Camila Souza Ramos
Globo Rural
A forte estiagem que atingiu o Centro-Sul neste ano e os incêndios decorrentes da seca nas lavouras de cana deram margem para o aumento da incidência de pragas e o surgimento de novas doenças nas plantações, que estão agravando as perspectivas de redução da produção sucroalcooleira para a safra atual (2024/25) e a próxima (2025/26).
Um dos problemas agronômicos "novos" nos canaviais é a "murcha do colmo", em que a cana apresenta-se avermelhada ou amarronzada em seu interior. Até pouco tempo atrás, os produtores vinham confundindo o sintoma com o raquitismo que costuma ser provocado pela seca. Mas trata-se, na verdade, de um "consórcio" de três fungos, explicou José Guilherme Nogueira, presidente da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), em apresentação nesta segunda-feira (21/10) durante a 24ª Conferência Internacional Datagro.
"Tem áreas com perda de 40% a 45% de produtividade até o ano passado, e não é só [pela] seca, mas também pela murcha", afirmou.
Por se tratar de um problema relativamente novo nos canaviais, os agrônomos da Datagro, por exemplo, vêm orientando os produtores a erradicarem as lavouras e deixarem a terra descansando por dois anos. "É algo sério", ressaltou Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, durante apresentação no evento.
A consultoria estima agora que a moagem de cana desta safra será de 593 milhões de toneladas, o que deve representar uma quebra de 9,4% ante a safra passada. Apenas a produtividade da temporada deve recuar 11,7%, para 77,2 toneladas por hectare, projetou a Datagro.
Como consequência, a produção de açúcar deve recuar 8,8%, para 38,7 milhões de toneladas, enquanto a fabricação de etanol deve ceder 1,2%, para 33,18 bilhões de litros. A redução deve ser maior no açúcar porque a seca também está prejudicando a capacidade de cristalização da sacarose extraída da cana, aumentando o processo conhecido como isoporização, em que os tecidos do colmo da cana ficam desidratados. O aumento da incidência de pragas agrava esse problema.
"Esperávamos um mix mais açucareiro [nesta safra], porque a capacidade de cristalização [produção de açúcar] cresceu 2,3 milhões de toneladas do ano passado para cá. Mas esse açúcar não veio por causa da isoporização da cana", afirmou Nastari. O problema afetou o planejamento das usinas, que estão produzindo mais etanol do que o esperado, apesar do açúcar estar remunerando mais.
(Foto: Reprodução/Internet)
Bicudo da cana-de-açúcar tem atingido lavouras de cana pelo país.
Outras pragas também aumentaram nos canaviais neste ano, como o bicudo da cana (Sphenophorus levis), um besouro que tem potencial para matar touceiras de cana e que ainda é de difícil controle. "Há oito anos brigamos com o Sphenophorus e ainda não temos uma tecnologia eficiente. Já se faz rotação para quebrar o ciclo [da praga], controle por biológicos. As empresas têm buscado soluções, como o CTC, a Ridesa e o IAC, mas ainda precisamos de muito mais", disse Nogueira. Outro problema que voltou às lavouras de cana nesta safra, disse, é a cigarrinha.
Parte do aumento das infestações de pragas decorre também dos incêndios. "Quando se queima o colchão de palha [que fica no solo após a colheita], e com o impacto sem chuvas, vemos pragas se aproveitando", acrescentou. A projeção de moagem de cana da Orplana para esta safra é bem próxima da Datagro, de 590 milhões de toneladas.
Segundo o dirigente, o principal fator é a baixa precipitação, mas não só. O volume médio de chuvas nas áreas de cobertura da organização no Centro-Sul registraram uma precipitação de 506 milímetros de janeiro a outubro deste ano, em comparação com 1.176 milímetros no mesmo período do ano passado. Mas outras alterações climáticas também vêm afetando as lavouras, como o padrão das chuvas e as temperaturas.
"A frequência de chuvas não é mais a mesma. [As chuvas estão] mais concentradas e com volume ás vezes maior, o que acaba estragando os canaviais", detalhou Nogueira. As ondas de calor também são um problema. "Não se falava em ondas de calor há três anos, ninguém sabia o que era. Sabíamos o que era veranico, [um período de] uma semana a 10 dias de clima mais seco. Já as ondas de calor são com temperaturas de 38ºC no inverno em Ribeirão Preto, e por duas a três semanas", alertou.
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