01 de Julho de 2025
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ARTIGOS/UNICANEWS Segunda-feira, 03 de Outubro de 2016, 10:01 - A | A

03 de Outubro de 2016, 10h:01 - A | A

ARTIGOS/UNICANEWS / DANIEL GRADINETTI

Nada mais humano que persistir no erro

Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico



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Diz o ditado: “Errar é humano, persistir no erro é burrice”. Não é bem assim. Nada é mais humano que persistir no erro. O aprender com os próprios erros e o consequente evitá-los futuramente está entre os eventos mais raros de nosso cotidiano. Ratos de laboratório, por exemplo, ao pressionarem uma barra que lhes dá choque não voltam a pressioná-la, e continuam procurando por comida acionando outros mecanismos. Se nós seres humanos fôssemos ratos de laboratório, agiríamos diferentemente.

 

Ratos são movidos apenas pelo desejo de sobrevivência, e não titubeiam ante a necessidade de se adaptar aos obstáculos ambientais. Nós somos movidos por convicções. Acreditamos saber como as coisas devem ou deveriam ser; e quando elas (as coisas) se comportam contrariamente ao que esperamos, exigimos que elas mudem. Mesmo após levar vários choques, um rato de laboratório humanoide, movido pela convicção de aquela barra ter de lhe entregar alimentos, continuaria pressionando-a sem cessar. “As coisas não deveriam ser assim” - pensaria ele. “Essa barra deveria me entregar alimentos”. Mas ela só lhe dá choques. Para explicar isso, o rato humanoide seria capaz de fornecer diversos argumentos que, finalmente, ele concluiria assim: “Não sou eu que estou errado em pressionar a barra. A barra é que está errada em dar choques ao invés de alimentos. Portanto, se eu continuar a pressioná-la, por fim ela se corrigirá e entrará nos eixos”. O rato humanoide acredita que se persistir agindo de acordo com o que ele pensa sobre como as coisas deveriam ser, e não de acordo com o que elas são, elas acabarão “entrando nos eixos”. Ele reconhece que tomar tantos choques é errado, mas a culpa não é dele: ele erra porque as coisas não são como deveriam ser; se fossem, suas ações teriam o resultado esperado. Logo, ele deve continuar agindo como sempre, até que as coisas se consertem. É como se dissesse: “Se eu persistir no mesmo erro, acabarei acertando”.

 

O rato humanoide acredita ter a posse de algo que o rato comum jamais conheceu: a verdade. De posse da verdade, ele julga as coisas como certas ou erradas. As coisas erradas são as que se desvirtuaram do caminho da verdade. Logo, caso ele, o rato humanoide, aja sobre elas de acordo com a verdade que elas deveriam seguir, dia menos dias elas voltam ao caminho correto. Dessa forma, o rato humanoide se torna violento, mas movido pelas melhores intenções, já que acredita agir apenas em virtude do melhor para todas as coisas. Pois, enquanto o rato comum se adapta ao ambiente, o rato humanoide se esforça por transformar o mundo de acordo com a verdade. O rato comum adapta-se à barra que lhe nega alimentos não a pressionando mais; o rato humanoide tentar tirar dela o alimento à força, acreditando saber o que ela deveria lhe entregar, e insistindo em pressioná-la até que ela se comporte “como deveria”. Em muitas ocasiões, o ratohumanoide obtêm êxitos. Sua obsessão em transformar o mundo de fato o transforma, e ele desenvolve saberes e tecnologias que aproximam sua vida do que ele sempre quis. Porém, as consequências de suas investidas violentas, além de vitimar o mundo, vitimam igualmente aos da sua espécie.

 

Fora do laboratório, o rato humanoide é um animal cuja sociabilidade implica controlar seus semelhantes. A verdade que ele acredita possuir não lhe instrui apenas sobre como os equipamentos laboratoriais devem se comportar; lhe instrui também e, principalmente, sobre como seus semelhantes devem se comportar. O rato humanoide desenvolve estratégias de intimidação as mais diversas para se assegurar de que os outros se comportem como ele deseja. Sua ambição não tem limites: Seu raio de ação vai desde o núcleo de sua família, passando por suas relações românticas e sociais, na direção de seu ambiente profissional e político. Em todas essas esferas, a verdade que o rato humanoide acredita possuir lhe dita diretrizes que devem ser seguidas por todos.

 

Se fôssemos ratos de laboratório, pareceríamos irracionais a quem estivesse nos estudando. Ficaria claro ao investigador que a chave para a explicação do nosso comportamento é essa “verdade” que nos faria pressionar incessantemente a barra do choque à espera de ela nos dar algo que não fossem mais choques. “De onde foi que esse rato tirou essa tal de “verdade”?” - ele perguntaria. Essa, meu caro investigador, é a pergunta que não quer calar.

 

Daniel Grandinetti - Psicólogo clínico

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