03 de Dezembro de 2024
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ARTIGOS/UNICANEWS Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2017, 17:59 - A | A

16 de Janeiro de 2017, 17h:59 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / DANIEL GRADINETTI

O dilema do tímido

Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico



Daniel Grandinetti

 

Tímido não é necessariamente quem fica calado e não interage. Tímido é quem se comporta assim por estar inibido. O tímido gostaria de conversar e interagir, mas não consegue. Contudo, nem sempre reconhece sua inibição. Muitos tímidos não se sabem inibidos. Ao invés, atribuem seu comportamento aos impedimentos do meio. Alegam não haver espaço para se aproximarem e interagir. E creditam essa falta de espaço a uma postura alheia consciente: São os outros que não lhe dão espaço, e eles o fazem conscientemente.

 

O tímido inconsciente de sua inibição projeta nos outros suas próprias dificuldades. As dificuldades que ele próprio cria inconscientemente para si se transformam em dificuldades que os outros colocam conscientemente a ele. Logo, se são os outros que voluntariamente se fecham à sua aproximação, a abertura dependerá apenas deles. E assim o tímido permanece calado e sem interagir, mas à espera de os outros lhe concederam abertura. Olha ao redor como se todos soubessem o que ele quer e, mesmo capazes de suspender o impedimento, decidissem ignorar sua angústia.

 

Para o tímido, são os outros que lhe impedem de aproximar-se. Mas nada os impede de se aproximar dele. Logo, para ele, os outros encontram a via da aproximação liberada, enquanto ele a encontra impedida. Por isso, não há forma de os outros suspenderem o impedimento senão tomando a iniciativa da aproximação. Se ninguém se aproxima, o tímido se ressente. Acredita que todos conhecem seu desejo; crê encontrar-se impedido, e que apenas os outros poderiam aproximar-se. E se mesmo assim ninguém se aproxima, conclui não haver reciprocidade à sua abertura. Ele esteve aberto o tempo todo; os outros é que se mantiveram fechados.

 

Olhando ao redor, o tímido só vê indiferença. Todos se entretêm em rodinhas de bate-papo, rindo e conversando, indiferente a ele, que esteve o tempo todo à espera da boa vontade alheia. Ressentido, sente-se justificado em seu comportamento social. “As pessoas são insensíveis”, ele pensa. “A vida social é fútil. Ninguém vai além das aparências. Ninguém liga para o que os outros realmente sentem”. “Não há espaço para que eu seja eu mesmo na vida social. Não há solução senão me manter reservado”.

 

O tímido gostaria de encontrar abertura para expressar o que sente e pensa. Imagina seu desejo de aproximação como evidente, pois são os outros que lhe fecham as portas, e não haveria necessidade disso caso não houvesse da parte dele a intenção de entrar. O tímido quieto no canto imagina exalar sua intenção de aproximação. É óbvio para ele que todos o sentem. Logo, a razão de ninguém se importar é a indiferença. No sonho em que se encontra preso, a expressão autêntica do que sente e pensa é uma atividade passiva, mediada pelos outros, jamais por ele próprio. E assim ele espera, passivamente, pelo salvador que lhe permitirá satisfazer sua carência de convívio social.

 

Contudo, ao tímido ressentido não basta mais a simples aproximação. Pois, agora, quem não quer mais se aproximar é ele. Ele espera mais; espera, além da aproximação, a insistência que lhe mostre quão importante é sua presença, e o faça sentir-se insubstituível. Por isso rejeita tantos convites. Por isso responde com desdém a tantos sorrisos. Ele se afasta, esperando que alguém lhe puxe pelo braço e lhe traga, emburrado, contrariado, para o centro da festa, e que o adule, o entretenha, até merecer um sorriso amarelo. E assim permanece sozinho, afundando-se em megalomanias.

 

Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico

 

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