Daniel Grandinetti - Psicólogo Clínico
A experiência é a fonte da sabedoria. Não há sabedoria sem experiência, por isso é raro um jovem se mostrar sábio. Crianças demonstram inteligência desde o berço. Inteligência, carisma e espirituosidade não precisam de experiência para se desenvolver. A sabedoria, por sua vez, é nutrida pela experiência.
O sábio enxerga longe. Sabedoria é a capacidade de antecipar as mais diversas ramificações de consequências de uma ação em curto, médio e longo prazo. Por isso o sábio é pacifista, generoso e amigável. Ele sabe que, a despeito das aparentes consequências positivas imediatas da hostilidade, as de médio e longo prazo comprovam sua ineficácia. A hostilidade é a reação defensiva contra o medo. Mostramo-nos hostis ao nos sentirmos ameaçados, e apenas a proximidade faz algo parecer ameaçador. À distância, tudo parece inofensivo, e sentimo-nos protegidos. Enxergando longe, a visão do sábio transcende o perímetro do medo para conhecer a natureza inofensiva de tudo que, aos olhos do ignorante, parece ameaçador.
Mas a sabedoria é filha da experiência. Assim, mesmo o maior sábio nasce desprovido da capacidade de enxergar longe. Por isso, até ele precisa enfrentar o medo quando jovem. É no enfrentamento do medo que a sabedoria se constitui. Enfrentá-lo é enfrentar o que nos ameaça; o enfrentamento exige a proximidade, mas o medo mantém tudo distante. Se por um lado só a proximidade torna algo ameaçador, por outro o medo mantém as ameaças o mais longe possível. É como se a ameaça estivesse a um palmo do nariz mas não abríssemos os olhos para vê-la. Sábio é aquele que abre os olhos e enxerga além dela.
Poucos são os que fazem isso. Por isso são poucos que, experientes, se tornam sábios. A experiência é necessária à sabedoria, mas não é suficiente. É necessário entrar em contato com o que nos ameaça: vê-lo, tocá-lo, cheirá-lo. Para conhecê-lo, é preciso se lhe aproximar; e para tanto, é preciso baixar a guarda e sair da defensiva. Quem adota essa postura acumula sabedoria com a experiência; os demais acumulam apenas experiência.
A experiência sem sabedoria é a enciclopédia da desconfiança, do despeito, do orgulho ferido. Quem dita suas lições é o medo, e quem as coloca em prática é a hostilidade. A sabedoria torna a experiência leve como uma pluma; o sábio nem sente carregar sobre os ombros o peso do passado. Já a experiência sem sabedoria torna a experiência acumulada um fardo. O ignorante experiente traz sobre os ombros anos de medo jamais enfrentados. A sabedoria volatiza a experiência; o medo a acumula. O ignorante teme sofrer novamente, mas não enfrenta seu medo. Ao invés, se permite apoderar por ele. Desconfiado, mostra-se hostil desde o início a pessoas e situações novas, não recebendo as respostas positivas que esperava. Sente-se desrespeitado, e substitui a atitude desconfiada pela despeitada. O teor negativo das respostas que recebe aumenta. Então, afasta-se com o orgulho ferido, culpando as pessoas e as situações, e convencendo-se da necessidade de ser mais desconfiado ainda na próxima vez. Continuará caminhando num círculo ascendente de desconfiança, despeito e orgulho ferido até que a depressão o abata ou que se decida, finalmente, ao enfrentamento de seus medos.
Enquanto a sabedoria transcende o medo, a ignorância enxerga ameaças por todos os lados. Por isso, ela é intolerante e paranoica. Desconfiada, desembainha sua espada ao menor sinal de perigo, e faz logo um estardalhaço. Despeitada, logo escolhe culpados e se faz de vítima. Orgulhosa, não aceita que lhe contestem, e despreza quem pensa diferente dela. Tempos curiosos esses em que os maiores ignorantes se passam por sábios. A sabedoria está em baixa. Mas, sejamos sábios e enxerguemos mais longe. O dia da sabedoria virá. Por ora, deixemos a ignorância sob os holofotes.
ENTRE EM NOSSO CANAL AQUI
FAÇA PARTE DE NOSSO GRUPO NO WHATSAPP E RECEBA DIARIAMENTE NOSSAS NOTÍCIAS! GRUPO 1 - GRUPO 2 - GRUPO 3