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NOTÍCIAS Sábado, 09 de Julho de 2016, 09:41 - A | A

09 de Julho de 2016, 09h:41 - A | A

NOTÍCIAS / OPORTUNIDADE

Refugiadas buscam capacitação para encontrar emprego no Brasil

Projeto "Empoderando Refugiadas" atendeu 33 mulheres em São Paulo. Iniciativa começou em 2015 e 8 estão empregadas e 2 abriram um negócio.

G1



(Foto: Pâmela Kometani/G1)

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Refugiadas e apoiadores do projeto Empoderando Refugiadas durante a cerimônia de encerramento do curso, em São Paulo

Therese Guegne, de 32 anos, é natural de Camarões, mas deixou o seu país há um ano e quatro meses para morar no Brasil. Com problemas com o ex-marido, ela tinha medo da violência e de não sobreviver se continuasse na sua terra natal. "Uma amiga foi testemunha de tudo e disse que ele iria me matar e que eu deveria ir embora", conta.

Com a ajuda financeira dessa amiga e de um amigo de seu pai, que conseguiu um visto para que ela viesse ao Brasil, Therese deixou tudo para trás para construir uma nova vida em terras brasileiras. Ao chegar no país ela teve dificuldades com a língua e fez um curso de português. "Foi muito difícil e ainda é muito difícil, mas não vou desistir", afirma.

Com formação superior incompleta e inglês e francês fluentes, Therese trabalhava como coordenadora de marketing em Camarões, mas encontrou oportunidades muito diferentes no Brasil e conseguiu um emprego como auxiliar de limpeza.

Agora, ela está desempregada desde maio, já que um problema de saúde, na coluna, a impediu de continuar suas atividades na empresa. Therese queria continuar a estudar na área de marketing, mas como ela ainda não tem o RNE (registro nacional de estrangeiro), somente o protocolo da requisição, ela começou a fazer um curso técnico de enfermagem para aumentar suas chances. Ela já fez entrevistas, mas ainda não conseguiu um emprego.

Therese participou do projeto "Empoderando Refugiadas", em São Paulo, que busca ajudar as mulheres refugiadas a conhecer seus direitos, se inserir no mercado de trabalho ou a empreender no Brasil. O projeto também pretende sensibilizar as empresas sobre o tema dos refugiados, e acha que a aproximação entre empresas e refugiados é fundamental para a recolocação profissional de quem chega ao Brasil.

"Existem muitas barreiras, mas não podemos desistir. Temos que seguir em frente. É preciso acreditar e ter paciência", afirma a camaronesa.

(Foto: Pâmela Kometani/G1)

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Therese Guegne é de Camarões e está no Brasil há umano e quatro meses

Empoderando refugiadas

O projeto é uma iniciativa do Grupo de Direitos Humanos e Trabalho da Rede Brasil do Pacto Global, com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a ONU Mulheres, a Caritas São Paulo, a empresa de recursos humanos Fox Time e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR). Conta ainda com o apoio das Lojas Renner, Itaipu Binacional, Sodexo e Consulado da Mulher.

Cerca de 33 mulheres foram acompanhadas pelo projeto e receberam orientações de planejamento financeiro e profissional, direitos como refugiadas, mulheres trabalhadoras e habilidades práticas para melhorar o português. Desse total, 8 estão empregadas e 2 abriram o próprio negócio.

"O projeto busca informar as empresas desse potencial que existe no mercado brasileiro hoje, que o status legal dos refugiados permite que eles trabalhem e mostrar que eles são qualificados e têm uma bagagem cultural, trazendo diversidade para o negócio. Muitas empresas desconhecem esse status legal e não abrem oportunidades para os refugiados", afirma Beatriz Martins Carneiro, secretária-executiva da Rede Brasil do Pacto Global.

Somente no Brasil, são 8.863 refugiados de 79 nacionalidades diferentes, segundo a Acnur. Entre as principais nacionalidades estão: sírios, angolanos, colombianos, congoleses e palestinos.

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em junho, o número de pessoas deslocadas por motivos de conflitos e perseguições em todo o mundo chegou a 65,3 milhões em 2015. O número é quase 10% maior em relação ao registrado em 2014, que foi de 59,5 milhões.

Segundo Danielle Peroni, gerente de desenvolvimento organizacional da Fox Time, os principais entraves para os refugiados que chegam ao Brasil são idioma, empresas não conhecem o conceito de refugiado, obtenção do RNE e validação do diploma.

"Tentamos prepará-las para estarem minimamente capacitadas a disputar uma vaga igualmente. Algumas não sabiam o que era CEP, por exemplo, e isso pode atrapalhar na hora da entrevista", ressalta.

Danielle ressalta que a iniciativa não busca uma “cota” para refugiados e sim que eles tenham condições de disputar uma vaga de emprego no mercado brasileiro. "Todos devem ser avaliados pelas competências técnicas e não por cor, nacionalidade ou opção sexual. Existe lugar ao sol para todo mundo".

(Foto: Pâmela Kometani/G1)

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Esperance Nshimirimana está refugiada no Brasil há quase dois anos

De Burundi para São Paulo

Esperance Nshimirimana, de 37 anos, completa 2 anos no Brasil em dezembro. Ela deixou o Burundi por causa das tensões políticas causadas pela guerra civil. O país vive uma crise política desde que o presidente Pierre Nkurunziza se candidatou para um terceiro mandato. "O Brasil tinha uma boa fama, de ajudar as pessoas, de receber bem, e foi por isso que vim", conta Esperance.

Com nível superior completo em gestão e finanças públicas, ela não conseguiu validar seu diploma e por isso não consegue atuar na sua área de formação. Ela também tentou fazer um mestrado aqui, mas não conseguiu por falta de documentos.

Atualmente, ela trabalha como promotora em uma empresa fabricante de bebidas, na Zona Leste. "Agradeço muito por ter conseguido esse trabalho porque posso pagar o aluguel e buscar uma oportunidade melhor. Sei que lá na frente tudo vai melhorar", diz.

Agora, Esperance quer trazer seus dois filhos para o Brasil. "Não poderia me planejar não tendo nada. O projeto me mostrou como planejar e economizar dinheiro para conseguir isso", afirma.

 

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