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Tive uma grande oportunidade de aprendizado. No centro histórico, um expressivo grupo de artistas e produtores culturais reuniu-se para conversar sobre cultura em Cuiabá e Mato Grosso. No rol de preocupações – todas válidas – estavam: 1) o não chamamento para a eleição do conselho estadual de cultura, 2) os critérios para as concorrências públicas para projetos e contratos de gestão, 3) a vocação cultural de determinados imóveis, 4) a forma burocratizada de prestação de contas e, finalmente, 5) a questão da fusão entre secretarias. Inicialmente, importante pontuar que o meio cultural é o patinho feio do orçamento público. Sempre foi. Não mudou, infelizmente. Míseros 0,5% são destinados para o setor, uma vergonha para um Estado tão diverso e tão rico como o nosso. Com esse orçamento, não temos a menor condição de trocar experiências nacionais e internacionais com assiduidade e projetar artistas locais. Isso, sem contar com o problema crônico da prestação de contas que é mal orientada e carece de sensibilidade e tolerância dos administradores com os artistas mato-grossenses.
Discutir cultura importa, necessariamente, uma postura aberta, democrática, interativa. É o contrário da linha autocrática. Por isso mesmo, o fortalecimento do conselho estadual de cultura e de grupos externos de discussão é tão importante. Urge chamar eleições abertas, diretas, livres, nas quais o meio irá se posicionar em favor de representantes dos mais diversos segmentos. Da mesma forma, diga-se quanto à gestão municipal. As reuniões periódicas, as explicações públicas de determinadas políticas públicas, o contato direto dos gestores com artistas e produtores é essencial. Esse diálogo não pode ser trocado por publicações on-line, editais sem discussão, notas explicativas ou quaisquer outros tecnicismos que substituam a forma coletiva e direta de tomada de decisões sobre um orçamento tão curto. Precisamos acabar os dois anos restantes do atual governo, repassando 1% do orçamento para a Secretaria de Cultura que precisa se manter autônoma face às peculiaridades que o meio especializado demanda.
Estamos na iminência dos 300 anos da capital mato-grossense. O que temos como plano cultural? Como vamos tratar esse grande marco? É urgente uma interação entre as secretarias estadual e municipal. Inicialmente, precisamos compreender como se deu a lindíssima festa organizada por Rabello Leite em 1969, quando Cuiabá fez 250 anos. As famílias cuiabanas uniram-se a um dos nomes de maior tradição histórica dessa nossa capital. Cuiabá cresceu, transformou-se. Mas ainda há um núcleo que se preocupa com a conservação dos valores históricos e um meio cultural ansioso para participar. Os projetos precisam ser pensados agora, nesse instante, sem tardança. A partir de janeiro/17, deve ser organizado um calendário de intervenções na cidade, identificação de patrimônio histórico, financiamento de obras de requalificação, projetos de publicações comemorativas, aplicação dessas publicações no ensino público, formas democráticas de administrar os aparelhos culturais da cidade, muitos dos quais estão carentes de andamento nas obras.
A educação precisa ser diretamente contemplada na comemoração dos 300 anos de Cuiabá. Os alunos do ensino fundamental e médio merecem uma “agenda cuiabana”, onde um coletivo de artistas trabalhe para inserir datas históricas importantes, textos literários e artes plásticas. O material didático precisa ser encomendado a tempo de ser aplicado em sala de aula, com a qualificação de professores para o ensino de história, geografia e literatura mato-grossense. Há muita gente qualificada, muitos produtores culturais que precisam se somar ao projeto. Não é possível que imitemos o amadorismo das obras da Copa, além de outros eventos que trazem vergonha para o povo mato-grossense. Onde estão os documentários? Onde estão os projetos para o registro do tricentenário? Quem irá compor a comissão interdisciplinar? Já passou da hora de percebermos o nosso atraso nesse planejamento estratégico.
O que percebi hoje? O artista e produtor só quer respeito. Trata-se de uma indústria que gera 3% do PIB: emprega, paga tributo, contribui como qualquer outro. É necessário que o profissional seja tratado com muita distinção. Por respeito, entenda-se – ser ouvido. Ser ouvido é, também, ser atendido, ser compreendido, ser orientado, ter oportunidades iguais num certame, não encontrar critérios excludentes de participação, integrar conselhos estaduais e municipais. Nessa primeira metade da gestão estadual, foram realizadas muitas transformações dignas de nota e de reconhecimento: concursos artísticos, literários, exposições estaduais e nacionais, modificações legislativas etc. Agora, é tempo de refletir. É preciso voltar ao mesmo lugar onde começamos – o espaço público – para avaliarmos o trabalho desenvolvido até aqui e o caminho que o meio cultural quer trilhar. Enfim, nada além do que é esperado dos gestores públicos. Os artistas e produtores querem colocar à disposição da sociedade o que temos de melhor –a criatividade, a produção, a história, a cultura. Aprendi muito. Agradeço aos organizadores.
Eduardo Mahon é escritor e advogado.
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