03 de Dezembro de 2024
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ARTIGOS/UNICANEWS Quarta-feira, 08 de Fevereiro de 2017, 11:38 - A | A

08 de Fevereiro de 2017, 11h:38 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / DANIEL GRADINETTI

Se não for do nosso jeito, não serve

Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico



Daniel Grandinetti

 

Não sabemos o que é estar na pele de outra pessoa. Por fora, os outros nos parecem perfeitos, mesmo os que apresentam uma desvantagem qualquer evidente relativamente a nós. Por pior que seja a vida que levem, nada nos parece pior que os motivos para estarmos tão insatisfeitos. Todas as misérias alheias seriam preferíveis, desde que suprida a falta que nos deprime. Este pensamento assusta-nos de vez em quando, e esforçamo-nos por racionalizá-lo. Publicamente, reconhecemos haver dores bem mais graves que a nossa. Contudo, no fundo continuamos a acreditar ser a nossa bem pior que elas.

 

Mas só nos sentimos assim quando abatidos pelo desânimo. E o desânimo nos abate ao não encontrarmos solução para a angústia. A angústia parece insolucionável no enfrentamento de situações inevitáveis que colocam nossa autoestima à prova, e nas dificuldades que se prolongam por muito tempo sem solução. No entanto, a não ser que adentremos num quadro de depressão crônica, vez ou outra vivemos períodos de otimismo, que podem ser muito curtos ou duradouros. Talvez tenhamos nos distraído dos problemas, ou encontrado esperança na ideia de um projeto novo; é possível igualmente esforçarmo-nos por enxergar a coisas por um ângulo positivo ou encontrarmos ânimo no afeto de pessoas próximas. Muitas são as razões possíveis.

 

Independentemente das razões que lhe subjazem, esses períodos de otimismo não são nada altruístas. Se, dominados pelo desânimo, somos cegos para qualquer sofrimento que não seja o nosso, na elação do otimismo não queremos saber de problema algum, nem dos nossos e menos ainda dos outros. Descolamos os pés do duro chão da realidade e projetamos conquistas que finalmente nos trarão paz. Pensamos em todos os detalhes. Para cada ação nossa, antecipamos a resposta ideal - sempre positiva. Sim, há a possibilidade de nos frustrarmos. Mas já aprendemos tanto com os tropeços passados! Agora estamos preparados, sabemos exatamente o que fazer para vencer. As probabilidades de sucesso são bem maiores dessa vez. Entorpecidos nessas ideias, os problemas parecem uma realidade distante - tanto os nossos quanto os dos outros.

 

Esse otimismo eleva vertiginosamente a autoestima. Mas as aparências enganam. A elevação da autoestima é um produto possível de relações humanas reais, e não há fundamento na autoestima que decola no otimismo caucado em fantasias. Aqui, nosso maior inimigo é a realidade.

 

Toda a autoconfiança exaurida do otimismo vertiginoso parece evaporar diante do primeiro contratempo, por menor que seja. Pois, nas alturas da elação, fantasiamos as conquistas vindouras como consequência da ampla aceitação de nossas investidas; aceitação essa jamais obtida anteriormente, mas em cuja possibilidade o otimismo nos induziu a crer. E basta uma resposta menos animadora para nos darmos conta de que não seremos aplaudidos por centenas de pessoas em pé, que nossas ideias não serão imediatamente recebidas como as mais originais e revolucionárias da história, que a garota da qual jamais nos aproximamos não vai simplesmente olhar-nos como se fôssemos o príncipe de seus sonhos, que amanhã não seremos carregados nos braços do povo depois de uma vida inteira sem fazer nada por ele, que as pessoas a quem magoamos não receberão nossas desculpas com largo sorriso e os braços abertos sem nenhuma cicatriz no coração, que os holofotes do sucesso não volverão todos a nós deixando o resto do mundo na penumbra, que não construiremos o mundo ideal em curto prazo, nem adentraremos um novo ambiente social e o transformaremos da noite para o dia de acordo com nossas convicções, e que, enfim, não percorreremos uma centenas de quilômetros num único passo.

 

Não percorreremos uma centena de quilômetros num único passo. Agora parece óbvio que não, mas chegamos a crer nessa possibilidade. Como pudemos acreditar nisso? Mais importante: depois de nos darmos conta da impossibilidade de percorrê-los assim, por que deixamos de acreditar em outras formas de fazê-lo? Quer dizer que se não for possível percorrê-los num único passo, não será possível percorrê-los jamais? O desânimo que novamente nos abate induz-nos a acreditar que sim.

 

O mundo não nos abraça com a facilidade, a intensidade e a rapidez esperadas. Ele nos abraça de formas mais tortuosas, mornas e vagarosas... às vezes muito vagarosas. Mas, se não for do nosso jeito, não serve.

 

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