25 de Junho de 2025
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ARTIGOS/UNICANEWS Terça-feira, 24 de Junho de 2025, 16:14 - A | A

24 de Junho de 2025, 16h:14 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / CHRISTIANY FONSECA

A guerra é cruel, mas o mercado agradece

Única News



Quando mísseis são disparados entre Israel e Irã, o mundo se assusta, governos se manifestam, manchetes explodem. Mas há uma outra camada silenciosa nessa guerra, uma que não aparece nos noticiários com o mesmo alarde: a guerra como negócio.

Por trás da retórica diplomática, dos apelos por segurança e dos discursos sobre soberania, existe uma engrenagem que gira com precisão cirúrgica. Não importa quem atira primeiro. Quando o conflito eclode, quem vence sempre é o mercado armamentista.

A que serve a intervenção dos EUA?

O envolvimento dos Estados Unidos no conflito entre Irã e Israel não é surpresa para ninguém. Historicamente, Washington mantém uma aliança sólida com Tel Aviv. Mas reduzir essa intervenção a um gesto de apoio diplomático seria ingenuidade geopolítica.

A intervenção dos Estados Unidos não é apenas um gesto de solidariedade com Israel, é, sobretudo, uma reafirmação de “hegemonia imperial”. Os EUA não entram em guerras apenas para defender aliados, mas para garantir que o mundo continue a orbitando ao redor de seus interesses estratégicos, econômicos e militares.

Intervir no Oriente Médio, mais do que apoiar Israel, é enviar um recado ao planeta: “a ordem global ainda passa por Washington”. Cada movimento, cada reforço militar, cada ameaça velada carrega o peso simbólico de um império que não quer e não pode parecer frágil. É a política da força disfarçada de diplomacia. É a lógica da dominação sob a fachada da defesa.

Essa atuação não é pontual, nem acidental. Faz parte de um projeto geopolítico sustentado há décadas, onde a paz só é bem-vinda se for submissa, e os conflitos são tolerados, ou mesmo alimentados, desde que mantenham os EUA no centro do jogo.

O ponto central não é apenas afinidade ideológica ou defesa de aliados: é hegemonia, influência regional e, principalmente, manutenção de interesses econômicos e estratégicos.

Ao intervir, mesmo que apenas com ameaças, bases militares ou apoio logístico, os EUA reafirmam sua posição de potência global. Evitam que rivais como China e como a Rússia ganhem espaço no Oriente Médio. E, em paralelo, alimentam um mercado bilionário que precisa de tensão constante para se manter pulsante.

O lado invisível da guerra

A cada ataque aéreo, cada escudo antimíssil acionado, empresas como Lockheed Martin, Raytheon e Northrop Grumman sorriem em silêncio. Ações sobem, contratos se renovam, investimentos fluem. A guerra é cruel, sim. Mas para o complexo industrial-militar, ela é extremamente lucrativa.

Essa é a engrenagem que raramente aparece nas coberturas jornalísticas: a guerra como política de mercado. Não se trata apenas de proteger territórios ou responder a provocações. Trata-se também de manter vivo um setor econômico que depende da instabilidade, do medo e da ameaça constante.

Paz não dá lucro

É duro admitir, mas necessário: a paz atrapalha os negócios. Ela desmonta arsenais, reduz orçamentos de defesa, ameaça empregos e dividendos nas grandes corporações do setor bélico. Já a guerra, mesmo que localizada, intermitente ou “cirúrgica”, gera demanda constante por armamentos, segurança cibernética, tecnologias de vigilância, e tudo o que transforma a violência em produto.

E quem paga essa conta? Os civis. Sempre os civis.

Mortos, feridos, deslocados, esquecidos. Homens, mulheres, crianças que viram estatísticas nos rodapés dos telejornais. Números que se acumulam, rapidamente substituídos por análises militares e gráficos de geopolítica. Porque no fim das contas, vidas destruídas não geram tanto engajamento quanto mapas coloridos de ataques estratégicos.

Uma guerra sem fim serve a quem?

O conflito entre Irã e Israel é antigo, complexo e cheio de camadas históricas, religiosas e territoriais. Não há neutralidade fácil aqui. Mas é possível e urgente questionar o que se esconde por trás da aparente “defesa dos valores ocidentais” ou da “resposta proporcional”.

Quem lucra com cada bomba lançada? Quem assina os contratos após cada escalada? Quem tem medo da paz porque ela desacelera os negócios?

Não é preciso tomar partido entre nações para perceber que há algo profundamente viciado nesse sistema, uma engrenagem que transforma morte em dividendos e sofrimento em ações valorizadas na bolsa. Enquanto se contam corpos de um lado, contam-se lucros do outro. E no meio disso tudo, governos discursam, empresas assinam contratos, e a máquina segue rodando: eficiente, fria e altamente rentável.

Talvez a pergunta mais honesta, e mais incômoda, não seja “quem começou a guerra?”, mas sim: quem lucra com ela a ponto de garantir que ela nunca termine?

A resposta, claro, não vem nos telejornais. Mas está bem ali, no sorriso satisfeito de CEO’s, nas reuniões discretas entre lobbies armamentistas e em cada novo contrato assinado “em nome da segurança global”.

Afinal, sejamos justos: entre salvar vidas e bater metas, o mercado já fez sua escolha.

Christiany Fonseca é Doutora em Sociologia, Cientista Política e Professora Efetiva no IFMT (Instituto Federal de Mato Grosso)

 
 
 

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