Thays Amorim
Única News
Três anos antes de morrer, em janeiro de 2018, a enfermeira Josilaine Maria Gomes dos Reis, de 32 anos, escutou do ex-namorado, o maqueiro Edésio Alves de Assunção, de 50 anos, o seguinte presságio: "Você merece morrer, você não tem perdão pra mim. Se você não voltar pra mim, não vai ficar com mais ninguém, merece morrer".
Apesar das ameaças terem sido alvos de denúncia e processo no Tribunal de Justiça (TJMT), a inércia do Poder Público permitiu que Josilaine fosse mais uma vítima de feminicídio na madrugada da quarta-feira (06), quando morreu a facadas na frente dos três filhos em Cuiabá, no bairro Nova Esperança. Ela completaria 32 anos no dia em que foi brutalmente assassinada.
O Única News teve acesso aos processos, com mais de 100 páginas, que acusam Edésio de ameaça, violência doméstica e perturbação envolvendo a enfermeira, além de outro processo envolvendo uma tentativa de homicídio contra uma ex-companheira, sendo absolvido em agosto deste ano. A vítima possuía uma medida restritiva contra ele.
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A denúncia da promotora de Justiça, Elisamara Sigles Vodonós Portela, do dia 15 de julho de 2019, aponta que o feminicida e Josilaine conviveram durante quatro anos e tiveram um filho. Inconformado com a separação, que ocorreu em dezembro de 2017, o autor do crime passou a fazer ameaças de morte contra a enfermeira, além de persegui-la e ofendê-la.
"O denunciado vem perseguindo e vigiando a vítima no trabalho, bem como quando ela está no ponto de ônibus; chegando a ir até a casa dela para ficar olhando pelo buraco da fechadura e certa vez passou a noite embaixo de uma árvore no quintal da casa da vítima. A vítima está atemorizada pois o denunciado responde ação penal por tentativa de feminicídio contra sua ex-companheira", diz trecho da denúncia ofertada ao TJ.
Em outra ocasião, ao pagar a pensão alimentícia, Edésio a ameaçou e anunciou o crime que viria a acontecer. "Assim que sair o pagamento, vou comprar uma arma. [...] Vou te matar dormindo, vou matar todos que você mais ama, junto com você. Se você me denunciar, chegar algum papel lá em casa, eu vou te matar. Não vou agredir ninguém, prefiro mulher morta do que mulher viva aqui fora aprontando, ficando outra pessoa, e eu vou para a cadeia".
Consta no boletim de ocorrência que o acusado reclamou que estava sendo traído e ficou agressivo quando Josilaine afirmou que eles não estavam mais juntos. Ela relatou que o homem começou a apertar o seu braço e o seu pescoço, afirmando que iria comprar uma arma. A enfermeira não ficou com lesões e não desejou fazer corpo de delito na época dos fatos.
Ao descumprir a medida protetiva, a promotora apontou, em outubro de 2018, que o então acusado poderia ter a sua prisão preventiva decretada. O Ministério Público Estadual (MPMT) requereu, com urgência, a advertência de Edésio. Na época, Josilaine manifestou o desejo de representar criminalmente o ex-companheiro no inquérito da Polícia Judiciária Civil (PJC). A denúncia foi aceita pelo juiz da 2ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, Jeverson Luiz Quinteiro, no dia 26 de julho de 2019.
Reprodução
Josilaine, os três filhos e o autor do crime.
A defesa de Edésio, promovida pela defensora pública Hélleny Araújo dos Santos, se manifestou contra a prisão e citou a presunção de inocência. "É cediço que não é ônus do réu trazer aos autos prova de sua inocência, já que é atribuição de quem imputa um fato típico e antijurídico com a comprovação de todos os elementos do crime, pois nenhuma imputação se presume provada, já que o inquérito é mera peça informativa", afirmou a defensora em janeiro de 2020.
Na madrugada da quarta, quando finalmente cumpriu as ameaças, Edésio arrombou a porta da casa de Josilaine e atacou a ex com várias facadas, na frente dos três filhos. A vítima foi encontrada morta por agentes da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), encontrando o criminoso sujo de sangue.
Segundo a Polícia Militar, ele tentou se matar depois do crime e estava com uma faca debaixo da perna. Ele foi encaminhado para uma unidade de saúde e conseguiu sobreviver.
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