Cuiabá, 07 de Maio de 2024

JUDICIÁRIO Segunda-feira, 06 de Novembro de 2023, 17:29 - A | A

06 de Novembro de 2023, 17h:29 - A | A

JUDICIÁRIO / REPRESENTATIVIDADE NEGRA

Desembargadora do TRT em MT disputará vaga no STF

Vinda de origens humildes, Adenir da Silva Carruesco disputará vaga deixada pela ministra Rosa Weber

Ari Miranda
Única News



A desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho em Mato Grosso (TRT-MT), Adenir da Silva Carruesco, deve se lançar candidata à vaga de ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), para ocupar a vaga da ex-ministra Rosa Weber. A informação foi confirmada em reportagem do Folha Press, publicada neste domingo (5)

Mulher negra, vinda de família pobre, Adenir teve o apoio de órgãos do estado mato-grossense, como Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT) e a Câmara Municipal de Rondonópolis, onde atuou na Justiça do Trabalho.

Atualmente no TRT da 23ª Região, Adenir nasceu no interior do Paraná, estudou em escola rural e é filha de uma boia-fria com um trabalhador rural. Com apoio dos pais, conseguiu estudar e se formar no magistério e no curso de Direito.

Questionada sobre a candidatura à Suprema Corte, a magistrada afirmou que as cortes superiores ainda não refletem a diversidade do país. A seleção para a vaga do STF precisa levar em conta não apenas o notório saber jurídico, disse, mas também a pluralidade de seus cidadãos.

"A escolha do presidente Lula deve considerar o clamor da sociedade por uma representatividade equilibrada. É fundamental que o Supremo se torne um reflexo do Brasil, com todas as suas cores e perspectivas. Nomear uma mulher negra seria um marco na história do país e uma demonstração do compromisso do governo com a diversidade e com a Justiça", destacou Adenir.

A magistrada destacou que, atualmente, menos de 19% das cortes superiores são ocupadas por mulheres, embora elas representem 51% da população. Para ela, além de crucial, a diversidade é amparada por princípios constitucionais e tratados internacionais. "No entanto a Suprema Corte brasileira, que deveria ser um exemplo, carece dessa representatividade".

MULHERES SÃO MINORIA

Em 132 anos de história, o STF teve 171 ministros. Destes, apenas 3 foram do sexo feminino, nenhuma de cor negra.

Atualmente, Cármen Lúcia é a única representante do sexo feminino, contra nove ministros.

Lula ainda não definiu o nome a ocupar a outra vaga. O ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, são os principais cotados.

A magistrada se coloca à disposição para o desafio da nomeação à Suprema Corte, enfatizando que sua prioridade, além da representatividade, é a inclusão.

Adenir enatleceu a necessidade de "quebrar barreiras invisíveis", permitindo que mais pessoas, assim como ela, possam alcançar o sucesso, especialmente alunos de escolas públicas que enfrentam desafios socioeconômicos.

"O problema é que nós estamos apagando os sonhos das crianças. Nós estamos roubando o sonho do povo negro. A gente tem o direito de sonhar. Então, a importância dessa representatividade é muito grande em todos os espaços de poder."

"O nome da pessoa não é tão importante, mas sim a causa. A diversidade de experiências e origens é essencial para a construção de respostas eficazes aos problemas do Brasil”, asseverou.

A Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) apoia a ideia de uma mulher oriunda da Justiça no STF, assim como Adenir, mas sem defender nomes.

"É a valorização do trabalho e de fortalecimento do sistema de Justiça trabalhista. Sabemos que além da desembargadora Adenir Carruesco, nossa associada, também temos a ministra [do Tribunal Superior do Trabalho] Kátia Arruda, igualmente associada e lançada à candidatura ao STF", afirmou Luciana Conforti, presidente da Anamatra.

PAPEL SOCIAL

Depois que começou a ter seu nome cogitado, Adenir contou que foi fazer uma palestra em Vila Bela da Santíssima Trindade (521 Km de Cuiabá) e se emocionou quando mães de meninas negras levaram suas filhas para tirar foto com ela.

"As meninas disseram que nem sabiam que existia uma desembargadora negra. Ficaram maravilhadas. Então, ali eu vi uma responsabilidade social muito grande que a gente tem quando ocupa o espaço de poder, como o que ocupo atualmente."

Com aproximadamente 30 anos de magistratura, a história de Adenir no serviço público começou aos 18 anos, impulsionada pelo que ela relata como preconceito sofrido ao se candidatar a um emprego em um banco, que tinha como requisito "boa aparência".

Ela não conseguiu a vaga e acredita que a cor de sua pele foi fator determinante para o “não” que recebeu.

"Depois dessa situação, precisava trabalhar e me realizar profissionalmente onde as pessoas me contratassem pela minha capacidade e não pela cor da minha pele. Foi então que fui aprovada no concurso como escrevente em Naviraí, na Justiça Estadual de Mato Grosso do Sul."

Desde então, Adenir Carruesco se dedica ao funcionalismo público. Atualmente, se prepara para assumir, em dezembro, a presidência do TRT da 23ª Região, em Cuiaba, sendo a primeira mulher negra no posto de chefia.

FAMÍLIA

Adenir destacou a importância do apoio de sua família em sua trajetória e a luta contra discriminação para chegar onde está. Seus pais, Geralda, 78, e Selvino, 84, não frequentaram a escola, mas deram a ela condições de ser a primeira filha do casal que estudasse.

Eles a dispensavam de tarefas domésticas para ter dedicação exclusiva aos livros. A jovem assistia às aulas num pasto da fazenda, dividindo o espaço com vacas, de acordo com ela.

CURRÍCULO

Adenir Carruesco é desembargadora federal do Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região de Mato Grosso. É mestre e especialista em direito pela Universidade Austral de Buenos Aires.

Atua como gestora regional do programa de combate ao trabalho infantil e estímulo à aprendizagem. Foi professora de direito de 1998 a 2008, na Faculdade de Rondonópolis (MT). É casada e tem dois filhos.

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