Cuiabá, 05 de Maio de 2024

SAÚDE E BEM ESTAR Sexta-feira, 24 de Junho de 2022, 17:25 - A | A

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SAÚDE E BEM ESTAR / DISPONÍVEL EM 2024

Vacina contra a dengue passa por testes em Mato Grosso

Desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com 15 centros de pesquisa, um deles em Cuiabá, a vacina está em estudo desde 2009

Aline Almeida  - Revista Única




Após 100 anos de tentativas, o Brasil pode oferecer para o mundo, a partir de 2024, uma vacina de dose única contra a dengue. Desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com 15 centros de pesquisa, um deles em Cuiabá, a vacina está em estudo desde 2009. Na capital mato-grossense, os estudos clínicos com 1,2 mil voluntários, entre 2 a 59 anos de idade, iniciaram em 2016. O Produto Sob Investigação (PSI), como ainda é chamado o imunizante por não ter registro, já está na fase 3 de testes. Do total de voluntários, 2/3 tomaram PSI e 1/3 o placebo.

Em Cuiabá, o centro de pesquisa para a vacina é constituído pela parceria entre o Instituto Butantan, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e o Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM). Coordenador de Pesquisa Clínica do Instituto Butatan em Cuiabá, Luciano Teixeira Gomes ressalta que os resultados com o PSI têm sido promissores e que mais breve do que se espera, a vacina será disponibilizada. O doutor em Ciências da Saúde pela UFMT enfatiza que o objetivo é que o imunizante, que será dose única, seja oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), fazendo parte do Calendário Nacional de Vacinação.

“Qualquer doença em que é necessário matar o vetor, não se tem muita efetividade. Matar o mosquito é muito difícil. A vacina vai atingir a outra ponta, diminuir o número de doentes para que o mosquito não se contamine através do doente e, assim, reduzir a infecção. O mosquito é apenas uma parte da cadeia de transmissão”, revela.

Indagado sobre o longo período de pesquisa se comparada a vacina da dengue com a da covid-19, Luciano diz que um dos motivos é a falta de investimento. Por ser uma doença mais comum em países pobres e regiões periféricas, não há tanto interesse em financiar os estudos. Diferente do coronavírus, onde apareceram investimentos de todo o mundo. Outro motivo citado pelo professor adjunto da faculdade de Medicina da UFMT é que, para pesquisar, é necessário ter pessoas doentes no grupo de voluntários e, nos últimos dois anos, o observado eram pessoas adoecendo pela covid-19.

Luciano pondera que, quando se produz vacina, produz a bula. E todos os imunizantes têm efeitos colaterais, pequenos diante dos benefícios. Destaca ainda que, para uma vacina ser oferecida, a mesma passa por rigoroso controle de qualidade. “Hoje, se vivemos mais e com qualidade, é graças a duas coisas: vacina e antibióticos. Precisamos desmitificar essas informações falsas sobre vacinas”.

Eficácia

O Instituto Butantan destacou que um estudo publicado na revista científica Human Vaccines & Immunotherapeutics reforçou as descobertas anteriores sobre a imunogenicidade da vacina da dengue, que vem sendo desenvolvida há mais de dez anos pelo Butantan, em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID). De acordo com o artigo, publicado por pesquisadores da farmacêutica Merck, também parceira do Butantan, a vacina induziu a geração de anticorpos em 100% dos indivíduos que já tiveram dengue e em mais de 90% naqueles que nunca haviam tido contato com o vírus.

O imunizante usa a técnica de vírus atenuado contra a dengue, utilizando vírus enfraquecidos que induzem à produção de anticorpos sem causar a doença e com poucas reações adversas. O imunizante será tetravalente, protegendo dos quatro tipos de dengue (tipo 1, 2, 3 e 4). “Vero do macaco verde africano, uma técnica já estabelecida e usada em diversas vacinas; depois, a matéria-prima foi purificada e seguiu para a formulação. A última etapa é a liofilização, processo que transforma o líquido em pó, e a criação do diluente para diluir o pó no momento da aplicação da vacina”, confirma o Butantan.

O Butantan participa do desenvolvimento da vacina contra a dengue desde 2009. O acordo com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos prevê que o Instituto produza e distribua o imunizante em território brasileiro. O estudo avançou para fase 3 em 2016, com 17 mil voluntários, e hoje está na etapa de acompanhamento – os voluntários serão avaliados durante cinco anos. A previsão é que a pesquisa seja concluída até 2024.

“A vacinação contra a dengue aumentará o controle de novos casos e, consequentemente, de casos graves da doença, com reflexo na mortalidade. Estudos recentes mostram resultados, na segunda etapa da pesquisa, que a vacina induz à formação de anticorpos contra os quatro subtipos do vírus da dengue com apenas uma dose”, afirma Cauê Pimentel.

Em junho de 2018, o Butantan obteve uma patente concedida pelo Escritório Americano de Marcas e Patentes (Uspto) para o processo de produção da vacina, garantindo visibilidade internacional ao projeto. Seis meses depois, o Instituto assinou um acordo de colaboração e licenciamento com a farmacêutica multinacional Merck, que lhe permite desenvolver e comercializar a vacina no exterior. O acordo simbolizou um avanço para a ciência brasileira, já que geralmente ocorre o inverso (licenciamento do exterior para o Brasil).

Além da vacina do Butatan, existem outros dois imunizantes. O TAK-003, da Takeda, que desde abril do ano passado espera da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o registro de sua vacina tetravalente (que protege contra os quatro sorotipos).

Atualmente, a única vacina contra a dengue disponível no Brasil é a Dengvaxia (a primeira que teve registro no mundo), fabricada pelo laboratório francês Sanofi Pasteur. O imunizante é vendido na rede privada e não está disponível na rede pública. A vacina é para pessoas com infecção prévia pela doença e tem que ser tomada a cada 6 meses e só após realização de testes.

Combate é ferramenta essencial

Cauê Pimentel, professor do curso de Enfermagem da Universidade de Cuiabá (Unic), ressalta que a dengue é um problema de saúde pública no Brasil, que tem como maior população atingida os adultos jovens. Pimentel frisa que a dengue apresenta, habitualmente, comportamento cíclico, com anos epidêmicos, o que resulta em um maior número de casos leves e graves da doença. O professor diz que a expectativa é que a vacina contra a doença faça parte, em breve, do calendário vacinal.

“A vacinação contra a dengue aumentará o controle de novos casos e, consequentemente, de casos graves da doença, com reflexo na mortalidade. Estudos recentes mostram resultados, na segunda etapa da pesquisa, que a vacina induz à formação de anticorpos contra os quatro subtipos do vírus da dengue com apenas uma dose”, afirma Cauê.

O professor ressalta que, para considerar o diagnóstico de dengue, deve-se estar atento aos sinais e sintomas, como febre com duração máxima de 7 dias, que pode estar acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sinais/sintomas: dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor no corpo e mal-estar geral, dor nas articulações e manchas avermelhadas na pele. Além disso, é sempre importante saber se a pessoa esteve em áreas de transmissão de dengue ou com presença do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, nos últimos 15 dias.

Pimentel explica que o controle da dengue exige diversas atividades para manutenção, controle e dispersão da doença e de seu vetor transmissor, o mosquito. Quando há baixa adesão das pessoas, comunidades e poder público, aliados a características ambientais, pode ocorrer o aumento do número de casos. “Assim, é fundamental a implementação de ações entre as pessoas e comunidades juntamente com os diferentes setores da sociedade para que haja o controle desta doença”.

Luciano

 

“Qualquer doença em que é necessário matar o vetor, não se tem muita efetividade. Matar o mosquito é muito difícil. A vacina vai atingir a outra ponta, diminuir o número de doentes para que o mosquito não se contamine através do doente e, assim, reduzir a infecção. O mosquito é apenas uma parte da cadeia de transmissão”, diz Luciano Teixeira Gomes.

 

Inicialmente, diz o professor, deve-se evitar ou prevenir a exposição em horário de atividade da fêmea do mosquito, que tem hábitos diurnos, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer, com o uso de telas em janelas e portas. Já para o controle de criadouros de mosquito, cada indivíduo deve se responsabilizar pelo seu local de moradia e evitar o acúmulo de água em vasos de plantas e colocação de areia nos pratos das plantas, garantir o destino correto do lixo doméstico (latas, garrafas, embalagens), entulhos e pneus, manter o cuidado com a vegetação e paisagismo, realizar a limpeza de calhas aliado a vedação de locais onde armazenam água. “No caso de ambientes coletivos, como estacionamentos, canteiros de obras, entre outros, deve-se ter atenção e, no caso, comunicar ao Agente de Controle de Endemias da sua localidade. Vale destacar que estas medidas devem ser tomadas durante todo o ano e não somente no período chuvoso”.

Outra estratégia é o controle químico, por meio de inseticidas, para o controle do mosquito em sua fase larvária ou adulta. A aplicação desta estratégia fica a critério das diretrizes municipais de controle da dengue vinculado à área de vigilância em saúde. “Assim, é sempre importante receber o Agente de Controle de Endemias, quando é realizada a visita no domicílio, pois, ele analisará o cenário a melhor forma de prevenção e controle do mosquito em sua fase larvária ou adulta”.

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