Christinny dos Santos
Única News
Vítima de homofobia, o psicólogo Douglas Amorim diz ter sido espancado no banheiro da boate Nuun Garden, em Cuiabá, na madrugada de domingo (12). A vítima chegou a desmaiar, teve ferimentos no olho e supercílio. O profissional utilizou as redes sociais, onde tem mais de 45 mil seguidores, para falar a respeito e denunciar o descaso do estabelecimento em relação à agressão e a falta de medidas para lidar com casos de homofobia dentro da boate.
No vídeo gravado para redes sociais, assim como no boletim de ocorrência registrado por Douglas junto à Polícia Civil, ele narra que chegou à boate com seu marido, Eloísio, ainda na noite de sábado e foi até um dos camarotes em que estava um sobrinho. Na ocasião, outros camarotes ainda estavam relativamente vazios.
Por volta de 1h30 da madrugada, várias pessoas começaram a chegar ao local, que começou a encher, entre elas o agressor. Segundo Douglas, desde que chegou o homem não parava de olhar para o casal homossexual. Ele chegou a comentar a respeito com o marido, questionando e imaginando que poderia ser dos milhares de seguidores do psicólogo, ex-namorado ou até marido de alguma paciente.
Douglas também ponderou que o homem poderia estar incomodado por ele estar ao lado do marido, demonstrando afeto. Em dado momento, o agressor chegou a esbarrar, como quem dá um empurrão, no marido da vítima, mas até ali ele julgou que o homem já estivesse bêbado ou não tivesse feito por mal, então, não contou ao psicólogo.
Douglas narra que qas agressões começaram quando ele foi pela primeira vez ao banheiro. “Eu estou no banheiro, no mictório, ele [o agressor] chega logo em seguida perguntando: 'o que você está olhando pra mim?'. Como até aquele momento nós já tínhamos algumas informações de tê-lo visto olhando pra mim, ou pra nós, ter esbarrado no Eloísio, não parar de olhar, na verdade, pra gente, desde lá com um certo incômodo… Eu falei: 'você está louco? Olhando o quê? Vai se fuder, homofóbico do caralho'. E saí do banheiro, voltei para o camarote”, narrou Douglas.
Então, ele contou a respeito ao marido e ao sobrinho. Quando o agressor também voltou, Daniel conta que o viu conversando com dois seguranças que estavam ali. “Provavelmente conhecido dele, amigo dele. Ele disse alguma coisa para os seguranças, que no momento nós não sabemos o que era, porque os seguranças não vieram até nós conversar”, disse.
Em meio a uma série de apontamentos do grupo de Douglas para o agressor e também o contrário, uma pessoa que estava com o psicólogo tentou intermediar a situação com ambos os lados e, segundo o profissional, a situação pareceu se acalmar.
Mas a “paz” durou pouco. “Uma hora depois, eu não sei quanto tempo depois… o Eloísio me chama pra irmos ao banheiro pela última vez antes da gente sair e chamar o Uber e ir embora “vamos ao banheiro pra gente ir embora”. Fomos eu, o Eloísio e um amigo. Esse nosso amigo não queria utilizar o banheiro, ficou na porta do banheiro, no corredor”, contou Douglas.
O psicólogo entrou no banheiro e, antes que pudesse ter qualquer reação, ele sentiu alguém o tocando e depois apenas sua cabeça batendo contra o mictório, momento em que desmaiou.
“Quando eu estava mijando em pé, eu sinto duas mãos nas minhas costas, uma nas minhas costas e uma próxima aqui à cabeça, na nuca, me empurrando contra o mármore que divide o mictório e aquele descanso onde fica em cima do mictório, que as pessoas normalmente colocam a bebida ali pra poder utilizar o mictório. Eu bato meu rosto ali e essa é a última memória que eu tenho. Nem da batida eu me lembro. Eu não vi se aproximar, chegar atrás de mim”, narrou o psicólogo.
Então, Douglas caiu e bateu a cabeça novamente. Ele narra que foi Eloísio quem o encontrou quando ele estava “meio convulsionando” e com sangramento. O amigo também entra, sobe a roupa do psicólogo e ajuda a levá-lo para o carro e, posteriormente, para a unidade de saúde.
Douglas conta que enquanto ainda estava no banheiro, os seguranças foram até lá, mas não fizeram nada, apenas ficaram olhando. “Os seguranças, eles foram até o banheiro nesse momento, eles só ficaram olhando, não me ajudaram a levantar, (5:32) não me prestaram socorros, não chamou a ambulância, não chamou a polícia, (5:37) não impediu o criminoso de ir até o caixa, fazer o pagamento e sair da boate”, contou, expressando sua revolta.
Além disso, mais tarde, o amigo de Eloísio contou que ouviu o agressor dizer “esse viado vai aprender a respeitar homem”, enquanto entrava no banheiro.
“Em outros lugares que nós vamos aqui com muita frequência, nesses lugares tem um certo tipo de protocolo, onde quando alguma coisa acontece, ninguém mais sai, até que eles compreendam o que aconteceu, até que ele chame a polícia se for o caso e até que seja resolvido. Nesse lugar, a boate simplesmente não tomou nenhuma atitude para isso”, completou o psicólogo.
Além disso, a vítima ainda está tendo problemas em contar com a boate, que se recusa a colaborar com o psicólogo para identificar o agressor e registrar denúncia diretamente contra ele. “Posterior ao acontecimento, não está colaborando, se recusando, em nome da gerente do estabelecimento, de informar quem é o criminoso e de espontânea vontade ceder as imagens desse criminoso”, conta o Douglas, pedindo ajuda a quem esteve presente na boate no dia e esteja disposto a testemunhar, ainda que de forma anônima.
“Todavia, eu queria enfatizar o descaso da casa, sobre não ter um protocolo para tratar um crime de homofobia cometido ali. Ele [o agressor] poderia ter agredido a mim, ele poderia ter agredido ao Eloísio. Mas por sorte, por sorte mesmo, ele me encontrou sozinho ali, porque se ele tivesse encontrado o Eloísio, ele talvez teria agredido o Eloísio, porque ele foi em duas pessoas lá”, contou, por fim.
Por meio de nota, a Nuum Garden afirmou que conta com socorristas e seguranças em seu quadro de funcionários que inclusive teriam prestado os primeiros socorros à vítima. E informou que "possui câmeras de segurança instaladas no local e estamos apurando os fatos para fornecer os devidos esclarecimentos aos envolvidos e às autoridades competentes".
Reprodução

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