Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico
Pedro marcou uma festa em sua casa e incumbiu Paulo, seu irmão, de avisar José, amigo de ambos. Minutos antes da hora marcada, José tomou conhecimento, no grupo de mensagens instantâneas criado para a festa, de que cada um levaria sua própria bebida. José disse a Paulo que ele, tendo sido incumbido de convidá-lo, deveria ter lhe passado toda a informação necessária. Paulo, que também não sabia, disse a Pedro que, como dono da festa, deveria tê-lo notificado desse detalhe. Pedro, por sua vez, alegou que os demais convidados foram avisados porque perguntaram, e que Paulo deveria ter feito o mesmo.
Pedro, Paulo e José possuem, cada um, seu ponto de vista. Os três acreditam estar com a razão. Se o problema fosse colocado ao público, vários pareceres diferentes seriam dados. Alguns dariam toda a razão a José, e nenhuma a Pedro e Paulo. Outros dariam a Paulo a maior parte de razão, e alguma a Pedro e José. Enfim, não haveria consenso, e nem forma de se afirmar categoricamente que algum dos três não possui razão alguma. Todos eles possuem razão, de acordo com seu ponto de vista particular. Assim, se Pedro, Paulo e José se aferrarem a seus respectivos pontos de vista, nenhum dos três cederá terreno ao ponto de vista dos outros, e eles acabarão brigando.
Agora, suponha que o público tenha decidido categoricamente dar razão a apenas um dos três. Mesmo assim, caso esse dono da razão decida se cobrir com ela e rispidamente tirar satisfações com os outros dois, ele cometerá um equívoco. Pois a decisão categórica do publico a favor de um não impede que os outros dois tenham seu próprio ponto de vista e encontrem nele razões para estarem certos. Assim, se eles, resguardados por suas razões, também resolverem tirar satisfações, a briga será inevitável. Além do mais, a razão é equânime, e a equanimidade é conciliadora. Logo, aquele que está com a razão, optando por buscar o confronto ao invés da conciliação, perde a razão que tinha. Pois o confronto destrói a conciliação, destruindo a própria razão, que à conciliação engendra.
Contudo, mesmo sem abandonar a razão, é possível que a conciliação não se faça. Aquele que acredita estar com a razão, mesmo adotando atitude desarmada, pode não conseguir a conciliação desejada caso os demais sejam irredutíveis em seus próprios pontos de vista. Assim, a conciliação exigirá, àquele que acredita estar com a razão, que dela abra mão. Abrir mão das próprias razões não significa necessariamente dar razão aos outros, mas demonstrar compreensão pelo ponto de vista alheio. Abrir mão das próprias razões não significa destituir o próprio ponto de vista de toda razão, mas abdicar do direito que nos é concedido pela posse da razão de contestar junto aos quais consideramos destituídos dela. A abdicação desse direito, associada à explícita compreensão do ponto de vista alheio, reúne o maior potencial de produzir conciliação. Logo, nela reside a máxima expressão de racionalidade.
Não importa quais sejam as razões que alguém acredite ter. Caso se resguarde nelas para imbuir-se do direito de rispidamente cobrar, reclamar ou tirar satisfações com os outros, perderá toda a razão que alguma vez possa ter tido. A razão nos dá o direito de contestar, mas de forma conciliadora, pois quem está com a razão deve buscar a conciliação. Contudo, para que a conciliação se faça, será preciso às vezes abrir mão do direito de contestar. A razão exige que, em nome dela, abdiquemos do direito que ela própria nos concede. Pois o direito de contestar não fornece razão suficiente para a contestação. Somente as mentes mais racionais alcançam esse entendimento.
Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico
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