José Wenceslau de Souza Jr
Única News
Após a proposta apresentada pelo Banco Central para redução dos juros do crédito rotativo, gerou-se um movimento por agentes financeiros para a criação de uma tarifa com a intenção de diminuir o número de parcelas sem juros nas compras feitas com cartão de crédito. Com isso, diversos representantes dos setores produtivos se posicionaram contrários à campanha, inclusive, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Segundo o próprio Banco Central, o cartão de crédito responde por 40% do consumo no Brasil, parcela importante da movimentação econômica, considerando também que o consumo das famílias é um dos fatores de maior importância para o PIB brasileiro.
Para os setores do comércio e de serviços, o parcelamento no cartão de crédito é uma ferramenta imprescindível, tanto para as empresas, quanto para os consumidores, ampliando o conjunto de bens que podem ser adquiridos, alguns dos quais não poderiam ser comprados se não houvesse a possibilidade de parcelamento.
Em média, quem compra no cartão de crédito faz pelo menos 13 parcelas. A proposta, a ser incluída na Medida Provisória que criou o ‘Programa Desenrola Brasil’, visa a criação de uma tarifa para que os consumidores paguem juros em parcelamentos maiores que 12, com o objetivo de combater o uso excessivo do crédito e o endividamento das famílias.
A medida, com certeza, desincentivará as compras parceladas e afetará diretamente o consumo das famílias e o faturamento das empresas, dois fatores de muita importância para determinar o ritmo de crescimento da economia e as expectativas futuras.
Na capital mato-grossense, por exemplo, 7 em cada 10 famílias cuiabanas possuem dívidas com o cartão de crédito, sendo o principal tipo de dívida, conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC e analisada pelo Instituto de Pesquisa e Análise da Fecomércio (IPF-MT).
Esses dados locais, com certeza, refletem no estado, mas não de maneira negativa, já que o endividamento é importante para a economia, pois significa que a população está tendo condições de assumir dívidas, diferente de inadimplência, quando o consumidor deixa de pagar as contas.
Ainda de acordo com essa pesquisa, observa-se uma redução no número de famílias com contas em atraso, o que já vem ocorrendo há alguns meses. Em números absolutos, 179 mil famílias possuem dívidas na capital – sendo que dessas, 156 mil possuem contas no cartão de crédito – no mês de setembro, e apenas 48 mil estão com contas em atraso.
Entre esses últimos, há uma queda de quase 3 mil famílias inadimplentes no comparativo com agosto deste ano e chegando a ultrapassar um recuo de 10 mil em relação ao mesmo mês do ano passado.
O acesso ao crédito, por meio do parcelamento com cartão, é uma das ferramentas econômicas mais importantes para determinar a capacidade de consumo, influenciando diretamente o setor terciário, porém, o impacto ultrapassa o comércio e serviços e chega nos demais setores. E todo esse ciclo estabelece o quanto uma economia pode ou não crescer.
O combate ao endividamento é tão importante quanto o crédito, e nós, comerciantes, somos os maiores interessados que as dívidas sejam pagas pelos consumidores. Mas existem alternativas que podem ser avaliadas e implementadas, como a realização de campanhas e programas que visem a educação financeira da população para que utilizem o crédito da melhor forma possível.
O que não pode ocorrer é o retrocesso da economia, onerando ainda mais o consumidor brasileiro, prejudicando o ambiente dos negócios e, consequentemente, toda a economia do país.
José Wenceslau de Souza Júnior é presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac e IPF Mato Grosso, vice-presidente da CNC e comerciante há mais de 40 anos. E-mail: [email protected]
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