Alessandra Corrêa
De Washington para a BBC News Brasil
A eleição do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos representa um novo ordenamento internacional - e resta saber como o Brasil vai se inserir nesse contexto.
No entanto, não deve trazer grandes mudanças para as relações bilaterais especificamente, segundo o especialista em relações Brasil-EUA Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da universidade Berea College, no Estado americano do Kentucky.
Em entrevista à BBC News Brasil, Poggio afirma que o desempenho de Trump, que venceu a democrata Kamala Harris na disputa pela Casa Branca na eleição de terça-feira (5/11), mostra "o fortalecimento de um certo modo de se fazer política, de uma certa corrente ideológica".
Há expectativa de que o desempenho do republicano energize movimentos de direita ao redor do mundo.
No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030, é admirador de Trump, e o resultado da eleição americana pode motivar setores do bolsonarismo.
Mas Poggio afirma que isso não deve ter grande impacto nas próximas eleições presidenciais brasileiras.
"Uma lição clara das eleições americanas é que a questão econômica é central. Qualquer outro elemento deixa de ser importante quando a questão econômica se torna central", afirma.
Relações com Brasil e América Latina
A América Latina em geral, e o Brasil em particular, não figuram na lista de prioridades dos Estados Unidos e isso não deve mudar com o novo governo Trump.
"A América Latina [só] é prioridade americana ligada à agenda da imigração. Qualquer questão além disso não é prioridade nem dos democratas nem dos republicanos", ressalta Poggio.
"Acho que não tem grandes mudanças [na relação Brasil-EUA]", afirma.
"Historicamente, a relação Brasil-EUA tem uma certa estabilidade, com algumas pequenas alterações de rota, mas não mudanças expressivas."
Segundo Poggio, a principal mudança com o novo governo Trump é que os EUA deixam "definitivamente" para trás a proposta de construção de uma ordem internacional, construída logo após a Segunda Guerra Mundial.
Com o republicano, na visão de Poggio, será um país mais isolacionista, nacionalista e protecionista.
"Sabemos, por exemplo, que os europeus vão ter que se reorganizar, sem poder contar mais com a ajuda americana, que prova ser não muito confiável", diz. "A questão vai ser como outros países, como o Brasil, também vão se organizar."
Poggio salienta que as iniciativas de caráter global, que requerem cooperação entre países, não devem mais contar com a presença dos EUA.
"Acho que vamos ter uma reorganização dessas iniciativas todas, sem a presença americana. E a questão é quem vai tomar a frente deste processo", diz.
O analista vê um desmonte da liderança americana e de uma ordem internacional que era liderada, patrocinada e sustentada pelos Estados Unidos.
"Temos essa transformação, que é importante. Esses temas globais todos não afetam apenas a relação Brasil-EUA."
Poggio observa que pode aumentar o racha que já existe no Mercosul, diante da relação de Trump com o presidente argentino, Javier Milei.
"Mas isso deve ser mais por questões internas, de comportamento do que por alguma política específica do governo Trump", prevê. "É curioso, porque Milei é um libertário, Trump é um protecionista."
"É óbvio que há um fortalecimento de um certo modo de se fazer política, de uma certa corrente ideológica", afirma. "A prova de que o eleitor, de fato não, liga muito para caráter ou estilo político ou bons modos quando outras questões estão em jogo."
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