Momentos de pânico

“Quando o Domingos submergiu, entrei em total desespero. Alguma coisa me dizia que eu não podia mais ir ali. Tudo isso parece uma eternidade, mas foram segundos. Lembro de me bater, querendo me acordar. Comecei a chamar as pessoas no meu campo de visão. Tinha dois jovens, para quem eu gritei, que vieram num barquinho, e começamos a busca. Quando eu subi na embarcação, estava muito nervosa. Daí, entramos no leito do rio e foi um novo momento de entendimento, de compreensão do que estava acontecendo, porque, de cima, você via no grande leito, bolsões... Intimamente eu entendia que talvez a gente não o encontrasse. Depois passei o dia inteiro no meu quarto, de onde dava para ver o rio. Foi uma agonia.”

 

Processo de cura

“Após o acidente, fiquei dois dias em casa, com a minha família, meus amigos todos me cuidando, com muita solidariedade. Recebi muitas manifestações de carinho do Brasil inteiro. Andava na rua e tinha gente que caminhava na minha direção e me dava um abraço. Entendi que terminar as gravações da novela era uma forma de fortalecimento. Faço terapia desde os 19 anos, e mantive num processo continuado. São etapas em que você revive a situação. Contar é reviver."

Família de Montagner

"Fiz questão de ir à casa do Domingos contar à família o que aconteceu naquele dia. Eu sentia que toda as vezes que eu contava, ainda que tivesse muita emoção e dor, tirava de um lugar… Essa questão de afogamento lança imagens. Cada um cria um repertório, que é pior do que se passou. Senti que eu acalmava as pessoas ao contar. Mantenho contato com a Luciana [Lima], mulher do Domingos. Em meio a essa dor, ter o respeito dela foi uma das coisas mais comoventes que vivi. Luciana me transmite muita força. É uma grande mulher. A familia, como um todo, tem sido de um respeito, me acolheu na dor, entendeu. Isso me fortaleceu bastante.”

Lembranças de Domingos

"Quando a novela [Velho Chico] chegou ao 100º capítulo, fizemos uma comemoração muito preciosa, em que todos eram convidados a apresentar algo especial. Lucy [Alves] e eu cantamos. Já o Domingos fez um número de palhaço. Eu fico com essa memória: do entusiasmo, da alegria que era aquele homem lindo, enorme, fazendo aquela cena de palhaço. O Domingos não era um cara expansivo, mas, sim, muito carinhoso com todo mundo. Todos da equipe tinham um carinho enorme por ele, porque quando ele abraçava, ele abraçava! Quando olhava, dava atenção plena. Era muito íntegro. Conhecer a família dele mais perto, a Luciana, diz muito sobre quem ele é. Não coloco no passado porque essa memória está muito viva. Domingos é amado e respeitado. Acho que é isso que fica. Essa integridade na simplicidade. Ele era totalmente respeitoso com qualquer pessoa."

 

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