Cuiabá, 25 de Abril de 2024

CIDADES Domingo, 16 de Maio de 2021, 07:29 - A | A

16 de Maio de 2021, 07h:29 - A | A

CIDADES / QUEBRANDO PRECONCEITOS

Pacientes de MT relatam melhorias impressionantes com remédio à base de maconha

Keka Werneck
Única News



Aos poucos vai caindo o preconceito com o medicamento à base de um princípio ativo da maconha, o canabidiol, e pacientes de Mato Grosso, em uso, relatam melhorias impressionantes. A Anvisa liberou o medicamento há pouco mais de 1 ano e rejeitou o cultivo da maconha para fins medicinais.

Aliviando dores fortes, de quem tem fibromialgia, por exemplo, até controlando convulsões em série, de pacientes com síndromes raras e epilepsia severa, essa parte da maconha, em forma de medicamento, é a esperança de muita gente. E assim pode ser usada até contra depressão.

Uma chance para Ricardo

Este é caso o caso do menino Ricardo Curvo, de 7 anos. Ele tem Síndrome Schinzel-Giedion. Essa é uma doença congênita rara que provoca malformações no esqueleto, alterações no rosto, obstrução das vias urinárias e atrasos de desenvolvimento. Não tem cura e a expectativa de vida é baixa.

Quando Ricardo foi diagnosticado, sofria até 30 convulsões por dia, para desespero dos pais, que conviviam também com a angústia de não saber até quando suportaria.

Arquivo Pessoal

ricardo curvo

 Ricardo, que vai fazer 7 anos, e o irmãozinho

Com 1 ano e meio, começou a tomar o Canabidiol. “Quando a gente descobriu que daria qualidade de vida para ele, foi o nosso sonho. Então, de maneira nenhuma tivemos preconceito, simplesmente corremos atrás para consegui-lo, não importa da onde fosse, demoramos muito para conseguir, lutamos na justiça, conseguimos que o Estado fornecesse os primeiros medicamentos e de lá para cá teve uma melhora na qualidade de vida muito grande. Como a doença dele é degenerativa, não tem cura, mas buscamos qualidade de vida para meu filho”, relata o pai dele, Bruno Lima.

“Esse remédio veio para acalmar a gente. Ele ainda tem convulsões, mas bem internas e no momento se encontra bem”, diz Bruno. “A gente não sabe por quanto tempo estará conosco, mas, enquanto estiver, vai precisar do Canabidiol”.

Ocorre que o remédio ainda é importado e caro, o tratamento custa cerca de R$ 15 mil por mês, dependendo das doses necessárias. Para Ricardo ter acesso, a família, que é de classe média, brigou na Justiça, conseguiu pelo Estado por dois anos e depois disso com o plano de saúde, também por ordem judicial.

A expectativa de vida de Ricardo é de 2 a 3 anos. Aos 7 anos, ele está forte e resistindo, com ajuda do princípio ativo da maconha. Agora ganhou um irmãozinho, para felicidade dele e da família.

Breno melhorou ‘da água para o vinho’

Outro caso de uso com sucesso do Canabidiol vem de longe da Capital. Breno Henrique Mees Corcini, de 11 anos, mora em Santa Rita do Trivelato (a 365 km de Cuiabá). Ele tem Síndrome de Angelman. Toma Canabidiol desde dezembro de 2015, para inibir crises convulsivas.

A mãe dele Salete Mees, 52, que faz marmitex para vender, conta que ouviu falar do Canabidiol em uma matéria do Fantástico, na Globo, e ficou empolgada. Porém, o marido, que é montador de móveis, vetou por preconceito com a maconha e ela teve que fazer um convencimento com ele e também para a médica aceitar receitar. “Ele ficou bem relutante e ela também”, relata.

Mas Salete já não aguentava mais enfrentar as crises do filho. “A última forte que ele teve durou das cinco e meia da tarde as 11h30 da noite, foi em setembro de 2015, foi quando a doutora e meu marido concordaram comigo dele começar a usar o Canabidiol. Meu filho ficou praticamente apagado, era só uns minutos acordado e passava mal de novo”.

Arquivo Pessoal

Breno mess

 

O caso gerou uma comoção na cidade. A mãe estava tão desesperada que chegava a falar que ia plantar maconha no quintal. E narra um fato inusitado. "Vieram até uns policiais aqui em casa, dizendo que não iam implicar comigo, que era só eu avisar quando faria isso", diz Salete.

Arquivo Pessoal

Breno mees

 Breno e a mãe, Salete

Depois que Breno começou a tomar o remédio, só teve outra crise no final de 2016, e por falta dele. Isso porque a família é de baixa renda e não conseguiu apoio nem do município nem do Estado. “Não tinha obrigação de comprar, porque não era liberado no Brasil, então entrei na Justiça. Me forneciam meio tratamento anual, o resto tinha que me virar, fazia promoções, jantares, pegava ajuda de parentes e amigos”.

O Judiciário por fim mandou o Estado comprar. Mas de novo, de fevereiro a setembro do ano passado, a família ainda teve que correr atrás. O menino tomou só metade da dose, porque para mais que isso não havia dinheiro.

No momento, o Estado que está pagando o remédio.

“Quem viu Breno naquele tempo e vê agora, quem o atendeu, está admirado, o desenvolvimento dele, a percepção cognitiva, coordenação, o entendimento geral, melhorou da água para o vinho”, comemora a mãe, que vive para esse menino.

“Ele tomava cinco tipos de anti-convulsivos e agora toma baixas doses de dois”, cita. Esses dois remédios só não são retirados de Breno totalmente por precaução. “Vai que falta o Canabidiol”, diz Salete, certa de que não pode se descuidar de garantir a dose que o filho tanto precisa.

Médica Micheli Zandonato

 Médica Micheli Zandonato prescreve canabidiol

É diferente de fumar maconha, diz médica

A médica Micheli Zandonato, psiquiatra de Cuiabá, é defensora do canabidiol e receita para seus pacientes.

“Na minha área, uso para pacientes autistas, que às vezes fazem crises agressivas, têm problemas no sono, muitos têm epilepsia como comorbidade. Uso também para pacientes com Parkinson, mas em outras áreas é também recomendado para hérnia de disco, dores da fibromialgia, é um excelente anti-inflamatório e funciona em questão de dores fortes em geral”, comenta. No entanto a psiquiatra frisa que cada caso é um caso e o uso tem que ser analisado junto com o médico.

Ela explica que o nome da planta é Cannabis e o Canabidiol é retirado dela para usar com fins terapêuticos.

Por enquanto é um medicamento importado, só um laboratório produz no Brasil, e foi liberado no final de 2019 e para venda na farmácia só ano passado.

A médica ressalta que não há necessidade de preconceito com remédios à base de maconha porque usá-los é muito diferente de fumar maconha.

“Na verdade, o preconceito vem da falta de conhecimento, muitas medicações veem da planta canabidiol. Não causam barato ou alucinação, nem nenhuma alteração da consciência, como a substância fumada. Não tem risco de dependência química”

A médica destaca que fumar maconha, essa vendida em bocas de fumo, traz riscos à saúde, na verdade, são embaladas em produtos tóxicos e sofrem alteração, para viciar o usuário.

“O remédio é processado em laboratório, sabemos a dosagem correta e, sendo assim, é muito eficiente”, afirma a médica.

Saúde pública

O Única News procurou a Secretaria de Estado de Saúde para verificar se já a intenção de incorporar o Canabidiol na lista de remédios fornecidos na Farmácia de Alto Custo. Mas, até o fechamento desta matéria respondeu apenas que "o medicamento Canabidiol não é contemplado no SUS e nem comercializado no país. Para adquirir o medicamento, o paciente ou o responsável legal pelo paciente (no caso de ser menor de idade) precisa solicitar a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a importação".

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