Cuiabá, 26 de Abril de 2024

ARTIGOS/UNICANEWS Sábado, 30 de Maio de 2020, 09:53 - A | A

30 de Maio de 2020, 09h:53 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / FLÁVIA COSTA

O TEU SILÊNCIO PROTEJE APENAS O AGRESSOR, NÃO A VÍTIMA



Há um falso respeito a intimidade da família, do casal e dos envolvidos em uma agressão contra a mulher – seja violência psicológica, física, sexual ou patrimonial. Digo FALSO RESPEITO porque o silêncio favorece o agressor, porque o silêncio é apenas público, nos grupos de whats, nas conversas privadas, directs e inbox já escolhemos um lado, já julgamos. Nossas experiências, emoções e percepções de mundo já nos fizeram escolher quem tá certo e quem tá errado.

Li nos últimos dias todos os tipos de comentários!

Julgando a mulher que é “farinha do mesmo saco da família X”, que “sua mãe isso ou aquilo”, que “onde já se viu proteger um filho de 17 anos, ele precisa conhecer a vida, a realidade como ela é”, que “o agressor é assim desde pequeno, já era agressivo e brigão desde os tempos do colégio”– e tais mazelas morais espirram em instituições e órgãos que deveriam proteger ou pelo menos passar a sensação de proteção à todos: vítima, agressor, familiares e sociedade.

“Todos se calam porque devem favores, recebem carguinhos, tem o rabo preso”... HÁ TANTAS FORMAS DE VER E JULGAR, NÃO É MESMO?

A verdade é que as pessoas se calam porque não é com elas, não é com a mãe delas, com a irmã, com a prima, não é com uma amiga; a esposa não é sua, o marido não é seu, o filho não é seu, a família não é sua.

A tal empatia é um verniz social.
Uma máscara!

Está na moda esse negócio de violência contra a mulher, né? Então vamos escolher lado, vamos dar nossa opinião como gente que somos; sempre dentro do limite moral que tão bem expressou em canção a banda Skank “a nossa indignação é uma mosca sem asa que não ultrapassa as janelas das nossas casas”.

Aos inimigos a lei, aos amigos a conivência!
Aos inimigos a lei, aos amigos o silêncio.
Aos inimigos a lei, aos amigos o respeito.
Aos inimigos a lei, aos amigos tudo que eles quiserem.
Aos inimigos a lei, aos amigos tudo que eles precisarem.
Aos inimigos a lei, aos amigos “só dizer como posso ajudar”.

Casos que ganham publicidade, que ganham destaques nos jornais, nas redes sociais e nos grupos de whats, são acompanhados como novelas por outras vítimas. Elas acompanham na esperança de ver a lei ser cumprida, de ver o agressor responder em todas as esferas: social, profissional, emocional.

As vítimas olham esses casos e pensam: se a mulher linda e rica não consegue que o marido agressor fique preso nem meio período mesmo preso em flagrante, e eu? E eu que sou uma pobre coitada, que sou uma Maria Ninguém então? Se julgam ela que é perfeita – “você viu as fotos do facebook dela?”, “viu as fotos da família?”; comigo será muito pior, eu não sou ninguém, não viro notícia, sou apenas um número de boletim de ocorrência e que talvez vire um número de processo e só!

Por isso muitas mulheres não denunciam, se calam por anos, são agredidas até quando pensam em buscar ajuda – PORQUE QUANDO UMA DE NÓS É VIOLENTADA NA MÍDIA ATRAVÉS DO SILÊNCIO DAS CLASSES E MÍSERAS NOTAS DE REPÚDIO, TODAS NÓS SOMOS VÍTIMAS TAMBÉM.

Se existe jurisprudência no direito, imagine quantas jurisprudências existem no dia-a-dia.

Eu como mulher não quero me calhar, não quero escolher lado, quero sim que a lei seja para todos, que “pau que bate em Chico também bata em Francisco”, entende?

Dizem que sou insanamente otimista, muito “good vibes”, que vivo num mundo de Alice. Desculpem a sinceridade, mas são vocês que estão vivendo num mundo errado, num mundo sombrio e doente. Recuso-me a compactuar com qualquer tipo de violência. Minha indignação ultrapassa sim as janelas da minha casa.

A OAB MT não pode ter como presidente um homem que responde por violência doméstica, por agressão contra a esposa. O presidente da OAB MT deve ser exemplo, se há alguma dúvida que ele se afaste e aguarde a conclusão do processo. A ORDEM DOS ADVOGADOS DEVE SER DIGNA, INCORRUPTIVEL, EXEMPLAR, DEVE ESPELHAR A SOCIEDADE CIVILIZADA E DESEJADA POR TODOS NÓS.

Eu não sou advogada, o mundo jurídico não é meu ambiente natural, mas a sociedade sim. Como mulher e como cidadã escrevo este texto que talvez nem seja lido, que talvez seja ignorado, afinal sou apenas uma mulher, nem sou presidente de nenhuma associação ou de um nome bacana que represente as mulheres. Eu sou uma Maria Ninguém mesmo.

Como Maria Ninguém quero ver, sentir e perceber que lutam por mim, que há justiça, que a lei é para todos.

Onde estão as manifestações? Onde estão aquelas que me representam? Notas de repúdio não são nada. Uma mulher da periferia nem consegue repetir essa palavra “repúdio” sem pensar ou se concentrar para tanto.

Onde estão as mulheres e homens que me defendem e representam à todas nós mulheres, vitímas de violência doméstica, de agressões físicas, sexuais, psicológicas e financeira? Onde vocês estão? Porque eu não estou vendo nada além de “neblina”. Uma cortina de fumaça da boa e velha sociedade machista. O sistema é foda? É! Como diz o Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2: “o sistema é foda!”, e o sistema também é machista.

Estou cansada de ver tanta injustiça.

Nomes criam rótulos, rótulos criam crenças e crenças moldam comportamentos. Agimos conforme nossas crenças.

A gente é muito bom em enrolar a gente mesmo.
Somos muito bons em arrumar desculpa pela nossa omissão.
Qual a sua desculpa?

Quando você for a vítima desejará ter um sistema social e jurídico mais justo, aí será tarde, você será apenas estatística e será rotulada como oportunista, como mulher que gosta de apanhar, que gosta sim de violência porque se não gostasse não teria vivido 16 anos juntos, e uma infinidade de julgamentos.

Amanhã pode ser você.
Infelizmente é muito provável que amanhã seja você.

Flávia Costa (Webflavia)

Ceo Webflavia Publicidade e Marketing Digital | Speraker TEDx | Palestrante | Artista Plástica

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