Ari Miranda
Única News
Reprodução
Quase um terço da exploração de madeira ilegal em Mato Grosso ocorreu em Áreas de Proteção Ambiental. Foi o que revelou um mapeamento feito pelo Instituto Centro de Vida (ICV) e divulgado neste final de semana. O estudo revelou ainda um aumento de 87% na exploração não autorizada em terras indígenas e 50% em unidades de conservação.
Os resultados fazem parte do Mapeamento da Exploração Madeireira em MT e foram obtidos por meio de cooperação técnica entre o ICV e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), em conjunto com a rede Simex, composta pelo ICV, Imazon, Imaflora e Idesam. Os dados utilizados para a obtenção do relatório foram coletados entre os meses de agosto de 2021 e julho de 2022.
Durante o período da pesquisa, os estudiosos constataram que os municípios com maiores registros de exploração madeireira ilegal foram, em hectares, as cidades de Colniza (12.610); Aripuanã (8.584); Nova Ubiratã (6.374); Nova Maringá (5.995); Feliz Natal (5.513); Juína (4.294); Rondolândia (3.471); Juara (3.348); Marcelândia (2.919) e União do Sul (2.733).
Os dados apontaram ainda que 56% da exploração não autorizada de madeira em 2022 ocorreu em imóveis rurais privados já cadastrados na Sema. Em 2021, o índice foi de 74%. Conforme a pesquisa, os ilícitos estão concentrados em 277 propriedades rurais, sendo que 15 delas respondem por um quarto da área desmatada ilegalmente.
Em números gerais, o levantamento aponta um dado positivo, que é a queda da exploração madeireira no estado. Isso porque foram mapeados 259.620 hectares explorados em Mato Grosso, número 6% menor que o registrado no período anterior, quando a métrica foi de 277.048 hectares.
Todavia, o mapeamento revela que a exploração autorizada, cujo total chegou a 179.929 hectares, cresceu 4% em relação a 2021. Paralelamente, embora a exploração ilegal tenha registrado uma redução de 23% no estado, 31% destas ocorrências foram verificadas em áreas protegidas.
Para Vinícius Silgueiro, coordenador do núcleo de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida, a alta da exploração madeireira legalizada está relacionada ao aumento nas emissões das autorizações de exploração florestal pela Sema, relacionadas aos Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) e aos Planos de Exploração Florestal (PEF).
“A atividade madeireira é importante para a manutenção e valorização da floresta em pé e para o desenvolvimento socioeconômico das regiões florestais em nosso estado. Mas também é fundamental que cada vez mais ela esteja dissociada das práticas ilegais, de forma inclusive a garantir e ampliar o mercado para os produtos madeireiros”, disse Silgueiro.
Áreas protegidas em alerta
Dos 79.691 hectares explorados de forma não autorizada em MT no período da pesquisa, 24.895 hectares ocorreram em áreas protegidas.
Neste contexto, o levantamento revela ainda que a exploração atingiu 19.202 hectares em reservas indígenas e 5.693 hectares em unidades de conservação, o que representou um aumento de 87% e 50% em relação ao período de 2021, respectivamente.
Diante dos dados, Silgueiro explicou que a ocorrência da exploração ilegal em áreas protegidas chama a atenção para um problema grave que deve ser atacado com mais força pelo Estado: A fiscalização em terras indígenas.
“A fiscalização em territórios indígenas tem maior responsabilidade dos órgãos federais, que sabemos que ficou bastante comprometida nos últimos anos. Mas a ocorrência em unidades de conservação, como a Resex Guariba/Roosevelt e o Parque Estadual Tucumã, é de responsabilidade da Sema, do Governo do Estado de Mato Grosso”, afirmou.
“É fundamental que nesse momento de reestruturação e fortalecimento da atuação de fiscalização no nível federal a Sema possa otimizar seus esforços e atuar em sinergia com o Ibama e a Funai visando combater as práticas ilegais nas áreas protegidas no estado”, completou.
O mapeamento detalha ainda quais as Terras Indígenas com maiores extensões de hectares explorados de forma não-autorizada foram a TI Aripuanã (5.729); TI Parque do Xingu (3.761); TI Parque do Aripuanã (2.282); TI Zoró (2.255); Resex Guariba (2.229); Parque Estadual Tucumã (2.019); TI Menku (1.337); TI Arara do Rio Branco (1.193); Estação Ecológica do Rio Roosevelt (966) e TI Roosevelt (570).
“Esse fortalecimento do monitoramento e fiscalização ganhou um aliado nesse ano de 2023 com a implementação do Sisflora 2.0 pela Sema e a integração ao sistema do Ibama, o DOF+ Rastreabilidade. É preciso fechar o cerco contra a madeira explorada ilegalmente de forma que ela não consiga ser transportada e comercializada e que a prática ilegal seja completamente inviabilizada no estado”, pontuou Silgueiro.
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