Christinny dos Santos
Única News
Cláudio Natal, alvo de operação da Polícia Civil no âmbito das investigações que apuram a morte do advogado Renato Gomes Nery, acusou o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil — Seccional Mato Grosso (OAB-MT) de falsificar a assinatura de um idoso, que faleceu durante o processo de disputa de terras que levou ao assassinato do advogado. O jornalista, que atua também como perito especialista em grafotécnica e documentoscopia, teria atuado no caso contratado por Julinere Goulart Bastos, uma das mandantes do crime.
Dezoito dias antes de ser executado, em julho de 2024, Nery procurou a OAB e registrou uma denúncia contra um colega de profissão. Renato acusou o também advogado Antônio João de Carvalho Junior de se apropriar e negociar áreas que totalizavam 2.579 hectares, que ele havia recebido como honorários de uma reintegração de posse de uma terra localizada no leste do estado. Renato advogou no caso em 1988 e, desde então, lutava para obter a parte da terra a que tinha direito.
Segundo Natal, como perito ele é especializado em análise de falsificação de documentos. Indicado por outro advogado, ele conheceu Julinere, que o contratou para analisar os documentos da disputa de terras com Renato Nery. Ao analisar estes documentos, Claudio teria concluído que Renato falsificou uma assinatura do proprietário anterior das terras, que havia falecido, para tomar posse da área.
“O Renato Nery, com todo o respeito à família dele, ele acabou falsificando diversas assinaturas que diziam que a assinatura de um senhor falecido, um velhinho, transferia os direitos da fazenda para ele. Ele passou a ser dono das fazendas do cliente dele. Como perito, eu falei: 'deixa eu analisar', e verifiquei que as assinaturas eram falsas. Então, eu fiz o primeiro laudo, constatando e no laudo você entende porque elas são falsas, porque elas são muito falsas”, disse em entrevista ao Programa do POP, da TV Cidade Verde.
Então, Natal explica que a partir daí, o processo correu de maneira legal até chegar ao juízo, que solicitou análise pelos peritos da Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso (Politec).
“Diante disso, foi enviado para a corregedoria do tribunal que o cartório teria reconhecido firma autenticada, dado chancela a uma assinatura falsa e o cartório não poderia ter feito isso. Então, a corregedoria comunicou o juiz da comarca, como é de praxe isso daí, para que o juiz instaurasse um procedimento e apurasse as falsificações. O juiz, quando ele viu a denúncia, o pedido da corregedoria e o meu laudo, ele falou: 'o quê? Vamos confirmar'. Isso é o que um juiz também faz de praxe. Enviou para a Politec do estado para que o perito oficial desse o laudo e falasse: 'isso aqui é verdadeiro ou é falso?'”, contou Natal.
Conforme Natal, depois de algum tempo, um perito da Politec emitiu o próprio laudo, comprovando que de fato Nery teria falsificado a assinatura.
“Tem um laudo do Claudio [Natal] dizendo que é falso, mas eu preciso de uma confirmação da tutela estatal, a Politec tem que me dizer. E eles conseguiram atrasar esse laudo lá na Politec por mais de anos. E a Politec acabou então enviando para Cuiabá, porque lá no interior não fazia isso, e o perito da Politec, que acho que ele também é criminal, mas também é grafotécnico, conferiu e emitiu o laudo dele dizendo que realmente as assinaturas eram falsificadas”, afirmou Claudio.
Segundo Claudio, depois dessa análise e com laudo oficial do Estado, o juiz que estava à frente do caso chegou a cancelar a validade dos selos cartorários que validavam a transferência da área de terra para Nery. “Diante disso, o juiz da comarca lá determinou que o cartório cancelasse os selos que foram usados para autenticar a assinatura falsa, porque tinha dado chancela à assinatura que não era do velhinho, e isso foi usado pelo Renato para ficar com as terras. Foi a Julinere que me contratou, ninguém tinha visto isso no processo, só eu”, falou.
Claudio Natal foi alvo de operação após as investigações da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apontarem que ele estava envolvido na alteração de documentos e no assessoramento a escritórios de advocacia. Durante cumprimento de mandado de busca e apreensão e, durante o cumprimento da medida, a Polícia Civil encontrou munições ilegais, calibre 12, calibre 38 e .40., na casa dele e, por isso, foi preso em flagrante. Ele foi liberado após pagamento de fiança.
Mandantes
Foram apontados como mandantes do crime o casal Cesar Jorge Sechi e Julinere Goulart Bastos, empresários de Primavera do Leste. Os dois seriam parte envolvida em disputa de uma terra de 12.413 hectares no leste do estado, na qual Nery advogou e teria recebido uma área de 2.579 hectares como pagamento de seus honorários.
Nery advogou no caso em 1988 e, desde então, lutava para obter a parte da terra a que tinha direito.
Militares envolvidos
Durante as investigações, sete policias foram presos por envolvimento no crime. Dois deles são o 3º Sargento PM Heron Teixeira Pena Vieira e o cabo PM Jackson Pereira Barbosa, vizinho do casal que encomendou a morte do advogado. O terceiro é o soldado Ícaro Nathan Santos Ferreira, integrante da equipe de Inteligência do Batalhão da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam), que foi preso na mesma fase da operação Office Crime que teve como alvo também o cabo PM de Primavera do Leste.
Os outros quatro estão ligados a Heron. São eles: o 3º Sargento Leandro Cardoso, o soldado Wekcerlley Benevides de Oliveira, o cabo Wailson Alessandro Medeiros Ramos e o sargento Jorge Rodrigo Martins. Eles foram acusados de envolvimento em suposto falso confronto, onde teria sido inserida propositalmente a arma utilizada para matar o advogado Renato Nery.
O juiz Francisco Ney Gaíva, da 14ª Vara Criminal de Cuiabá, mandou soltar Wekcerlley, Jorge, Wailson e Leandro nesta quinta-feria (29). Ele acatou o argumento da defesa e entendeu que a soltura dos acusados não representa risco à ordem pública, tendo em vista que são réus primários, têm bons antecedentes e que, ao serem citados, os acusados "apresentaram resposta à acusação, sem qualquer indício de obstrução ou tentativa de prejudicar a marcha processual".
Está preso também o caseiro de Heron, Alex Roberto de Queiroz Silva, autor do disparo de arma de fogo que atingiu e matou Renato Nery.




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