Cuiabá, 05 de Maio de 2024

ARTIGOS/UNICANEWS Quinta-feira, 04 de Abril de 2024, 13:29 - A | A

04 de Abril de 2024, 13h:29 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / LUCY MACEDO

Estamos normalizando a violência contra a mulher

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De acordo com levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2023, Mato Grosso apresentou a maior taxa de feminicídio do Brasil: 2,5 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres. Em números absolutos, foram 46 feminicídios no ano passado. A taxa é quase o dobro do índice nacional, que alcançou 1,4 morte.

Porque começar um artigo com dados e correr o risco de tornar o texto maçante? Eu digo! Porque está impossível conviver com tantas mortes de mulheres como as que vêm ocorrendo. Especialmente em Mato Grosso.

São tantos feminicídios que ficou impossível noticiar o crime com exatidão, como se aquele fosse o último ocorrido. Como é o caso, por exemplo, de Rosângela Oliveira da Silva, de 49 anos, assassinada em Juscimeira pelo namorado sob o velho argumento que liga, comumente, ciúmes ao derramamento de sangue. Dentro daquela pseudo narrativa do amor exagerado. Não é! Quem ama não mata!

Devo confessar que me chocou profundamente, dentre tantos feminicídios que vêm acontecendo em Mato Grosso, a de uma senhora de 84 anos. Dona Horaide Bueno Strighini.

Mas devo confessar que me chocou profundamente, dentre tantos feminicídios que vêm acontecendo em Mato Grosso, a de uma senhora de 84 anos. Dona Horaide Bueno Strighini, que foi roubada, estuprada e assassinada por um homem com inúmeras passagens policiais. Se estivesse preso, filhos, netos e bisnetos de dona Horaide não estariam chorando a perda da matriarca. Nem tampouco indignados com o depoimento do feminicida, que confessou que esta mulher de 84 anos lutou, corajosamente, até a morte contra seu assassino.

O feminicídio de dona Horaide me deu a profunda sensação de impotência enquanto mulher e mãe. Sobretudo, uma sensação horrorosa de que estaria cristalizando uma certa normalização destas mortes, desvelando a mais absoluta banalização da violência.

Outro dia meu filho Benício fez 10 anos. Meu único filho. Meu tudo. Literalmente, minha vida. E fiquei pensando: meu Deus se algo me acontecer o que será de meu menino?.

Depois pensei, inclusive enquanto empresária na área de comunicação, o que estaria passando desapercebido para nós, que trabalhamos com informações? O que até agora não fizemos ou não noticiamos? O que deveríamos fazer, ou melhor, estamos fazendo, de fato, que ajude a reduzir estes índices? Estamos cobrando o suficiente dos poderes mais políticas públicas, sobretudo, aquelas que sejam capazes de retirar Mato Grosso da liderança de um ranking tão macabro?

Quantas perguntas sem uma só resposta razoável, não é verdade?!

Claro, tenho acompanhado com bastante interesse algumas iniciativas extremamente importantes, aliás, oportunas, como é o Pacote Antifeminicídio proposto pela senadora mato-grossense Margareth Buzetti, que já foi, graças a Deus, aprovado no Senado e agora tramita na Câmara Federal.

Acompanhei, igualmente, a reunião realizada esta semana no Legislativo Estadual, a pedido do presidente da Casa, Eduardo Botelho, e de sua vice, a deputada Janaina Riva - com a senadora Margareth Buzetti e a deputada federal Gisela Simona -, na busca de ampliar a discussão deste pacote e criar uma comitiva mato-grossense para reforçar em Brasília sua aprovação na Câmara dos Deputados.

A proposta quer alterar cinco leis atualmente em vigor, entre as mudanças está o aumento da pena mínima para o crime de feminicídio, de 12 para 20 anos. E a máxima de 30 para 40 anos de prisão.

Para mim, que sou a favor da prisão perpétua, 40 anos apenas atenua um pouco a minha revolta. Porque não me compadeço de criminosos que ceifam a vida de mulheres na crença de que são sua propriedade e território.

Para mim, que sou a favor da prisão perpétua, 40 anos apenas atenua um pouco a minha revolta. Porque não me compadeço de criminosos que ceifam a vida de mulheres na crença de que são sua propriedade e território. Não me compadeço de feminicidas, agressores e estupradores, que têm naturalizado as diferentes formas de violência contra meninas e mulheres. E, definitivamente, não me apiedo destes homens que se apresentam em pele de ovelha e que nos exterminam como lobos ferozes.

Assim, obviamente, como mãe, mulher e empresária, vou torcer para que propostas como da nossa senadora sejam sancionadas o mais rápido possível pela Presidência da República. E que, sobretudo, o Estado faça seu dever de casa e cumpra seu papel central de induzir e promover políticas públicas que contribuam para salvaguardar e proteger vidas.

Mais do que isto, que o Estado crie novas delegacias, amplie os espaços de acolhimento para as mulheres em situação de violência. E, sobretudo, promova a autonomia e independência financeira destas mulheres, que permanecem neste ciclo perverso dos relacionamentos abusivos que se pautam nas agressões e mortes.

Lucy Macedo é empresária, advogada e mãe.

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