10 de Julho de 2025
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ARTIGOS/UNICANEWS Quinta-feira, 17 de Novembro de 2016, 11:27 - A | A

17 de Novembro de 2016, 11h:27 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / DANIEL GRADINETTI

A melancolia dos solteiros com mais de trinta

Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico



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Nossos valores mudaram, e com eles a dinâmica das relações amorosas. Até pouco tempo atrás, um casamento ou noivado só era rompido em situações drásticas. O casal não via no horizonte a abertura social e cultural para terminar seu compromisso. Assim, os desentendimentos e o desgaste natural dos anos não lhes colocava de maneira factível a possibilidade do término. Era necessário adaptar-se e aprender a conviver com as divergências ou passar o resto da vida numa relação insatisfatória. E não foram poucos os que, incapazes de equacionar suas diferenças, de fato viveram até o fim numa relação infeliz.

 

Atualmente, a possibilidade do término é aceita praticamente sem restrições. Não importa se o casal está noivando, se já está casado há pouco ou muito tempo, se possui filhos ou não. O término não é mais um tabu. Entre as diversas mudanças acarretadas em nosso estilo de vida por essa transformação cultural, há uma que vem chamando minha atenção na clínica: o número de pessoas que já passaram dos trinta, quarenta e mesmo cinquenta que estão solteiras - e infelizes. Se há três décadas era raridade encontrar alguém solteiro depois dos trinta, hoje isso já é quase a regra. Porém, são poucos os que encaram o fato com naturalidade. A maioria se comparara com os outros e avalia mal sua solteirice. Enquanto os demais - assim dizem - já estão todos casados ou namorando, eles ainda estão sozinhos. Logo - concluem - deve haver algo de errado com eles.

 

Há duas observações que gostaria de fazer. Primeiramente, esses solteiros ignoram o fato de muitos deles já terem sido ou casados ou comprometidos por muito tempo. Levando esse dado em consideração, a tese da “exceção à regra” já se enfraquece deveras. Contudo, recordando-lhes deste fato, eles respondem que seu compromisso já terminou, e que uma relação findada é geralmente recordada com pesar, mesmo que tenha sido boa a maior parte do tempo. Logo, ela não deve ser comparada com a relação feliz que eles atribuem aos outros. Mas assim como seu casamento ou compromisso um dia chegou ao fim, muitos dos casais cujo exemplo eles utilizam para se autoproclamarem “solteiros num mundo de casais” também se separarão algum dia (a isso somos levados a crer pela atual conjuntura). E assim como sua própria relação teve percalços, os casais que eles sempre veem aos beijos e carícias também têm os seus. Os solteiros com mais de trinta sofrem porque idealizam a relação alheia. Olham para os casais à sua frente e atribuem a eles a felicidade, a estabilidade, a intimidade e a segurança que jamais conseguiram encontrar nas suas próprias relações.

 

Minha segunda observação pode desagradar a muitos, mas condiz com os fatos: Relações de amor e amizade foram feitas para terminar um dia. As exceções são raras. Se durante muitos anos ou séculos os casamentos foram estáveis, isso se deveu a um condicionamento social bem fortalecido em poderosas crenças religiosas. Com a transformação cultural que experimentamos, romperam-se as correntes que mantinham as pessoas artificialmente presas umas às outras, e as relações começaram a seguir seu curso natural: o término. No entanto, a única relação geralmente considerada como “tendo dado certo” é a que acaba com a morte de um dos parceiros. As outras, ainda que tenham sido felizes a maior parte do tempo, contam entre as que “deram errado” se porventura acabaram pela ação voluntária de uma ou de ambas as pessoas envolvidas. Logo, quem bate à porta dos trinta na solteirice em geral se considera um fracasso em termo de relacionamentos, visto ter falhado em conduzir pelo menos um deles até a atualidade e a um possível “até que a morte os separe”. E ainda que tenha sido infeliz em todos eles, em que isso lhe faz um fracassado? Por acaso todas as relações que duram até a morte são felizes? Por acaso os casais vistos aos beijos e abraços em público são todos felizes? Só nos tornamos adultos quando aprendemos a distribuir sorrisos mesmo afogados em melancolia. Do contrário, ainda prevalecerá em nós a autenticidade infantil.

 

Levar um relacionamento até a morte não é uma vitória a menos que o percurso tenha sido feliz para ambos. Ter no histórico muitos rompimentos também não indica qualquer indisposição genética para relações. Por acaso os que hoje trocam sorrisos e beijos em público também não carregam histórico semelhante? E por acaso as carícias com que nos presenteiam é indicativo de que são felizes e de que sua relação durará para sempre? Uma relação feliz e duradoura é o ideal de muitos e a realidade de poucos - muito poucos. Não é impossível, mas difícil; e certamente não transforma em fracassados os que não conseguiram alcançá-la. Contudo, aos trinta, quarenta, cinquenta anos ou mais ainda é cedo para tanto derrotismo. Se uma relação feliz e duradoura é o que se deseja, não há alternativa senão aceitar as decepções como parte do jogo e continuar tentando.

 

Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico

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