Por GloboNews
(Foto: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Dois dias depois da saída das tropas do Exército, os moradores da comunidade da Rocinha, na Zona Sul do Rio, seguem tentando manter a rotina. A aparente tranquilidade vivida desde o sábado (30), no entanto, foi interrompida por uma troca de tiros na manhã deste domingo (1).
De acordo com a Polícia Militar, "houve um breve confronto na Rua 1, Comunidade da Rocinha, com policiais do BPCHq que estão vasculhando o local". A corporação não informou se houve vítimas da troca de tiros.
A PM destacou que mais de 500 policiais militares atuam em 15 pontos de cerco e 14 pontos de contenção no interior da comunidade, além do patrulhamento das tropas especiais. A comunidade conta também com bases avançadas do Comando de Operações Especiais (COE) e do Comando de Polícia Pacificadora (CCP).
No Morro do Vidigal, vizinho à Rocinha, o Batalhão de Ações com Cães (BAC) realizava uma operação desde o começo da manhã.
Conforme mostrou a GloboNews, a circulação de veículos e pedestres era normal nos acessos da comunidade nesta manhã e o comércio também funcionava normalmente.
Várias viaturas da Polícia Militar, incluindo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) estavam posicionadas nos principais acessos da Rocinha nesta manhã. De acordo com a PM, o policiamento na comunidade é feito por 500 homens.
Audácia do tráfico
Apesar da presença policial, moradores relataram à GloboNews que os traficantes voltaram a se fazer presentes nos becos e vielas. Faixas colocadas em alguns pontos da comunidade denotam que os criminosos voltaram a dar ordens no morro.
Na sexta-feira (29), os moradores foram surpreendidos pela colocação de uma faixa informando que o preço do gás de cozinha iria custar R$ 75 e que os preços abusivos cobrados até então ocorriam por ordens do traficante Nem, traficante preso na penitenciária em Rondônia. Os moradores estavam pagando cerca de R$ 90 pelo gás.
A faixa estava assinada pela "nova administração", que dizia não estar envolvida nos abusos, pois não concordava com a taxa cobrada, como mostrou o RJTV.
De acordo com a Polícia Civil, a primeira faixa foi colocada na noite de sexta e foi apreendida pelos policiais militares. No entanto, na manhã deste sábado(30) uma faixa com a mesmo texto foi recolocada na quadra da comunidade que fica ao lado da Auto Estrada Lagoa-Barra. Até às 19h, o cartaz ainda não havia sido retirado do local.
As investigações apontam que a ordem para colocar a faixa veio do grupo de traficantes ligados à Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157. O grupo dele disputa o controle do tráfico de drogas com os criminosos ligados ao traficante Antonio Bonfim Lopes, Nem.
A Secretaria de Segurança Pública informou que não iria fazer comentários sobre a colocação da faixa e que a polícia está investigando.
Jovens torturados por traficantes
Um dos dois adolescentes que foram capturados pelo tráfico e torturados por traficantes na Rocinha na quarta-feira (27), durante quase uma hora, contou à polícia que os criminosos faziam muitas ameaças, entre elas, de queimar os jovens vivos.
O menino torturado, de 16 anos, contou que foi confundido com um rival do bando. "Levou nós dois para uma casa onde só tinha o colchão e pia... Aí amarrou a gente e deixou a gente lá... Falaram que ia tacar fogo na gente. Jogaram óleo, aí quando eles estavam jogando óleo, começaram a bater na gente de novo, deu uma madeirada, falaram que iam pegar um machado... Aí, nessa que eles tava jogando óleo, ele falou assim: "Ó os cana, ó os cana, piou, piou, piou!" Aí saiu correndo. Deixou a gente lá trancado ", disse o adolescente.
Um dos meninos é morador da Rocinha e estava com um colega quando foi abordado pelos traficantes. Eles foram resgatados por militares das Forças Armadas.
Uma semana de ocupação militar
As Forças Armadas deixaram a comunidade da Rocinha na sexta-feira (29), após uma semana de ocupação como resposta à guerra entre facções rivais. Cerca de mil homens foram retirados do local. Os comboios começaram a deixar a comunidade por volta das 3h30 desta madrugada. O último grupo de militares do Exército saiu da Rocinha às 7h30.
Segundo o porta-voz do Comando Militar do Leste, coronel Itamar, não cabe às Forças Armadas a prisão dos criminosos que estão foragidos. “A questão dos traficantes que ainda não foram presos, também é um objetivo dos órgãos de segurança pública do estado. Não se trata exatamente de uma atribuição das Forças Armadas a prisão de procurados pela polícia”, afirmou.
Na véspera da saída das tropas, o ministro da Defesa Raul Jungmann anunciou que o cerco das Forças Armadas na Rocinha começaria a ser desfeito nesta sexta. Em entrevista exclusiva ao RJTV, ele disse que está satisfeito com a atuação e que o objetivo do Governo Federal era acabar com a guerra que levava terror aos moradores, não a prisão de bandidos – pois isso cabe à polícia.
Jungmann disse que, havendo necessidade, as tropas têm capacidade para chegar rapidamente a qualquer parte da cidade para dar apoio às forças de segurança estaduais.
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