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ARTIGOS/UNICANEWS Quinta-feira, 02 de Fevereiro de 2017, 10:49 - A | A

02 de Fevereiro de 2017, 10h:49 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / DANIEL GRADINETTI

Remorso e sentimento de culpa

Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico



Daniel Grandinetti

 

Sentimento de culpa não é remorso. O remorso é caracterizado pelo arrependimento. O arrependido assume a responsabilidade por algum mal e sente a necessidade de se retratar. É possível seu julgamento não ser acurado, e que ele assuma responsabilidades indevidas. Igualmente possível é a necessidade de se retratar esbarrar na dificuldade de expressar emoções e pedir desculpas. Nada disso diminui o peso que carrega sobre os ombros. Ele se julga responsável, crê no próprio julgamento e anseia pelo perdão dos que imagina ter prejudicado. Dói-lhe recordar-se do mal que crê ter praticado e se lamenta pelos que acredita terem sofrido por ele.

 

O sentimento de culpa, por sua vez, é caracterizado pelo ressentimento. O culpado não se sente responsável por mal algum, mas carrega o peso de acusações que lhe foram atiradas à face, às vezes repetidamente, ao longo de muito tempo. Ele foi acusado, foi culpado pelos outros. Por isso carrega a culpa, mas não assume responsabilidades. Não sofre pelo mal que o acusam de ter causado, mas pelo ressentimento de ter sido acusado. Pois, sem assumir qualquer responsabilidade, julga improcedentes as acusações contra si. Dói-lhe recordar-se de todas as vezes em que foi acusado, e sofre por pena de si mesmo.

 

O culpado julga improcedentes as acusações contra si, mas apenas de um ponto de vista racional. Ele tem sua própria versão dos fatos, e se esforça por lhes dotar da maior coerência. Contudo, sente-se rejeitado quando acusado. Mesmo acreditando na incoerência da versão do acusador com a verdade, ele se julga abandonado e desejoso de ser acolhido. Para tanto, acredita na obrigação de aceder às acusações e retratar-se da maneira proposta pelo acusador. Esta obrigação, apesar de oprimi-lo de fora para dentro, ele a toma como sua. Sentindo-se rejeitado, rejeita a própria imagem que vê refletida no espelho. Rejeitando a si mesmo, assume a culpa que racionalmente recusa e a obrigação de retratar-se como proposto.

 

A atitude do culpado parece ambígua. Ao mesmo tempo em que reconhece a obrigação de retratar-se, recusa as acusações e repreende o acusador. Mas, na verdade, seu reconhecimento não é sincero; é sarcástico, irônico, ressentido. Reconhece a obrigação de retratar-se como quem aceita punições sabidamente injustas apenas para fazer sentir-se culpado o acusador por lhe ter acusado injustamente. Com seu suplício, espera que o acusador reconheça a gravidade da injustiça que cometeu e lhe procure para pedir perdão. Assim, finalmente, ele se sentiria acolhido novamente. Pois o culpado só reconhece a obrigação de retratar-se em virtude da necessidade de se sentir acolhido. E porquanto rejeita racionalmente as acusações contra si, nada o faria mais acolhido que usar sua retratação contra o acusador para obrigá-lo a retratar-se.

 

Quem se julga mais acusado é quem na verdade mais acusa. Pois o eco ressentido das acusações sofridas, ecoando diariamente em sua alma, é respondido na mesma frequência com repreensões encharcadas de autoindulgência, num diálogo mental que pode perdurar mesmo décadas depois de falecidos os acusadores. Na verdade, não é sequer necessário que os acusadores tenham nascido; não é preciso que eles sejam de carne e osso. Não é raro acusador e acusado serem a mesma pessoa. Há quem, mesmo se julgando responsável por algum mal, não consiga se perdoar. Não se perdoando, não assume de fato responsabilidade alguma e passa a vida fugindo da própria culpa. Encurralado, procura desesperadamente razões para justificar-se, disparando acusações silenciosas contra quem julga ter prejudicado. O culpado não consegue perdoar-se; por isso também não consegue perdoar. Já o arrependido perdoa porque deseja ser perdoado por si e pelos outros. Essa é a principal diferença entre eles.

Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico

 

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