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VARIEDADES Sexta-feira, 24 de Maio de 2019, 13:57 - A | A

24 de Maio de 2019, 13h:57 - A | A

VARIEDADES / GINASTA

Diego Hypolito diz que focou no esporte para superar traumas

Rafael Godinho
Quem News



Diego Hypolito está vivendo um momento de redescoberta pessoal. O ginasta, de 32 anos, com 69 medalhas no currículo, virou notícia recentemente ao falar abertamente sobre a sua sexualidade. Isso faz parte da nova fase do atleta de aceitação do seu corpo e de como ele se enxerga como pessoa. Para celebrar o momento, ele recebeu QUEM em sua cobertura na Barra da Tijuca.

"Não esperava essa repercussão toda quando eu falei sobre minha sexualidade. Eu achava que todo mundo já sabia. Tenho recebido muito apoio e carinho das pessoas, como nunca tive. Uma das coisas que me motivaram foi pensar que tinham outros gays passando pela mesma situação que a minha, com vergonha de si. A sociedade julga muito o que é certo ou errado. Dentro das minhas crenças, o único ser que pode dar o veredito final é Deus. Eu não aceito ser julgado pelo humano. Tem tantos problemas no nosso país e no mundo, cheio de crianças passando fome, guerras civis e políticos envolvidos em corrupção. Eu não entendo porque tanta preocupação com duas pessoas do mesmo sexo se relacionando", declara.

 

Diego não se arrepende de ter aberto sua vida publicamente. "Acho que pelo momento que nós vivemos de empoderamento, as pessoas vivem uma rivalidade muito grande de querer mostrar a questão e obrigar as pessoas a entenderem isso ou aquilo. No meu caso, foi muito libertador. Mas acho que ninguém é obrigado a se assumir. Cada um tem seu tempo. Outros nem têm o seu tempo. O importante é se sentir bem. Para mim, assumir publicamente me fez muito bem. Mesmo já sendo bem resolvido comigo mesmo, minha família, meu colegas da ginástica e meus amigos sabendo, me senti mais leve", garante.

O medo de desagradar os fãs foi superado. "Eu tinha um receio muito grande em relação a reação do público, por mais que eu fosse muito bem resolvido comigo mesmo e com as pessoas ao meu redor. Mas eu vi que não mudou absolutamente nada. Crianças continuam tirando fotos, famílias inteiras continuam me abordando na rua. Espero que eu incentive outras pessoas a serem felizes. Eu não me arrependo nenhum pouco. As pessoas têm o direito se serem livres. Você não é obrigado a concordar com o estilo de vida de ninguém, mas precisa respeitar", opina.

Apesar de se assumir ao público sua homossexualidade, Diego sempre contou com o apoio da família. "Acho que a família é realmente a base de tudo e a minha é realmente muito especial e boa. A minha mãe me surpreendeu muito. Eu fiquei chocado com ela por ser uma pessoa muito religiosa. Quando descobri o que ela pensava de mim, isso me fez muito bem. Minha mãe me deu uma lição de moral. Ela disse que me ama independentemente da minha orientação sexual. A minha mãe é uma pessoa que veio do interior do Paraná, trabalhava na roça. A educação que ela teve tratava gay como anomalia. Eu estou aqui para mostrar que posso ser gay e um homem de bem", afirma.

O atleta reconhece a importância da militância LGBTQ+. "Os que batem de frente, dão a cara a tapa, que lutam mais para toda a comunidade estar aonde está. Nossas conquistas vieram com muita luta deles e eu vejo muitos gays com preconceito até com quem é mais afeminado ou trans e isso é péssimo. Se a gente não apoiar o grupo a qual nós pertencemos, dificilmente nós vamos mudar o mundo. Por isso, eu fico muito feliz em ver a Pabllo Vittar e a Gloria Groove fazendo sucesso, porque elas sofrem muito mais preconceitos do que eu. Até para se relacionar, eu acredito que seja muito mais difícil", opina.

O medalhista sente uma liberdade maior até para se divertir. "Eu sempre saia de boné e óculos escuros para balada gay. O dia que eu me assumi e saí mostrando o rosto, eu me senti livre. Para qualquer pessoa isso pode parecer normal, mas eu sempre me senti escondido. Não sei se é porque no esporte a gente tem que tomar todo o cuidado para curtir a noite, não só em boate GLS, mas hétero também. As pessoas cobram muito do atleta. Eu acho que hoje em dia eu me cobro bem menos".

Como atleta, ele já se sente realizado. "O meu objetivo principal de carreira era chegar em uma Olímpiada e acertar. O que vier pela frente agora é lucro. Eu ainda continuo treinando forte, sei do meu potencial como atleta, mas não me cobro mais como antes. A pressão que eu sofri para conseguir resultados expressivos nada mais é que uma cobrança pessoal. Eu vejo que depois que eu consegui todos os tipos de resultados que eu poderia querer ter, eu comecei a me olhar mais como humano e não como uma máquina. Eu tenho a obrigação de ser feliz. E atualmente temos grandes atletas representando o Brasil ginástica", exalta.

Problemas com a aparência

"A pior coisa do mundo é você se achar feio. Por mais que as pessoas te falem que você é bonito, se você não se enxerga bem no espelho, vai se sentir péssimo. Hoje, eu entendo que beleza tem prazo de validade e o conteúdo vale muito mais do que isso. Eu fiz análise muitos anos para entender. Eu sempre fui muito forte, mas eu também tinha meus sentimentos. E eu me achava muito feio. Todos os meus relacionamentos, eu sempre tive problema com isso, porque eu sempre achava que a pessoa que estava comigo era mais bonita do que eu. Conversando com minha terapeuta, eu descobri que tudo isso vem da minha infância e adolescência."

Bullying

"A minha entrada no esporte foi muito precoce, aos 7 anos. Com 11, eu já era chamado de cabeçudo, de orelhudo. Foi quando eu comecei a ter problemas psicológicos. Quando eu tinha 15, já era chamado de Frankenstein. Essa foi a minha pior fase. Eu me odiava e realmente me achava muito feio. O meu pensamento era: 'Sou muito feio mesmo. Vou focar no esporte e minha única chance de me dar bem na vida vai ser sendo o melhor'. Isso é uma loucura. Porque antes de ser campeão e colecionar troféus e medalhas, eu tenho que ser campeão na vida e ser feliz. Eu me anulava completamente como pessoa. Eu achava que nunca ia ter um relacionamento se eu não fosse campeão."

Autoestima

"Eu não vou deixar mais que as pessoas me ofendam, me chamem de feio. O importante é que eu me acho bonito. O brasileiro, em especial, é muito preconceituoso com tudo, porque é muito tirador de sarro. A gente tem que tentar mudar totalmente a questão do respeito ao próximo. Eu posso ser gay e um bom exemplo para muitos outros jovens, de honestidade, de dedicação, de filho exemplar para os meus pais, de irmão. A minha sexualidade não influencia no meu caráter."

Tratamentos estéticos

"Eu achava meus dentes pequenos e coloquei facetas. Eu sempre tive muito problema com o meu cabelo e inventei várias coisas. Eu vi pela televisão uma técnica tipo um aplique amarrado. Eu fiquei muito refém dele, mas ao mesmo tempo, ele me fazia bem. Até eu ter um relacionamento que a pessoa foi muito franca comigo e disse: 'Diego, desculpa, mas isso daí está parecendo uma peruca. Você tem que trocar isso aí'. Eu fiquei me sentindo mega mal e fiquei envergonhado, porque eu achava que ninguém percebia. Aí, eu troquei por um outro colado. Até os Jogos Olímpicos, eu competi com esse. Mas a manutenção era muito desgastante. Por último, eu fiz o implante, que é definitivo e ficou muito melhor que todos os outros. Também fiz harmonização facil. No momento, eu não vejo mais nada que eu queira fazer. Estou muito satisfeito com o que vejo no espelho."

Nudes

"Aumentou muito o assédio masculino. Foi impressionante. Em todos os lugares, redes sociais, na rua, na balada. Nudes eu já recebia até antes. As pessoas já mandavam. Eu não sei porque as pessoas fazem isso, mas elas mandam. Eu nunca mandei, mas não tenho nada contra quem manda. É porque eu sempre fui muito constrangido comigo mesmo. Tudo que passei na minha infância, me faz ficar com vergonha até hoje de tirar a roupa na frente dos outros. Este ensaio sensual para QUEM é algo que eu nunca imaginei que fosse fazer na vida."

Namoro reservado

"Estou há mais de um ano namorando. Ele é muito reservado. A gente nunca posta nada juntos. Este é o primeiro relacionamento que eu me acho bonito e por muita coperação por parte dele. Ele é uma pessoa muito do bem. Isso é o mais importante. Eu respeito a privacidade dele e o direito dele de não querer se expor demais. Ele é a pessoa que mais me respeitou na vida. É incomparável, mas para eu tomar decisões mais sérias de casar e ter um filho isso ainda é algo que é muito distante ainda na minha cabeça."

Pegação em campeonatos esportivos

"Sinceramente, eu nunca participei de nada nesse sentido. Eu sempre fui muito focado no meu treinamento. Mas enquanto estou no quarto o dia inteiro, tem atleta que fica circulando, não necessariamente fazendo pegação, mas conhecendo pessoas e tudo mais. Eu já prefiro me concentrar quando estou em uma competição. Cada um é de uma maneira. Até porque eu nunca me achei atraente ou sexy. Então, nem passava na minha cabeça que alguém iria se interessar por mim ali no meio de tantos atletas atraentes."

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