Ari Miranda
Única News
Era noite de terça-feira, dia 5 de dezembro de 2023, quando às 19h52 o advogado Roberto Zampieri, de 56 anos, se preparava para ir embora para casa após o dia de trabalho. Em imagens de uma câmera de segurança, é possivel ver o jurista saindo de seu escritório, no bairro Bosque da Saúde, atravessando a rua, e entrando em seu veículo Fiat Toro.
No momento em que se preparava para ligar o carro, surge um homem de estatura média, todo vestido de preto, que passa devagar pela calçada e, de repente, se aproxima da janela do passageiro do veículo com uma caixa de isopor no braço, atira dez vezes contra o jurista e foge.
O advogado morreu no local, antes mesmo da chegada do socorro médico.
As investigações, inicialmente conduzidas pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá, conseguiram identificar o atirador: o pedreiro Antônio Gomes da Silva, de 56 anos, que foi preso dias depois na cidade de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte, capital mineira. Ele confessou o crime e disse que tinha vindo a Cuiabá exclusivamente para a empreitada criminosa.
Além do atirador, também foi preso em Belo Horizonte o instrutor de tiro e intermediário do crime, Hedilerson Fialho Barbosa, que foi a pessoa responsável por ceder a arma usada na ação, uma pistola Taurus 9mm. Com a justificativa de que participaria de um torneio de tiro na capital mato-grossense, Hedilerson trouxe a arma da capital mineira para Cuiabá e a entregou em mãos a Antônio um dia antes do crime, em um hotel onde ficaram hospedados.
Quase um mês após o assassinato de Zampieri, a DHPP de Cuiabá também prendeu em Belo Horizonte o coronel da reserva do Exército Brasileiro, Etevaldo Caçadini Vargas, apontado como o financiador da morte do advogado e a pessoa que teria prometido pagar R$ 40 mil ao pistoleiro Antônio Gomes.
Antônio, Hedilerson e Caçadini foram denunciados, se tornaram réus pelo crime de homicídio quadruplamente qualificado e estão presos, enquanto aguardam julgamento.
Também surgiu nas investigações do crime o nome do fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo, indiciado pela Polícia Civil como suposto mandante do crime, que teria encomendado a morte de Zampieri em razão de uma disputa de terras avaliadas em R$ 100 milhões na cidade de Paranatinga (384 Km de Cuiabá). Entretanto, contra ele ainda não há denúncia e encontra-se em liberdade.
(Foto: Reprodução/Montagem)

Os desembargadores do TJMT Sebastião Filho e João Ferreira Filho.
REDE DE CORRUPÇÃO
No dia do crime, a Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) recolheu o celular de Roberto Zampieri, a fim de descobrir fatos que pudessem elucidar o crime. Entretanto, o conteúdo extraído do aparelho foi muito mais além.
As informações do celular revelaram uma grande rede de venda de sentenças no Judiciário brasileiro, que envolveu além do jurista assassinado em Cuiabá, dois desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e um lobista, que fazia a “ponte” entre o advogado morto e a Corte Superior, na Capital Federal.
Após ser periciado, as mensagens bombásticas extraídas do celular de Roberto Zampieri revelaram que os desembargadores do TJMT, Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, mantinham uma amizade íntima com o advogado.
Segundo o ministro Luiz Felipe Salomão, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a proximidade entre Zampieri e os dois magistrados fez com que os dois se tornassem suspeitos para julgar os processos conduzidos pelo jurista, destacando que os dois teriam, inclusive, recebido dinheiro e presentes de alto valor do advogado – entre eles barras de ouro - para julgar ações de acordo com os interesses pessoais de Roberto.
A descoberta levou o CNJ a afastar Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho de suas funções em 1º de agosto deste ano. Já no dia 26 de novembro, os dois foram alvos da Operação Sisamnes, da Polícia Federal, onde o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que os dois magistrados passassem a ser monitorados por tornozeleira eletrônica.
No âmbito estadual, além dos dois desembargadores, O CNJ também afastou o juiz Ivan Lúcio Amarante, da Comarca de Vila Rica (1.242 Km de Cuiabá), após as investigações sobre a morte de Zampieri indicarem a presença de "indícios suficientes" de um relacionamento próximo entre ele e o advogado assassinado na Capital.
(Foto: Reprodução/Internet)

O lobista Andreson Gonçalves.
NEGOCIATAS NO STJ
Durante as investigações sobre a morte do advogado em Cuiabá e o esquema de venda de sentenças, surgiu o nome do empresário e advogado Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado como a pessoa que fazia a “ponte” entre Roberto Zampieri e assessores de gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em Brasília.
Andreson foi alvo PF em duas operações: a Ultima Ratio, que investigou um esquema de venda de sentenças envolvendo desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS); e da operação Sisamnes, deflagrada no final do mês passado em Cuiabá.
Segundo uma publicação feita pela revista Veja, em outubro, o advogado era suspeito de captar clientes que tinham interesse em processos que tramitavam no STJ e o lobista, por sua vez, usava sua rede de contatos na Corte Superior para negociar decisões e assim manipular o resultado de julgamentos.
A PF então abriu um inquérito para investigar o caso e o papel de Andreson no esquema a partir dos diálogos e documentos encontrados no telefone de Zampieri, que segundo as investigações, não deixou dúvidas de que um grupo de advogados e lobistas comprava e vendia decisões do STJ, apontando ainda os ministros Isabel Gallotti, Og Fernandes, Nancy Andrighi e Paulo Moura Ribeiro.
Tanto a morte de Zampieri quanto o esquema de venda de sentenças continuam em investigação, conduzidas pela Polícia Federal sob a coordenação do Supremo Tribunal Federal.
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