Aline Almeida
Única News
A vereadora Maysa Leão (Republicanos) registrou nesta segunda-feira(04), boletim de ocorrência contra o deputado Gilberto Cattani(PL) por violência política de gênero. Na semana passada Maysa apresentou um requerimento na Câmara Municipal ao deputado, por difamação e incitação à pratica de crime, após o parlamentar publicar um vídeo editado de sua participação em um podcast onde Maysa apresentou.
A vereadora alega que o deputado teria deturpado o diálogo e divulgou um recorte tendencioso de aproximadamente 90 segundos sobre um projeto de lei que dispõe sobre a castração química para estuprador. Na conversa, Cattani diz que Bolsonaro havia feito um projeto interessante aos estupradores, e perguntou a Maysa o que ela achava. A vereadora respondeu que precisaria ser estudado, pois no Brasil haviam pessoas que eram condenadas e depois descobriam que eram inocentes.
O deputado retrucou dizendo que a castração seria após o julgamento, e que se fosse por ele, a castração seria tradicional, sugerindo o corte do órgão sexual. Assustada, Maysa afirmou que seria uma barbárie e relembrou os tempos medievais. Cattani finalizou dizendo que todos os abusadores mereciam essa penalidade. Na publicação o deputado incitou que Maysa era a favor de abusadores. A partir daí, a parlamentar afirmou que passou a ser vítima de achincalhações e ameaças em razão da desinformação proferida pelo deputado.
A vereadora então encaminhou requerimento ao deputado para que ele retirasse o vídeo do ar. O que teria sido negado por Cattani que disse a Maysa para acionar a Justiça se quisesse. No entanto, Cattani também entrou com uma representação contra Maysa junto à Comissão de Ética da Câmara de Cuiabá por calúnia e difamação.
Nesta segunda-feira, com a delegada Judá Maali Pinheiro Marcondes - que assumiu recentemente a Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, em Cuiabá -, a vereadora realiza o boletim presencial para que ele seja encaminhado à Polícia Federal por se tratar de um crime de âmbito Federal. Maysa Leão também se reúne com a deputada Janaina Riva (MDB), vice-presidente da Assembleia Legislativa e presidente da Procuradoria Especial da Mulher, para discutirem quais os possíveis encaminhamentos que poderão ser dados naquela Casa de Leis ao tema.
ENTENDA A CRONOLOGIA DOS FATOS
13/08/2023
Cattani posta o recorte do podcast em seu Instagram, recebendo centenas de comentários, dentre eles vários desejos de que a vereadora deveria ser estuprada para não defender bandido. 'De que se ela, sua filha e mãe fossem estupradas, amarradas e retalhadas, ela não pensaria assim'. Ao demonstrar que o conteúdo gerou um entendimento equivocado nos internautas de que a vereadora seria uma defensora de estupradores.
20/08/2023
Ao tomar conhecimento do teor dos comentários e de ter sido inclusive ameaçada em seu Instagram pessoal, a vereadora comentou na referida postagem a seguinte mensagem: 'Deputado @gilbertocattaniofc o senhor recortou um pedaço do vídeo que dá a entender que defendi estuprador. Além disso permitiu que desejassem que eu fosse estuprada, que a minha filha fosse estuprada! Um absurdo deturpar a minha fala, difamar minha atuação política, que é justamente na busca por punições mais severas, pelo cumprimento da lei, pela quebra dos ciclos de violência. O senhor que tanto se ofendeu com as ofensas proferidas à sua esposa e mãe, agora publica um recorte de fala que deturpa o entendimento do debate, e pior, ainda permite que remetam a minha pessoa ofensas de baixíssimo calão!”
29/08/2023
Não obtendo resposta através das redes sociais do deputado, a vereadora enviou um ofício para o gabinete de Cattani, solicitando que o post fosse apagado, para que as ameaças e violências contra ela cessassem.
30/08/2023
Através de um ofício enviado pelo advogado do deputado, ao gabinete da vereadora, Cattani informa que não apagará o post e ainda diz para a vereadora usar meios legais, se quiser que ele apague a publicação.
31/08/2023
A vereadora protocola na Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa um pedido de providências quanto ao fato. Anexando todas as provas do ocorrido, inclusive, o ofício em que o deputado responde que não vai apagar a publicação. Neste mesmo dia 31/08/2023 a vereadora registra o boletim de ocorrência por incitação ao crime de ódio e violência política de gênero.
Em resposta aos pedidos, o deputado protocola uma ação criminal contra a vereadora, alegando crimes de calúnia, difamação e injúria, além de protocolar um pedido de cassação do mandato da parlamentar na Câmara de Vereadora da capital por quebra de decoro parlamentar.
Maysa recebeu a negativa com bastante perplexidade. "Estive em uma entrevista com o deputado, em um debate de 1 hora e 26 minutos bastante respeitoso. Ao fazer o recorte de 90 segundos e postar no Instagram, o deputado poderia alegar que não imaginaria a interpretação dos internautas, mas a partir do momento que ele foi informado da gravidade da repercussão, poderia definitivamente apagar o post. Eu não compreendo esse apego em não apagar a publicação, e cessar todo o mal que vem me acontecendo. Para completar, o deputado me processa por relatar um fato público e notório".
Nesta segunda, Maysa reiterou que o post ainda está lá nas redes dele para quem quiser conferir. Assim, bem ao contrário do que vem sendo divulgado em alguns sites de que o parlamentar estadual o teria apagado.
"Está lá para quem quiser conferir, inclusive, os comentários carregados de ódio. Estou consternada com tanta violência, abalada emocionalmente pelas ameaças e nem acredito que este tenha sido o fechamento do agosto lilás, mês em que conscientizamos e debatemos o fim da violência contra mulheres"
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