Cuiabá, 05 de Maio de 2024

JUDICIÁRIO Sexta-feira, 10 de Dezembro de 2021, 16:25 - A | A

10 de Dezembro de 2021, 16h:25 - A | A

JUDICIÁRIO / CONDENADA EM REGIME FECHADO

Madrasta que matou enteada envenenada pega 26 anos e 8 meses de prisão

Thays Amorim
Única News



Jaíra Gonçalves de Arruda Oliveira, de 43 anos, foi condenada a 26 anos e oito meses pela morte por envenenamento da enteada Mirella Poliane Chuê de Oliveira, de 11 anos. O Júri Popular começou na quinta-feira (09) e encerrou na tarde desta sexta-feira (10).

O crime ocorreu no dia 14 de junho de 2019. A acusada foi indiciada por homicídio duplamente qualificado, praticado por envenenamento e motivo torpe, pela herança de aproximadamente R$ 800 mil. As investigações da Polícia Judiciária Civil (PJC) apontaram que ela teria cometido o crime sozinha, sem auxílio de outra pessoa.

Em seu depoimento na quinta, o advogado Cássio de Almeida Ferreira, que trabalhava no inventário da herança de Mirella Poliane Chuê de Oliveira, afirmou que a madrasta, Jaíra Gonçalves de Arruda Oliveira, tentou impedir a perícia do Instituto Médico Legal (IML) e chegou a solicitar o dinheiro da criança para comprar um imóvel.

Mirella foi envenenada a conta gotas, motivo de diversas internações. O sofrimento durou cerca de dois meses, em que a menina ficou internada por nove vezes em hospitais particulares com complicações devido ao veneno. Em uma das internações, ela chegou a ser intubada e teve uma parada cardiorrespiratória, precisando ser reanimada.

A enfermeira do Hospital Santa Rosa, que atendeu Mirella, afirmou ao Júri que percebeu um interesse "fora do comum" na madrasta, que era muitas vezes invasiva e não dava liberdade para o trabalho dos profissionais da saúde.

Já José Mario, o pai de Mirella, iniciou o depoimento chorando e disse que a filha tinha uma vida normal, que todos na família colaboravam para a criança da filha. Ele relembrou que a criança era espontânea, inteligente e alegre. A testemunha disse esperar que a Justiça seja feita.

"Fiz de tudo para cuidar da menina, ia para o hospital. No início, ela apresentou só paralisia e febre. Depois começou a ter vômito e diarreia. A mesma comida era dada a todos", apontou.

Teses da acusação

Em sua argumentação, a promotora Marcelle Rodrigues da Costa e Faria não poupou Jaíra e afirmou que a ré tentou forjar o crime perfeito. Segundo o Ministério Público Estadual (MPMT), o crime só foi descoberto porque Mirella apresentava inchaço e assaduras em suas partes íntimas, devido aos efeitos colaterais do veneno. Suspeitando de abusos sexuais - o que foi posteriormente descartado -, o médico que atendeu o caso alertou a Polícia Civil e pediu um exame de corpo de delito.

Foto: Reprodução/Montagem

madrastra jaíra gonçalves de arruda oliveira mirella polieane chue de oliveira.png

 

No exame foi constatado o veneno de rato, utilizado para matar a criança.

"Esse envenenamento dessa linda criança foi descoberto por um acaso. Em decorrência da diarreia que a acometeu, por conta do veneno ministrado pela sua madrasta no seu corpo, ela tinha muita diarreia, o que levou a ter assadura na sua parte genital. O Dr. Lucas ao percebeu que a genitália e o ânus estava, alterados, em decorrência do veneno, o dr. entendeu que era abuso sexual e encaminhou o corpo ao Instituto Médico Legal", declarou.

Durante a sua fala, a promotora ressaltou que Jaíra teve a "cara de pau" de falar no interrogatório que os médicos de quatro hospitais diferentes mentiram ao falar sobre o estado de saúde de Mirella. "Tentou despistar, forjar o crime perfeito. [...] Hoje, se houver justiça, pela justiça, você vai sair daqui condenada por ter torturado e matado uma criança de 11 anos. Crime perfeito não existe, mas quase existiu", enfatizou.

Já o assistente de acusação, contratado pela avó da criança, o advogado Luciano Augusto Neves, fez duras críticas ao pai por não ter interferido nas decisões relacionadas à saúde da sua filha. Segundo os autos, Jaíra tinha o total controle da educação, cuidados com a criança e da questão financeira da casa. Em certo ponto da sua argumentação, Luciano chamou José Mário de "banana".

"Se Mirella morresse, a herança iria para o pai. Por tabela, quem sempre dominava o José Mário era Jaíra. Era fácil o José Mário herdar tudo e ela que comandava tudo, as finanças da casa, e comandava o banana", afirmou.

"Seria o crime perfeito, eu ministro as doses de veneno, não vou aplicar uma dose excessiva para não matá-la de imediato, busco auxílio médico, volto várias vezes ministrando esse veneno e buscando auxilio, busco o auxílio médico falando que ela morreu sem descobrirem o que foi", completou.

Defesa rebateu fatos

A defesa de Jaíra, patrocinada pelo advogado Mustafan Mistergan, tentou rebater os fatos narrados pela promotoria e pelo assistente de acusação, afirmando que a primeira vez que Mirella passou mal não foi na presença da madrasta.

Pelo fato de a substância do veneno não ter cor ou cheiro, o advogado afirmou que qualquer pessoa na casa, incluindo os filhos de Jaíra, poderiam ter aplicado o veneno na criança. "Não tem sabor, qualquer pessoa pode ter dado. O Ministério Público não trouxe nada de novo, não provou nada, não explicou nada. Vocês perceberam que ela [promotora] não falou nada sobre o fato de Mirella ter passado mal e Jaíra não estar lá?", questionou.

No dia da morte, pela manhã, a madrasta ofereceu um mingau e uma poncã à criança. A defesa disse que o veneno poderia ter sido aplicado pela água, ou outros elementos.

"O carbofurano não tem sabor, ou seja, pode ser dado em uma água, em outro complemento. Não podia ser só no mingau não, ele não tem sabor. Ou seja, pode ser dado por qualquer pessoa. Qualquer pessoa que estava ali podia ter dado, e de maneira nenhuma eu excluo os filhos. Eles podem ter dado? Claro que podem. Quando Mirella passava mal, eles estavam lá também", afirmou, se referindo aos dois filhos de Jaíra que também moravam no local.

Em outro momento, Mustafan alegou que não tinha dúvidas da suposta inocência de Jaíra, apesar das robustas provas apresentadas. "Eu não tenho dúvidas, o processo não deixa dúvidas. Jaíra não cometeu esse crime, seria leviano da minha parte dizer que Jaíra cometeu esse crime. Eu estou convicto, os autos mostram que Jaíra não fez isso", destacou.

FAÇA PARTE DE NOSSO GRUPO NO WHATSAPP E RECEBA DIARIAMENTE NOSSAS NOTÍCIAS!

GRUPO 1  -  GRUPO 2  -  GRUPO 3

Álbum de fotos

Foto: Reprodução/Montagem

Comente esta notícia