13 de Dezembro de 2024
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ARTIGOS/UNICANEWS Sábado, 31 de Março de 2018, 11:19 - A | A

31 de Março de 2018, 11h:19 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / Rodrigo Rodrigues

A desconstrução da bossalidade ou do Bolsomito

Rodrigo Rodrigues



Foto: Reprodução

 

É incrível a capacidade do brasileiro mediano, para não dizer medíocre, de se recusar a sair de sua zona de conforto, da sua inércia e transferir a responsabilidade da situação caótica em que o país está ou a resolução dos problemas, a terceiros. Esta mentalidade, que impregna nossa cultura, desde quando éramos uma colônia, tem a força devastadora do ópio, deixa turva a visão, causa alucinações, que nos tiram do plano da realidade e causa dependência. Desde simples gestos do cotidiano, como parar em uma vaga proibida ou praticar pequenos delitos, como incluir recibo falso na declaração do imposto de renda, a atos e ações ilegais complexas. Por exemplo, utilizar-se da influência de um amigo ou parente para conseguir obras superfaturadas, fazer vista grossa ao nosso perverso sistema bancário ou a formação de cartéis com a finalidade de desviar bilhões de dinheiro público.

 

É imperativo o pensamento generalizado de que a lei é para o próximo, é para o outro ou para os menos favorecidos.

 

É prática comum hoje em dia, falar mal de políticos: são os políticos que não prestam, são os políticos que são corruptos, a culpa é dos políticos. E, com essa desculpa esfarrapada de quem não tem coragem de arregaçar as mangas e promover mudanças nem  no quintal de sua casa, que de tempos em tempos surgem algumas aberrações, típicas do subpovo que somos, que ganham notoriedade. Fica o brasileiro tocando a sua vidinha, seja ele de que classe for, esperando que o presidente da república, os deputados, os senadores e os prefeitos, em um passe de mágica resolvam todos os problemas.

 

Promover a tese de que nossos políticos não prestam, é assumir que, enquanto povo, formadores de uma nação, somos fracassados, pois os “eleitos” são frutos da nossa sociedade, são ungidos pelo voto popular. Se político não presta, logo não prestamos nós, eleitores.

 

O nosso regime democrático permite-nos fazermos profundas mudanças a cada quatro anos, a nível municipal, estadual e federal. Por via de regra, o cidadão vai lá e escolhe seus representantes, depois volta para o seu conforto e fica a reclamar da vida, transferindo e se isentando da culpa. Somente após o período eleitoral, que se pensam em discutir uma reforma tributária, uma reforma política, uma reforma no Código Civil e Penal, um maior controle do dinheiro público.

 

Para não ficar no campo das teses, vamos a um exemplo prático. O deputado Jair Bolsonaro, candidato a presidente da República, a vinte e sete anos é detentor de um mandato de deputado federal (atualmente no seu sétimo mandato). Antes disso, foi por dois anos vereador pela cidade do Rio de Janeiro.

 

Em janeiro de 2019, o capitão da reserva, Jair Bolsonaro, vai completar trinta anos em cargos eletivos. Seu filho, Carlos Bolsonaro, é vereador pela cidade do Rio de Janeiro. Seu outro filho, Flávio Bolsonaro, é deputado estadual pelo Rio de Janeiro. E o outro filho, Eduardo Bolsonaro, é deputado federal pelo estado de São Paulo. Isso caracteriza uma “familiocracia”, repudiada por 10 entre 10 brasileiros.

 

Trinta anos de mandato coloca Bolsonaro na classe dos políticos mais tradicionais e rejeitados por nossa sociedade, chamados de políticos carreiristas. Bolsonaro é candidato a presidente da República. Os eleitores declarados dele justificam essa sandice afirmando que Bolsonaro é o único capaz de acabar com tudo aquilo ele próprio Bolsonaro representa.

 

Vamos para a prática. Bolsonaro e seus três filhos foram eleitos pelo Partido Progressista de Paulo Maluf, que dispensa apresentação. Nos quadros do PP, seus  ex-colegas, estão, grande parte, entre os denunciados nos maiores esquemas de corrupção deste país. Desde a Sanguessuga, passando pelo Mensalão e desembocando na Lava-Jato,  membros do Partido Progressista sempre foram protagonistas de todos. Nunca li, nem ouvi, o senhor Bolsonaro criticar seus colegas corruptos e dar nome aos bois. Levando então a crer, que quando ele diz que bandido bom é bandido morto, ele está se referindo aos “pretos e pobres”da periferia apenas. Aí fica fácil, como dizia meu avô, até “macaco faz roça”, não tem coragem de enfrentar os grandes e se aproveita dos  mais fracos e vulneráveis para tirar onda de valente.

 

Continuando ainda no perfil do eleitor de Bolsonaro, alguns alegam  que ele é defensor da família e dos bons costumes, mas como assim “cara pálida”, o senhor Jair Bolsonaro já está no terceiro casamento, tendo cinco filhos e três mulheres diferentes! Na minha religião católica, prega-se um casamento indissolúvel, pois aquilo que Deus uniu o homem não separa. Acredito que entre os evangélicos também se prega o mesmo dogma, de que um casamento se mantém por uma vida toda, nos bons e nos maus momentos, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza.

 

Uma outra bandeira de Jair Bolsonaro, que lhe trás muitos simpatizantes, é a defesa da intervenção do exército na política. Documentos produzidos pelo exército brasileiro, a quem Bolsonaro e seus seguidores reputam a mais alta credibilidade, mostram que seus superiores o avaliaram como “dono de uma excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente”. Seus superiores afirmam também que ele manifestava “permanente intenção de liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do tratamento agressivo dispensado  a seus camaradas, como pela falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos”.

 

Nós vivemos em um regime democrático, em um estado de Direito, ninguém duvida disso. Um presidente da República tem suas limitações, que são a Constituição Federal e as leis. Cem por cento das mudanças propostas pelo deputado Jair Bolsonaro dependem de emendas constitucionais, reformas nos Códigos Civil e Penal, mudanças nas leis e aprovação de novas leis, ou seja, tudo o que ele propõe cabe ao Congresso Nacional, onde ele se encontra a vinte e sete anos e não conseguiu nada, além de empoderar sua própria família. Portanto, ele mente descaradamente quando diz que se for presidente vai fazer isto ou aquilo. Fora a questão da homofobia, do preconceito, o senhor Jair Bolsonaro é tudo aquilo que criticamos em um político. O carreirismo, a familiocracia, a vaidade excessiva, a ambição desenfreada, a omissão mediante atos ilícitos de seus pares, a perpetuação no poder, a demagogia e as falsas promessas.

 

Mas aí, fica a pergunta: quem não presta é o Jair Bolsonaro? Ou quem, ao longo de três décadas, lhe confere um mandato extensivo a sua prole?

 

Rodrigo Rodrigues, jornalista, empresário e gestor público.

 

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