Bárbara Muniz Vieira
especial para o UOL
O Brasil apresentou uma redução significativa no número de jovens entre 18 e 24 anos que não estudam nem trabalham —conhecidos como "nem-nem". Conforme o relatório "Education at a Glance", divulgado recentemente pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o percentual caiu de 29,4% em 2016 para 24% em 2023, uma diferença de 5,4 pontos percentuais.
Desigualdades persistem. A melhora é atribuída a uma combinação entre fortalecimento do mercado de trabalho e maior participação na educação após um período especialmente desafiador durante a pandemia de covid-19. A situação permanece crítica para jovens de baixa renda e mulheres negras e pardas, que enfrentam barreiras adicionais.
"A redução dos jovens 'nem-nem' deve-se a uma estratégia holística focada tanto na demanda quanto na oferta de trabalho. De um lado, investir em qualificação técnica e habilidades socioemocionais; de outro, apoiar empresas a crescerem de forma sustentável a encontrarem esses talentos", disse Iana Barenboim, cofundadora da Muva, organização voltada à inclusão produtiva.
Desigualdade de gênero e raça
Desigualdade é fruto de problemas históricos. Apesar do avanço, o estudo indica que a vulnerabilidade de jovens mais pobres e de mulheres negras e pardas continua sendo um fator de desigualdade estrutural no país. Para Daniel Grynberg, diretor-executivo do Grupo +Unidos, a realidade é fruto de problemas históricos.
"A dificuldade de conciliar estudo e ajudar em casa, a gravidez precoce, o racismo estrutural e a violência urbana contribuem para que esse público tenha dificuldade em concluir os estudos ou se inserir no mercado formal", afirmou Daniel Grynberg, diretor-executivo do Grupo +Unidos.
Mais mulheres e negras entre os nem-nem. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) reforçam o cenário: entre os 10,3 milhões de jovens nem-nem no Brasil, 65% são mulheres, muitas delas responsáveis por afazeres domésticos ou cuidados familiares. Entre mulheres negras ou pardas, a situação é ainda mais grave: elas representam 45,2% do grupo.
Pandemia agravou cenário, mas recuperação é visível
A pandemia de covid-19 intensificou os desafios educacionais e econômicos. A evasão escolar aumentou, assim como o desemprego juvenil. O cenário, no entanto, começou a melhorar com a retomada das atividades. Segundo o IBGE, a taxa de jovens nem-nem, que chegou a 29,3% em 2020, caiu progressivamente nos últimos anos.
"A crise escancarou a falta de estrutura de muitas famílias para o ensino remoto. Ainda estamos lidando com os atrasos desses anos, especialmente entre os mais pobres", declara Grynberg.
Volta por cima
Tanto a pandemia quanto uma gravidez foram fatores determinantes para a jovem indígena da etnia Wapixana Amélia Silva Lima, atualmente com 31 anos, ter parado de estudar e trabalhar. Aos 20 anos, ela ingressou na UFRR (Universidade Federal de Roraima), mas desistiu de estudar logo depois porque não tinha acesso a transporte até a universidade e nem possuía internet em casa.
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