Cuiabá, 07 de Maio de 2024

JUDICIÁRIO Segunda-feira, 11 de Abril de 2022, 11:34 - A | A

11 de Abril de 2022, 11h:34 - A | A

JUDICIÁRIO / PODER ARMADO PARALELO

Milícia que arrendava terra indígena em MT por R$ 900 mil é alvo de denúncia do MPF

Thays Amorim
Única News



O Ministério Público Federal (MPF) em Barra do Garças (a 517 km de Cuiabá) ofereceu a primeira denúncia no âmbito da Operação Res Capta, deflagrada em março deste ano, contra uma milícia envolvendo o servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) Jussielson Gonçalves Silva, o policial militar da ativa Gerard Maxmiliano Rodrigues de Souza e o ex-policial Enoque Bento de Souza, que arrendavam parte da Terra Indígena Marãiwatséde, no município de Ribeirão Cascalheira (a 782 km de Cuiabá), por R$ 900 mil a fazendeiros.

O esquema envolvia ainda o cacique Damião Paradizané, que não foi alvo da denúncia. Os policiais militares e o servidor da Funai envolvidos no caso são do Amazonas e estão presos preventivamente por decisão da Vara Federal de Barra do Garças.

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A denúncia foi recebida pela Justiça Federal e os réus irão responder pelos crimes de integrar milícia privada, sequestro qualificado, abuso de autoridade, peculato, favorecimento pessoal, usurpação de função pública na forma qualificada, porte ilegal de arma de fogo e estelionato.

Conforme as investigações, os réus agiam como um poder armado paralelo ao Estado, não integrando forças armadas ou as forças policiais. O trio, até sua prisão, tinha como marcas registradas o uso de vestes com características militares, o porte de arma de fogo de forma ostensiva e a forte atuação denotando poder de Polícia. Além desses traços, valiam-se da intimidação por meio de ameaças veladas ou diretas e também da violência física ou psicológica.

Foi verificado também que os réus praticavam a desinformação como ferramenta para encobrir e dificultar as ações dos órgãos encarregados de realizar as investigações, para exercer poder sobre os indígenas de Marãiwatsédé, bem como manipular todos os demais envolvidos, incluindo a direção da própria Funai.

“Os denunciados demonstraram agir com grande destemor e sentimento de intocabilidade por estarem travestidos de agentes dos Estado de tal forma, que deslocaram-se de Ribeirão Cascalheira (MT) até o Município de Bom Jesus do Araguaia (MT) fardados, armados e em veículo da Funai, invadiram um hotel onde estava hospedado H.V.B, o renderam, o conduziram ao quarto onde vítima estava hospedada, fizeram busca e apreensão sem qualquer ordem judicial ou atribuição para tanto e depois sequestraram a vítima e a privaram de sua liberdade”, ressaltou o MPF na denúncia.

A vítima, que trabalha com a venda de mudas de mogno africano e estava fazendo entregas a clientes antes de ser atacada, relatou à Polícia Federal (PF) e ao MPF que foi agredida e ameaçada de morte. Uma testemunha relatou ao MPF que um dos denunciados disse que nunca mais veriam a vítima e outra testemunha relatou que ouviu dos denunciados que a vítima não chegaria viva a Ribeirão Cascalheira (MT).

Com a prisão dos denunciados, testemunhas que tomaram conhecimento de suas práticas ilícitas relataram ao MPF que foram ameaçadas. Outras testemunhas relataram que Gerard Maxmiliano Rodrigues de Souza e Enoque Bento de Souza tinham total acesso a Funai (tinham as chaves da FUNAI) como se fossem servidores, participavam de reuniões, faziam diligências em terras indígenas, recebiam representantes de outros órgãos (receberam a PF em diligência e receberam o pessoal do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar)).

Além disso, Gerard Maxmiliano Rodrigues de Souza e Enoque Bento de Souza tinham a sua disposição, para uso ilimitado, carros oficiais abastecidos com recursos da Funai. Os veículos foram entregues em comodato (ilícito) por Jussielson Gonçalves Silva.

Também foi verificado que Jussielson Gonçalves Silva obteve a contratação de Enoque Bento de Souza, após sua indicação para cargo administrativo em empresa de prestadores de serviço para a Funai de Ribeirão Cascalheira. Conforme depoimento prestado pelas testemunhas, Enoque apresentou-se na Funai fardado e armado, nesta época ele estava em período de prova de livramento condicional de condenação anterior pelos crimes de extorsão, tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo e tortura.

Na realização da Operação Res Capta, durante o cumprimento do Mandado de Prisão Preventiva e de Mandado de Busca e Apreensão, expedidos em contra Enoque, este foi flagrado em posse e porte de uma pistola COLT, calibre .45. Ouvido pela autoridade policial federal, informou que quem lhe deu a arma foi Jussielson Gonçalves Silva.

Complexidade do caso

Apenas os autos principais da investigação superam 3 mil páginas. Há uma multiplicidade de investigados e crimes que precisam ser apurados, cautelares pendentes de cumprimento, perícias, análise dos materiais apreendidos, além de outras diligências pendentes de cumprimento.

“Logo as apurações ainda não foram concluídas, o que é normal. Contudo, o MPF, ao analisar os autos, identificou alguns delitos praticados pelos denunciados que se encontram presos, que já estavam suficientemente esclarecidos para o oferecimento de denúncia”, informou o MPF.

A Justiça Federal autorizou o compartilhamento de todas as provas produzidas ao longo das investigações. Assim, novos procedimentos investigativos serão instaurados para que as apurações possam avançar até se exaurir, a fim de esclarecer todos os fatos e ilícitos praticados pelos réus e por outros investigados. (Com informações da assessoria)

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