Cuiabá, 05 de Maio de 2024

JUDICIÁRIO Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2022, 17:08 - A | A

14 de Janeiro de 2022, 17h:08 - A | A

JUDICIÁRIO / INOCENTES

Mecânicos condenados há 20 anos são absolvidos; trabalhavam na hora do crime

Marcella Magalhães
Única News



A Defensoria Pública entrou com recurso interposto e conseguiu a absolvição, pela Justiça, dos jovens J.R.G.M. e G.D.S.C., ambos de 22 anos, revertendo a decisão que os condenou a 20 anos de prisão pelo suposto crime de latrocínio, em Poconé (104 km de Cuiabá). J.R.G.M. e G.D.S.C. foram presos no dia 31 de outubro de 2020 e soltos em 9 de novembro 2021.

Por supostamente terem cometido o crime de latrocínio, onde a vítima foi o idoso F.A., em sua residência, os dois rapazes foram condenados por 20 anos de reclusão e pagamento de dez dias de multa. J.R.G.M. disse que ele provou a inocência dele e mesmo assim foi condenado: “haviam câmeras no local e não fizeram questão de procurar”.

Conforme a denúncia ofertada pelo Ministério Público, os jovens teriam na época recebido informações privilegiadas da jovem L.C.S.C. quanto ao idoso ter recebido o pagamento dos seus proventos da aposentadoria e ter guardado o dinheiro em casa.

A Defensoria Pública comprovou, através das testemunhas, que no dia do fato ocorrido os acusados estavam na oficina mecânica onde trabalhavam prestando seus serviços, não estando próximo ao local onde o crime aconteceu.

O Juízo do município de Poconé expressou a sentença condenatória fundamentada nas declarações prestadas pelos policiais que atuaram no caso e nas contradições existentes nos depoimentos dos acusados e da testemunha.

A defensora pública Clarissa Maria da Costa Ochabe, não aceitando a condenação, interpôs um recurso de apelação, que foi acatado unanimemente pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso TJMT, no dia 4 de novembro do ano passado, absolvendo os trabalhadores.

De acordo com a família, o alvará de soltura foi emitido no dia 6 de novembro 2021, mas eles só foram soltos no dia 9.

O desembargador Marcos Machado, relator do caso, destacou a total insuficiência probatória quanto à autoria delitiva, apontando o fato da única testemunha presencial do suposto crime (irmão da vítima), não ter sido ouvida, no período, em nenhuma das fases do processo, ausência de comprovação dos proventos da aposentadoria recebidos pela vítima, assim como as testemunhas de defesa demonstraram que os acusados estavam em seu local de trabalho no momento do crime.

A prisão

J.R.G.M. afirma que toda a confusão começou devido ao conserto de uma moto, em outubro de 2020. “Uma menina ligou para pegar a moto para consertar. Fui lá pegar a moto e levei para consertar. Ela disse que ia buscar no outro dia. Ela perguntou no dia seguinte se a moto estava pronta e eu disse que sim. Então, ela pediu para eu levar a moto até ela e pegar o dinheiro”, contou.

Os dois colegas de trabalho teriam ido, então, levar a moto consertada para a cliente. “Só que o pai dela apareceu para pegar a moto. Ela entregou metade do dinheiro e prometeu levar o restante no sábado. Porém, no sábado, chegou ela com a polícia na oficina. A PM também foi na casa da minha ex-esposa, reviraram toda a casa”, contou.

De acordo com J.R.G.M., os policiais perguntaram a respeito da arma do crime e ele respondeu que não tinha nenhuma arma. “O policial começou a bater em mim na frente de um monte de gente. Não ando armado. Bateram minha cabeça na viatura”, disse.

O jovem relata que ficou cerca de cinco dias na Delegacia de Poconé, sem tomar banho, escovar os dentes e bebendo pouca água. Depois disso, passou 15 dias na Cadeia Pública do Capão Grande, em Várzea Grande, e cerca de um ano na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá.

Segundo J.R.G.M, seu colega de serviço, que também ficou detido pelo mesmo período, em uma cela separada, está em depressão.
“Ele nem consegue sair de casa. Eu ainda saio para ir ao mercado, às vezes. Até mesmo procurar serviço, mas não encontro”, detalhou.

A mãe do jovem revela que toda a família foi afetada pela confusão. “Meu filho ficou um ano preso injustamente. Ele perdeu o emprego, denegriu a imagem dele. É uma situação constrangedora. Espero que a Justiça possa reparar todo esse sofrimento”, desabafou.

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