Ana Cruz psicanalista
A contextualização didática dos diversos tipos de luto pelas mãos de uma grande psicóloga especialista no assunto: Nazaré Jacobucci.
Nazaré Jacobucci é psicóloga especialista em luto, psicologia hospitalar, professora, escritora, atualmente reside na Inglaterra e é membro do Psychological Society. Assim como eu, adora escrever e possui um blog ao qual eu acompanho e recomendo – Perdas e Luto: Educação para a Morte, as Perdas e o Luto.
A seguir, os principais trechos de um grande texto de sua autoria onde fala de modo simples e claro sobre os diversos tipos de luto, e ao final o link do mesmo para o artigo completo. É importante se compreender sobre esta questão, pois o luto não se volta apenas para a morte de alguém, ele engloba, por exemplo, o fim de relacionamentos amorosos, perda do emprego, entre outros. Boa leitura!
O Luto é um processo que se inicia após o rompimento de um vínculo e estende-se até o período de sua elaboração – quando o indivíduo enlutado volta-se, novamente, ao mundo externo. O luto é um processo essencial para que nós possamos nos reconstruir, nos reorganizar, diante do rompimento de um vínculo. É um desafio emocional, psíquico e cognitivo com o qual todos nós temos que lidar. Inclui transformação e ressignificação da relação com o que foi perdido. Contudo, você sabia que há uma classificação e tipos diferentes de luto?
Luto Natural: Num processo natural, as reações à perda de algo significativo, muitas vezes, incluem impedimento e/ou desinteresse temporário na realização das atividades diárias do cotidiano, isolamento social, pensamentos intrusivos e sentimentos de saudade e tristeza, que variam e evoluem ao longo do tempo. Em alguns casos pode culminar num estado de depressão. O traço mais característico no processo de luto são episódios agudos de dor, com muita ansiedade e dor psíquica. Apesar do luto ser um processo universal, cada indivíduo possui uma forma particular de reagir.
Luto Complicado: existem situações em que o processo de luto não segue a evolução normal, ou seja, o indivíduo não consegue se reestruturar, podendo ocorrer fixação numa das etapas e, consequentemente, a não elaboração do luto. Nestas circunstâncias, o luto permanece não resolvido ao longo do tempo, durante vários anos, e, por vezes, para o resto da vida, interferindo no estado emocional da pessoa e impactando significativamente a sua vida. Nestes casos, em que há o prolongamento do luto, o denominamos de Luto Complicado. Este se caracteriza por uma melancolia duradoura, acompanhada em geral de profunda tristeza, problemas de saúde, distúrbios psíquicos e diminuição dos contatos sociais, o que exige processos de readaptação com a ajuda de profissionais habilitados.
Luto Antecipatório: se inicia a partir do diagnóstico de uma doença crônica sem possibilidade terapêutica de cura. Entendido como um processo de construção de significado para a vida. Permite ao paciente absorver a realidade gradualmente em relação às perdas dos aspectos significantes do corpo, da consciência, da personalidade, da autonomia; permite resolver questões pendentes; expressar sentimentos; perdoar e ser perdoado.
Luto Traumático: este processo se inicia quando o confronto com a morte se deu de forma violenta e avassaladora. Acidentes de trânsito e queda de um avião são alguns exemplos. Os eventos traumáticos são permeados de desamparo e horror. Há uma (re) vivência ilusória ou alucinatória da experiência traumática, que se dá por meio de flashbacks.
Luto Coletivo: esse processo é desencadeado por uma catástrofe natural e/ou catástrofe humana sem precedentes, que acarreta sentimento de profunda angústia e que abala a forma como vivemos. Expõe à sociedade sua vulnerabilidade e mostra que o mundo pode ser um lugar imprevisível. Exemplos: Holocausto, tsunami, atentado terrorista (WTC). O luto é vivenciado por todas as nações, etnias e crenças.
Luto não Reconhecido: este tipo de luto se apresenta quando a sociedade ou a comunidade na qual o sujeito está inserido não valida ou ignora a perda sofrida, seja pelo fato de o relacionamento não ser legitimado, seja pela perda não reconhecida, seja pelo enlutado ou pela morte não serem aceitos. Num processo de luto não reconhecido pode não haver condições para expressar o pesar, os sentimentos e até mesmo os conflitos relacionados à perda.
Luto Adiado: é caracterizado pela ausência das reações normais de um processo de luto. No luto adiado a pessoa não se permite sofrer e não expressará o pesar por um longo período após a morte de um ente querido. Algumas pessoas tentam ao máximo adiar a tristeza, até que um dia não conseguem mais. As influências familiares e culturais podem afetar o percurso natural de um enlutado.
Luto Inibido: é caracterizado quando o indivíduo não demonstra sinais exteriores frequentes num processo de luto, como tristeza e raiva. A tristeza é inibida e o indivíduo não permite que a realidade da perda seja vivenciada. Em alguns casos o indivíduo age como se nada tivesse acontecido e retoma suas atividades cotidianas rapidamente lotando suas agendas de compromissos. O indivíduo que inibi a sua dor e angustia pode apresentar queixas psicossomáticas.
Como psicólogos, devemos sempre acolher este enlutado, independente de qual seja o contexto de sua perda.
ENTRE EM NOSSO CANAL AQUI
RECEBA DIARIAMENTE NOSSAS NOTÍCIAS NO WHATSAPP! GRUPO 1 - GRUPO 2 - GRUPO 3