Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico
Todos os dias reprovamos muito do que os outros fazem. E quando suas ações atingem direta ou indiretamente a nós ou a alguém que nos importa, incomodamo-nos. A irritação é uma das formas desse incômodo. Não há dúvida: muitas vezes irritamo-nos por conta de atitudes realmente absurdas, e que merecem reprovação. Contudo, a razão para reprovar não justifica a irritação. Estar com a razão num conflito, por exemplo, não é justificativa para irritar-se.
Mesmo equivocados, esperamos ser compreendidos. O irritadiço nos nega essa compreensão. Logo, a menos que esteja previamente acabado de tanto remorso, mesmo o maior dos pecadores se ressentirá caso tratado com irritação. Estar ciente dos próprios erros não é suficiente para receber impassivelmente o tratamento irritado de quem se julga dono de todas as razões. Pois é assim mesmo que o irritadiço se julga, e que julgamento equivocado! Estar com a razão não significa ser o dono de todas elas, porquanto mesmo quem erra tem suas razões para errar.
Crendo-se dono de todas as razões, o irritadiço se fecha às razões alheias. Ali, no lugar do outro, ele só encontra equívocos e justificativas para condená-los. E ai do pecador que tentar se defender. Pois, que efeito pode ter a defesa de um pecador para quem se acha o dono de todas as razões? Quaisquer razões que se lhe apresente constarão mais como prova de culpabilidade que como atenuantes. Imagina então se o pecador se irritar com a irritação do irritadiço! A irritação de quem não tem razão nenhuma é flagrantemente agressiva. Imperdoável é a agressividade de quem não tem razão alguma para se defender; é gratuita e monstruosa, frutos de pura maldade.
Na posse ilusória de todas as razões, o irritadiço imagina-se banhado em pureza. Suas intenções são retilíneas, sua moral irrepreensível. Crê jamais ter dado razão a nenhum pecador para ser tratado de volta com irritação. “Como pôde ele jamais ter entendido minhas razões para irritar-me?” - ele se pergunta condoído de autocomiseração. “Eu tive motivos!” - completa. Sim, ele os teve, assim como o pecador tivera os seus. No entanto, com a contenda pendendo a seu favor, fora ele, o irritadiço, o primeiro a se fechar às razões alheias. O pecador, mesmo ciente de seus erros, e desejoso de responder por eles, sentiu-se incompreendido. Pois o fato de estar errado não lhe retira todas as razões. E como tratar com quem, irritando-se, fecha-se a quaisquer razões que não as suas?
Foi o irritadiço quem primeiramente julgou monstruosas as ações do pecador. Agora, é o pecador quem julga o irritadiço intratável. E, para todos os efeitos, a irritação do pecador é mais justificada que a do irritadiço. Pois este último tivera a oportunidade do diálogo, a ela se fechando, enquanto ao primeiro jamais fora dada oportunidade igual. Logo, o irritadiço, que estava com a razão na contenda, ao ter se julgado o dono de todas elas acabou sem nenhuma. E o pecador, que iniciara o imbróglio em flagrante desvantagem, saiu-se não apenas redimido por seus erros mas justificado em sua irritação: “Realmente, não dá pra tratar com aquele irritadiço!”.
Dali em diante, em todas as contendas a fama de intratável do irritadiço pesará contra ele, rendendo-lhe desprovido de razão por princípio, mesmo quando claramente estiver com ela. Pois ter a razão a seu favor não é razão para irritar-se. Grande equívoco comete o irritadiço ao apresentar as razões para estar certo como justificativas para sua irritação. A irritação é sempre injustificável, e as razões para isso são práticas: A irritação mata a empatia e corta as pontes do diálogo, diminuindo drasticamente as chances de encontrarmos a melhor solução para uma contenda. Além disso, suas consequências podem prejudicar-nos a longo prazo, colocando-nos em posição desfavorável, mesmo quando estivermos com a razão. Exigir que os outros deixem de nos dar “motivos” para irritarmo-nos é um absurdo. Significa exigir que todos passem a agir conforme nossa cartilha para não nos irritarmos mais. Para deixar de irritar-se, é necessário parar de encontrar na conduta reprovável dos outros razões para a irritação. É compreender, finalmente, que toda irritação é injustificável, mesmo quando a razão está do nosso lado.
Daniel Grandinetti
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