Única News
Muito se fala sobre como a tecnologia pode revolucionar o setor público. Os discursos empolgam: governos digitais, serviços ágeis, transparência instantânea e decisões baseadas em dados. Mas quando a gente olha de perto, especialmente nos estados e municípios brasileiros, o cenário ainda está longe desse ideal. O que se vê, na prática, são avanços pontuais em meio a uma série de limitações que vão desde infraestrutura precária até a resistência à mudança dentro das próprias instituições.
Mesmo com planos estratégicos e legislações que falam em modernização, a digitalização no setor público muitas vezes se resume a escanear documentos e colocá-los em PDF — sem repensar os processos, sem torná-los mais eficientes. Os sistemas até existem, mas são implantados de forma isolada, sem conversar entre si, sem um padrão e, muitas vezes, sem que os servidores tenham preparo para usá-los bem. Resultado: ferramentas que prometiam agilizar, mas acabam engessando ainda mais o trabalho.
Outro gargalo é a falta de investimento contínuo. Muitos projetos de tecnologia dependem de emendas parlamentares, convênios ou financiamentos pontuais, o que não garante que eles vão durar ou evoluir. Sem uma política de governança digital sólida, a tecnologia vira algo periférico, tratado como um acessório, e não como parte estratégica do funcionamento da máquina pública. E a cada troca de gestão, corre-se o risco de tudo mudar (ou parar).
Na área da transparência e acesso à informação, a tecnologia também poderia fazer muito mais. Mas esbarra em portais mal desenhados, dados desatualizados e linguagem técnica demais, que dificulta o entendimento da população. Pior: quando mal planejadas, essas inovações podem até aumentar a desigualdade, deixando de fora quem não tem acesso à internet ou familiaridade com o digital.
Há também um problema sério na gestão de pessoas: falta valorização e estrutura para os profissionais de TI que trabalham no setor público. Muitas vezes eles estão concentrados em poucas áreas, sem plano de carreira, com alta rotatividade, o que enfraquece ainda mais a continuidade e o desenvolvimento de soluções tecnológicas próprias.
Apesar de tudo isso, o potencial da tecnologia para melhorar os serviços públicos é enorme. Mas não basta implantar ferramentas ou anunciar projetos. É preciso ter visão de longo prazo, continuidade entre governos, investimento consistente e, principalmente, uma mudança de mentalidade. A tecnologia precisa deixar de ser coadjuvante para se tornar protagonista na formulação das políticas públicas.
Enquanto a transformação digital for tratada como algo pontual ou passageiro, o Brasil seguirá adiando a construção de um serviço público moderno, mais eficiente e próximo do cidadão. E os poucos casos de sucesso que existem continuarão sendo exceções, quando deveriam ser a regra.
Rodrigo Matos Medeiros é subsecretário de Sistemas do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso
Advogado
Pós-graduado em Administração Pública; Ciência de Dados e Big Data Analytics
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