Aline Almeida / Revista Única
Uma eleição em meio à pandemia, cogitada inclusive em não acontecer pelo risco de infecção pelo coronavírus. Eleitores irão às urnas de uma forma diferente em novembro, a começar pelas medidas de biossegurança em relação ao vírus. Elegeremos o candidato ao Senado para a vaga da senadora cassada Selma Arruda e também escolheremos nosso prefeito e vereadores. Mas serão poucos a irem às urnas. Cientistas políticos reforçam que esta será uma eleição atípica, com maior número de pessoas que não irão votar. Por isso, a disputa será a voto a voto. Sem dúvidas, sempre que ocorre uma eleição para prefeito, o centro da atenção é a disputa pela cadeira do Palácio Alencastro.
A disputa pela vaga para gerir a Capital de Mato Grosso, segundo o cientista político Lourembergue Alves, será a que terá maior número de postulantes a candidatos. “É justo que os façam e lutem para se tornar candidatos oficiais, até porque direitos políticos, direitos fundamentais, constituem um dos pilares do regime democrático, e nesta esteira, claro, o direito não apenas de votar, mas também os de ser votado. A maioria deles será confirmada.
Contudo, alguns dos nomes já anunciados poderão não vingar, e, assim, ficarão fora da disputa”, diz. Isto sempre aconteceu, conforme Lourembergue, e acontecerá, pois algumas pessoas se apresentam, colocam seus nomes, mas não conseguem se firmar, nem têm densidade eleitoral e, tampouco, visibilidade eleitoral.
Então, são substituídas ou seus partidos fazem a opção para apoiar outro nome, fora de sua legenda, amarrando, dessa forma, uma aliança, com vistas a beneficiar, por tabela, seus candidatos à Câmara Cuiabana (não existe mais aliança para proporcional), e/ou de olho em uma ou mais secretarias ou até a cadeira de candidato a vice-prefeito. Neste cenário, o cientista político diz que existem algumas pessoas que, já por um tempo, estão na “vitrine”, como é o caso do prefeito Emanuel Pinheiro, dos vereadores Felipe Wellaton e Abílio Júnior, e do radialista Roberto França.
Programas populares se tornaram uma grande vitrine para candidatos. Assim como a Câmara Municipal que, segundo Lourembergue, transformou-se num palanque eleitoral, com lances que nada tinham ou têm a ver com o do exercício de vereador. O analista cita ainda a administração da cidade, a qual, em determinados momentos, fora usada para dar visibilidade ao prefeito.
“Embora, cabe lembrar, uma vitrine é apenas uma vitrine, mesmo que sejam o programa de TV e a Câmara, e está longe, bem longe de garantir a vitória antecipada de um candidato. A vitória eleitoral requer uma série de outros fatores, inclusive, constituídos de detalhes, os quais, em várias ocasiões, não são percebidos pelos candidatos”, diz. Lourembergue Alves afirma que uma administração pública, em especial a do porte de Cuiabá, com todos os seus problemas estruturais, sociais e econômicos, cobra de seu gestor número 1 competência e poder de articulação e diálogo.
Diálogo com a sociedade, com o Legislativo e com o governo estadual e federal. Articulação com o fim de atrair investimentos. Investimentos públicos que possam atender senão todos, ao menos parte das necessidades dos moradores, ou amenizar as dificuldades reinantes nos mais variados segmentos dos contribuintes cuiabanos.
“Infelizmente, partido algum se deu ao trabalho de realizar planejamentos. Razão pela qual não teremos discussão de projetos, de programas. Os candidatos, assim como os do passado, farão desfilar seus rosários de promessas que, em sua maioria, jamais serão cumpridas”, afirma Lourembergue Alves.
Alves enfatiza que os candidatos ao Palácio Alencastro não possuem planos ou planejamento. Ele explica que Plano de Governo, diferentemente dos depositados na Justiça Eleitoral em tempos anteriores, depende de estudos, análises e reflexões ao longo dos quatro anos da administração, ou, talvez, bem antes. Estudos, análises e reflexões tocadas pelos partidos. “Infelizmente, partido algum se deu ao trabalho de realizá-los. Razão pela qual não teremos discussão de projetos, de programas. Os candidatos, assim como os do passado, farão desfilar seus rosários de promessas que, em sua maioria, jamais serão cumpridas”, diz o analista, destacando que o candidato eleito, mais uma vez, vai administrar “no improviso”.
Ter a máquina nas mãos é sempre um grande trunfo e na disputa torna Emanuel bem mais forte, mas não imbatível. O maior obstáculo, conforme Lourembergue, talvez seja mesmo o da imagem em que ele, na condição de deputado estadual, fora flagrado recebendo dinheiro no Gabinete da Casa Civil, no governo Silval Barbosa. Imagem que seus adversários não deixarão de explorar na campanha.
O que favorece sobremaneira os demais concorrentes. “Um pouco mais aos vereadores Felipe Wellaton e Abílio Júnior, que não irão se cansar de bater nesta tecla, assim como a imagem de ter um secretário, o da pasta da Saúde, preso. Farão isso todo momento, até para esconderem suas próprias ausências, suas próprias faltas”. Em meio a este cenário, Lourembergue destaca que aparece o governador, que tem interesse na disputa. Seu interesse não está apenas nas eleições de 2022, na qual sairá à reeleição, e a Capital é o maior colégio eleitoral do Estado. Mas no seu interesse imediato, ver derrotado o prefeito, seu adversário político, e que se tornou ao assumir a chefia da administração cuiabana, mais precisamente quando se pusera a denunciar as obras inacabadas e os números negativos da saúde pública deixadas pela gestão passada, logo no seu primeiro mês de mandato.
“Mas, nem sempre, o candidato do governador tem sido eleito na capital mato-grossense”. Neste confronto, Alves diz que a candidata Gisela Simona pode ser beneficiada, isto se ela for bem orientada, e, uma vez sendo, explorar o corredor que poderá lhe aparecer pela frente. “Exploração que exige estrutura de campanha, um discurso que possa atrair os descontentes com as candidaturas do prefeito, dos vereadores e do ex-deputado federal.
O fato de ser mulher e negra pode, sem dúvida, ajudá-la. Só isso, porém, não basta para ser eleita. Assim como também será insuficiente para elegê-la, a sua experiência à frente do Procon”. Ele analisa, ainda, a candidatura do ex-prefeito Roberto França, que terá que lidar com o fato de que os eleitores mais jovens e os que tenham recentemente se ancorado na Capital, ou vindos do interior do Estado ou de outras unidades da Federação, não presenciaram sua administração, não a conhecem, e por isso, podem optar por outras candidaturas. A tarefa, segundo Lourembergue, será difícil também para o candidato do PSDB, seja ele quem for. Para o cientista político, o partido precisaria ser reestruturado em Mato Grosso, em especial em Cuiabá, reestruturado para melhor conquistar simpatizantes e transformá-los em votantes da sigla. Também não será fácil para o candidato do PSD, a menos que mude por completo o cenário político-eleitoral que se avizinha.
Mudança, aliás, também esperada tanto pelo ex-juiz Julier (PT) como pelo maestro Fabrício Carvalho (PDT). Embora todos os possíveis candidatos farão um único discurso, o de “combate à corrupção”, o da “moralidade pública” e o de “atenção aos interesses da cidade e de seus munícipes”. Apesar disso, Lourembergue diz que a definição dos candidatos dependerá de dois pontos importantes: o primeiro é um nome com densidade eleitoral o bastante para ajudar os também candidatos a vereador, pois não se tem mais aliança para proporcional. O segundo é a aliança com o candidato ao Senado.
O nome ao Senado pode ajudar, e muito, o candidato à prefeitura, e este como elo de sustentação de candidaturas à Câmara Municipal, as quais podem contribuir no pedido de votos, tanto para o postulante a prefeito, como ao do Senado. Há outro ingrediente nas eleições deste ano, a pandemia do Covid-19, cujos estragos foram enormes: prejuízos à economia, pobreza, fechamento de portas e desemprego, sequelas em um sem número dos recuperados da contaminação, muitas mortes e uma dor imensurável em familiares e amigos dos que morreram.
Dor sem fim. Ferida jamais cicatrizada. A pandemia deveria atrair toda a atenção dos candidatos. A pandemia não, melhor dizendo: a saúde pública. Todos viram as entranhas da saúde pública, da sua ineficácia e de suas falhas e de seu estado caótico. Por isso deveria ter o seu lugar privilegiado na disputa, mas, infelizmente, não terá, e não terá porque nenhum dos candidatos está preparado para desenvolver uma discussão à altura do enorme problema que se tem pela frente. Nenhum deles tem projeto, plano ou ideia do que deveria fazer, caso seja eleito prefeito.
“A onda do ódio que funcionou em 2018, vai funcionar agora. É uma eleição atípica e igual a ela, dificilmente vai ter outra, até pela quantidade de abstenções”, diz João Edisom.
Candidatos terão que “lutar” por votos dos que se dispuserem a votar
Cientista político João Edisom afirma que entramos numa onda de renovação, de discurso novo, desde a eleição passada, quando se elegeu o presidente. Tanto que Jair Bolsonaro foi eleito na esteira da revolta contra o governo do PT, contra a corrupção e “na onda” da Lava Jato. “Essa onda, em partes, já passou e caiu bastante, só que não saiu da cabeça de quem lida com política. Vai achar que isso tem um resultado. Na realidade tem. Só que não mais com o impacto que ocorreu em 2018”. O analista complementa que esta é uma eleição que vai ter muitos candidatos e muita gente falando a mesma coisa. João Edisom ressalta que existe muito a onda do “parlamentar modinha”, que quer ser repórter, que faz vídeo denunciando. “Esse político acaba achando que, com este discurso, vai conseguir voto, mas boa parte da sociedade está fora deste contexto”.
Outro ponto que merece destaque, conforme o cientista político, é a mudança na legislação eleitoral que vem acontecendo e assim deve continuar até 2030. Uma destas alterações é que não terá coligação. Vai ter muito candidato bem votado, mas que sua legenda não vai atingir o número mínimo. “A onda do ódio que funcionou em 2018, vai funcionar agora. É uma eleição atípica e igual a ela, dificilmente vai ter outra, até pela quantidade de abstenções”. O analista reforça que, para a Prefeitura de Cuiabá, Emanuel Pinheiro é “fortíssimo”. Isso porque qualquer pessoa que tenha a máquina na mão, sai com no mínimo 25% do eleitorado. “Emanuel, apesar dos escândalos, não é visto como mau gestor. Imagina-se que Emanuel saia com mais de 30% (dos votos).
Essa eleição deve ter o maior número possível de votos nulos, brancos e abstenções e quem já sai com patamar alto, é favoritíssimo”. João Edisom afirma que provavelmente teremos segundo turno na disputa pelo Palácio Alencastro. Pinheiro sendo candidato, estará no segundo turno. No primeiro turno, Emanuel tem uma vantagem enorme sobre os demais, no segundo esta vantagem já não é garantida, porque ele pode despertar o outro lado. “Independente de quem disputar com ele, esta pessoa não será a primeira colocada no primeiro turno, embora aumente e muito a chance de vencer no segundo”. Apesar do chamado “novo normal”, João Edisom diz que a política continuará a mesma. Tanto que o que vai contar é a “cacicagem”.
O analista enfatiza que os partidos políticos continuam atrasados, estão no século passado. “É a mesma estrutura formada no final dos anos 80. O poder de decisão é a cacicagem. Tanto que vai ter muita gente fazendo prévia, botando pesquisa só para inglês ver. Na prática, o que funciona é o que os caciques vão determinar”. Neste sentido, a pandemia vai influenciar em vários fatores, conforme o cientista político. Vai ter o tema da saúde, que vai gerar várias discussões, principalmente se tiver um candidato do governador e um candidato do prefeito. A eleição, desta forma, terá influência no dia da votação, quando muita gente não vai comparecer para não correr risco, principalmente aqueles que têm por opção não votar. Os outros, muitas vezes vão preferir pagar a multa do que votar.
“A outra influência é que altera o pensamento emocional. O discurso para quem teve Covid e quem não teve – e principalmente para quem teve familiares que perderam a vida por Covid. Isso traz influência no dia da eleição, no discurso e no debate”, avalia.
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