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CIDADES Domingo, 09 de Agosto de 2020, 16:41 - A | A

09 de Agosto de 2020, 16h:41 - A | A

CIDADES / DIA DOS PAIS

Comemorado por homens, o Dia dos Pais também é para elas: as ‘Pães’

Claryssa Amorim
Única News



Dia dos Pais. Data comemorativa que comumente é celebrada por homens. No entanto, atualmente o que mais vemos são mães criando seus filhos sozinhas, cumprindo também o papel de pai. Conhecidas popularmente como “pães”, as mulheres se dividem entre trabalho, filhos, afazeres da casa, estudos, e vários outras atividades.

Assim é Thalyssa Amorim de Arruda, 32 anos, que enfrentou diversas dificuldades para criar os dois filhos, Benjamim, de 8 anos, e Sofia, de apenas 2 anos. Benjamim, que já tem o entendimento do sacrifício que a mãe faz para a criação deles, a homenageou como “pãe”.

“Eu amo muito minha pãe, ela cuida de mim e da minha irmã muito bem. Eu cuido dela. Nunca vou esquecer ela. Quero ela muito perto de mim, sempre perto de mim”, disse Benjamim ao Única News.

Eu amo muito minha pãe, ela cuida de mim e da minha irmã muito bem

Pedagoga recém-formada, ela contou ao Única News que tudo começou quando descobriu a gravidez de Benjamim. Casada e com apenas três meses de gravidez, se divorciou do marido. A partir daí, enfrentou diversos problemas, emocionais e físicos.

Ela lembra que contou com o apoio dos pais nesse momento, mas sempre idealizou a criação de seus filhos com a família completa, ou seja, casada. Para ela, isso seria essencial para o crescimento e educação dos pequenos. No entanto, com o decorrer do tempo, percebeu que era capaz de fazer o papel de “mãe” e “pai” ao mesmo tempo.  

(Foto: reprodução)

THALYSSA

 

Durante toda a gravidez do primeiro filho, trabalhou em um escritório de advocacia. Em período integral, começava a rotina logo cedo, antes das 6h. Pegava três ônibus para chegar até o trabalho, com um “barrigão”. Ela ainda lembra que, muitas vezes dentro do ônibus, mesmo com a barriga visível, as pessoas não se levantavam para dar o acento, já que se deveria ter prioridade.

Foi assim até os cinco meses de idade de Benjamim, quando Thalyssa resolveu pedir demissão do trabalho. Ela diz que conciliar o trabalho com o filho pequeno estava difícil, pois ainda amamentava. Ele era cuidado pela irmã da Thalyssa, no entanto, teve dificuldades em pegar a mamadeira e acabou ficando cada vez mais difícil ficar longe do filho.

“Eu tive muitas dificuldades durante a gravidez, pois estava sofrendo com a separação e preocupada também, ao mesmo tempo, de como seria eu sozinha com um filho. Graças a Deus eu tenho meus pais e minhas irmãs, que me ajudaram muito. Mas, mesmo assim, acaba ficando difícil de você não ter um companheiro para ajudar. Então, eu não tive a presença de um pai para o meu filho e um marido dentro de casa”, comentou.

Para ficar mais próxima do filho, ela queria um trabalho que pudesse conciliar com os cuidados ao Benjamim. Assim, seguiu a carreira da mãe, cabeleireira, em que ela podia marcar as clientes e conseguir conciliar o trabalho e a carreira de mãe.

(Foto: reprodução)

THALYSSA

 

Quando ingressou na faculdade de pedagogia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), tudo ficou ainda mais difícil. Estudando no período da manhã, ela acordava bem cedo, arrumava o filho, pegava ônibus, deixava-o na creche e seguia de ônibus para a faculdade. Nos períodos da tarde, trabalhava como cabelereira no salão que montou dentro de casa, além de fazer faxinas. Às 17h buscava o filho, chegava em casa, cuidava dos afazeres, do filho e no dia seguinte, tudo de novo.

Thalyssa conta que tinha que “se virar” para conseguir pagar energia, comida, passe de ônibus, pois usava muitos levando o filho para a creche todos os dias, além de outros gastos que tinha. Foi assim até os quatro anos do Benjamim. Até que ela e o ex-marido se reaproximaram, tentando reatar o relacionamento. Porém, novamente não deu certo e continuou solteira.

‘É uma meninona e você está de 7 meses’. Na hora entrei em prantos, comecei a chorar e não acreditava que aquilo estava acontecendo

Sentindo alguns desconfortos estomacais, dores de cabeça, dores pelo corpo, Thalyssa começou a fazer uma bateria de exames para descobrir o que era. Outra gravidez, para ela, estava descartada, já que chegou a fazer o exame próprio e deu negativo. Fez endoscopia e nada foi encontrado também. Quando enfim, o médico estranhou todo esse problema físico de Thalyssa e não conseguia descobrir o motivo.

Em uma ultrassonografia, a pedido do médico, veio a notícia à então estudante de pedagogia: ‘você está gravida’. Assustada e nervosa, Thalyssa começou a chorar e começou a argumentar à profissional, dizendo que fez exames e não teria como estar. No entanto, a profissional não só confirmou, como mostrou a imagem de bebê de sete meses!

“O susto foi maior quando ela olhou para mim e já disse até o sexo. ‘É uma meninona e você está de 7 meses’. Na hora entrei em prantos, comecei a chorar e não acreditava que aquilo estava acontecendo. Já pensei em tudo que passei com o Benjamim na gravidez e criação sozinha e já de 7 meses! Como eu ia arrumar o enxoval? Não tinha nada e não tinha estabilidade financeira para comprar tudo. Mais uma vez, a minha família e muitos amigos me ajudaram”, lembrou.

(Foto: reprodução)

THALYSSA

 

No período de faculdade, conseguiu um estágio no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT). Mesmo grávida, não foi mandada embora e foram bastante atenciosos nesse momento, segundo ela. A rotina, dessa vez, era deixar Benjamim na creche cedo, ir para a faculdade e direto seguia para o estágio.

Sofia nasceu e mais uma vez Thalyssa não pôde contar com a presença de um companheiro para ajudar e dividir as tarefas. Ela brinca dizendo que não sabe qual o processo de gravidez e criação dos filhos foi o mais difícil. Após o parto, no estágio, ela ainda conseguiu ser liberada por um mês – estágio escolar não é obrigado a dar licença maternidade –, após um acordo de que não seria mandada embora, pois contava com aquele salário para sustentar os filhos. Com apenas um mês, Sofia teve que ficar longe da mãe o dia inteiro, pois a rotina não tinha mudado.

“A Sofia ficava com minha mãe. Graças a Deus contei muito com a ajuda dela, se não, não sei o que seria. Mas a rotina corriqueira era a mesma, mas com mais uma criança. Deixava Benjamim na escola, ia pra faculdade, seguia para o estágio, almoçava no serviço mesmo. Buscava Benjamim, Pegava Sofia e ia para casa. Em casa, tinha que dar banho nas crianças, fazer tarefa com Benjamim, dar comida, limpar casa. E tudo era mais cansativo, pois tinha um bebê, que precisa muito de nós. Lembrando que nunca tive carro, fazia tudo com as crianças de ônibus, andava de barrigão e muitas vezes em pé”, relatou.

Este ano, Thalyssa se formou pedagoga e está morando com os pais, devido à dificuldade financeira para sustentar a casa e os filhos nesse período de pandemia da Covid-19. Ela lamenta que se formou, mas está difícil conseguir um emprego, devido à suspensão das aulas presenciais. 

(Foto: reprodução)

THALYSSA

 

Atualmente, como microempreendedora, Thalyssa vende produtos de higiene pessoal e roupas. Ela comenta que, mesmo morando com os pais e ajuda financeira, é difícil, pois qualquer criança tem gastos com mercado, roupa e médico. Lembra que o que está dando um “fôlego” é o auxílio emergencial do Governo Federal, que como mãe de família, conseguiu. No entanto, destaca que o pai das crianças tem dado a pensão, como manda a lei.

“Por fim, a vida de mãe e pai na imagem só de uma mulher não é fácil, porque você não tem com quem dividir os afazeres, você não tem mais vida social, você não tem mais tempo nem pra comer e tomar banho direito. Só que ser ‘pãe’ não tem preço. Ter meus filhos na minha vida, não tem preço. Eu amo meus filhos incondicionalmente e faria qualquer outro esforço para vê-los bem e com saúde. Então, se tiver alguma mãe que esteja passando por isso, acredite, somos fortes e guerreiras o suficiente para sermos pães dos nossos filhos”, finalizou Thalyssa.

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